sexta-feira, 14 de junho de 2013

Inteligência




Desde muito tempo os cientistas estiveram convencidos que inteligência e cérebro grande tinham relação biunívoca, isto é, um está intrinsecamente ligado ao outro. Se há cérebro grande existe inteligência, se há inteligência esta está relacionada ao tamanho de cérebro. Contudo, essa relação que a muitos parecia óbvia, estava eivada de preconceitos. Como eram europeus brancos que primeiro formularam a teoria, eles naturalmente se achavam mais inteligentes que outros – negros, asiáticos e não brancos de todos os matizes – então convencionaram que seus cérebros eram grandes e suas inteligências brilhantes. Eles tinham certeza que possuíam os maiores cérebros humanos e que as mulheres jamais seriam tão inteligentes quanto os homens porque seus cérebros eram menores. Santo preconceito!
O que a ciência acabou descobrindo efetivamente é que dentro de uma mesma espécie o tamanho cérebro tem pouca importância, porque a variação da inteligência de um indivíduo a outro é muito pequena. Já entre espécies, o tamanho do cérebro pode ser significativo apenas se for medido o peso do cérebro em relação ao corpo do animal, porque, uma parte enorme de qualquer cérebro é dedicada aos detalhes cotidianos da manutenção do corpo – coisas como contrair músculos, mover os intestinos, sentir sensações na pele, eriçar pelos. Amplie o animal e teremos mais território para administrar, mais músculos para acionar, mais pele para monitorar, necessitando, desse modo, mais matéria cinzenta para meramente funcionar. O fato que um veado tem cérebro maior que um rato não significa, necessariamente, que é mais inteligente, porque seu corpo pode pesar milhares de vezes mais, sendo, portanto, mais difícil de administrar.
Diz a ciência, subtraia as partes do cérebro relativas à manutenção do portador e o que resta é a única coisa que interessa, porque os neurônios “extras” podem integrar informações do mundo exterior em abstrações – capacidade que pode ser, grosso modo, uma definição de inteligência. A partir dessa premissa, fez-se um estudo completo do peso cerebral relativo dos vertebrados e descobriu-se que peixes, anfíbios e répteis formavam uma linha crescente num gráfico, mas que aves e os mamíferos formavam uma linha bem mais elevada. Para aqueles que costumam dizer que galinhas não são inteligentes foi um balde de água fria - talvez as galinhas sejam tão inteligentes que se neguem a demonstrar isso. Em outras palavras, um mamífero pode pesar o mesmo que um réptil, mas tem um cérebro dez vezes maior.
O tamanho relativo do cérebro é um indicador seguro do grau de inteligência entre as espécies, mas para definir com certa precisão a diferença entre os mamíferos é necessário apurar melhor essa medição. A ciência reuniu dados suficientes para estabelecer qual o tamanho ideal do cérebro para certa massa corporal. Ou seja, qual o peso médio “devia” ter um cérebro de um mamífero de determinado peso. Então todo peso cerebral que excedesse o peso médio de um animal era fatorado em que porcentagem encontrava-se acima ou abaixo, e a este índice deu-se o nome de QE (quociente de encefalização). Se um animal apresentar um QE de 1, por exemplo, significa que ele tem todo aparato intelectual para levar uma vida padrão de mamífero. Se o QE for maior que 1, ele dispõe de neurônios “livres” para ser “criativo”, se e quando este termo se aplicar àquele mamífero. Não é preciso dizer que o QE humano é de 7,06, índice muitos pontos acima do mamífero em segundo lugar - surpreendentemente o boto tucuxi com QE de 4,56. Quem diria, aquele animal que, segundo uma lenda amazonense, sai da água e engravida moças ribeirinhas é um carinha prá lá de inteligente!
Mas alguns pesquisadores assinalaram que simplesmente ter um conjunto de neurônios “sobrando” não produz automaticamente inteligência. As interações do animal com seu ambiente social são tão importantes quanto um QE alto. Assim, um animal que tenha que correr todos os dias atrás de sua caça tende a ser mais inteligente que aquele animal que simplesmente espera que o alimento chegue até ele. Um sapo contemplativo que espera a mosca entrar no raio de ação de sua pegajosa língua, por certo deverá ser menos inteligente que a lagartixa que embosca insetos na parede.
Contudo devemos lembrar um importante pormenor, os parâmetros que medem a inteligência são todos humanos, ninguém parece lembrar que a “inteligência” de outros animais pode obedecer a outros critérios que nem sequer imaginamos. Então, qualquer número inteligencial que possa surgir desses raciocínios humanos pode não ter qualquer validade quando se mede a inteligência de uma formiga, por exemplo. Já que formigas podem obedecer a medidas diferentes, a escalas métricas dos Himenópteros (olhaí meus estudos de entomologia entrando em ação). Para que as cogitações humanas possam ter verossimilhança, necessário é que o homem deixe de se julgar o centro do universo e admita que cada um no seu quadrado. Ou cada bicho com seu parâmetro. JAIR, Floripa, 22/04/2013

3 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Bola na caçapa. Em relação aos insetos, espero que um dia seja convencionado um "índice de sociabilização", que meça a "inteligência coletiva" das espécies. Abelhas, formigas e cupins dariam no quesito uma surra de criar bicho nas demais espécies - incluindo o orgulhoso Homo Sapiens Sapiens.
Abraços.

Leonel disse...

Como falou o velho mestre, não se deve medir a inteligência de uma abelha, mas de uma colméia. Cada inseto é apenas uma célula deste organismo.
Quanto ao nosso amigo boto, o coitado levou a culpa pelas puladas de cerca de muitas meninas ribeirinhas...
Hehehehe!
Abraços, Jair!

Tais Luso de Carvalho disse...

... pois é, estou pensando como se mede a inteligência de algumas pessoas que dirigem nosso pais! Vou pesquisar.