sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre ouro


O fascínio que os metais nobres, especialmente o ouro, exercem sobre as pessoas é uma constatação milenar. Praticamente todas as culturas e civilizações antigas descobriram e usaram esse metal, independentes umas das outras. Parece que o brilho e a raridade do elemento contribuíram para que a ele fossem atribuídas propriedades que trariam prestígio e poder para quem o possuísse, independente de sua utilização prática na confecção de objetos. A alquimia e a busca da pedra filosofal nada mais eram que emprego da noção equivocada de obtenção de ouro através da transmutação de metais inferiores, em geral do chumbo.

Portanto, por que ouro é um metal precioso? Pela raridade? Por que é brilhante em estado natural? Nem uma nem outra resposta. Claro que é brilhante em estado natural e relativamente raro, não se encontra ouro em qualquer lugar. Contudo, esse metal só é precioso porque não se combina facilmente com outros elementos e não é atacado pelo oxigênio, ou seja, não oxida como o ferro, por exemplo. É um metal nobre, que, por analogia à nobreza humana, não se mistura com metais comuns da tabela periódica dos elementos. A nobreza do ouro e de outros metais encontra-se no nível atômico, mas não é o escopo desse texto tentar explicá-la.

Enquanto o ouro puro – de 24 quilates - é de um amarelo forte, pode ser conseguida uma ampla variedade de cores para uso industrial ou na fabricação de jóias e adereços. Há inclusive ouro rosa, branco, verde, azul ou cinza, resultado da mistura com metais diferentes.

Por exemplo, quando a prata e o cobre são adicionados ao ouro puro, ele permanece amarelo, ainda que mais esmaecido que a cor original. Quando níquel ou paládio (ou zinco e cobre) são adicionados, o ouro se torna branco. O ouro puro combinado com cobre, prata e zinco resulta em ouro verde. E o ouro rosa é feito quando o cobre é misturado com ouro puro.

Por que se mistura o ouro com outros metais? Em princípio, a cor resultante da mistura de outros metais ao ouro é um subproduto, a mistureba tem intenção de modificar as propriedades mecânicas do ouro. Ao sair puro da mina convencionou-se que o metal tem 24 quilates, sendo que quilate é medida de pureza, ou de quantidade como explicam os entendidos: 24 quilates significam 100% ouro na amostra considerada. Por outro lado, ouro puro, de 24 quilates, portanto, não possui boas propriedades mecânicas como tenacidade, embora tenha uma maleabilidade excepcional. Maleabilidade é uma brandura que permite que o metal seja transformado em lâminas muito finas sem perder a coesão entre as moléculas. Aliás, o ouro é o metal que permite a confecção das mais finas lâminas possíveis, algo como 23 micra, ou seja, vinte e três milésimos de milímetro. Ao ser misturado o que se procura é um metal mais duro, mais tenaz, capaz de ser moldado, mas sem perder o brilho e a nobreza de não ser atacado pelo oxigênio.

Pois bem, temos então o ouro “geneticamente modificado” pela adição de metais e o qual permanece nobre, mas qual é a quantidade de elemento estranho que se mistura a esse metal? Desde que se conhece o ouro, o homem sempre o usou e misturou das mais diferentes formas e nas mais variadas proporções, contudo, na Europa moderna foram fixadas normas e proporções de mistura com intuito de uniformizar e padronizar as ligas resultantes das misturas. Assim, ficou estabelecido que ao se adicionar um terço do peso inicial do ouro em metal diverso, o ouro se torna de dezoito quilates ou 750 de pureza, como alguns usuários gostam de dizer. Por exemplo, se você tem nove gramas de ouro puro e adiciona três gramas de prata, resulta doze gramas de ouro 18 quilates ou ouro 750, simples, não?

Na maioria dos países, convencionou-se que ouro usado em jóias deve ter dezoito quilates, ou seja, uma mistura tal que proporcione à amostra 75% de ouro e 25% de outro metal. Alguns países, como Portugal, determinam que a mistura da liga esteja em tal proporção que o ouro se torne de vinte e dois quilates, mas é difícil encontrar ouro nessa proporção. Nos EUA é comum encontrar jóias de 14 K e até de 10K, numa proporção que, a rigor, significa que a liga tem mais elemento estranho do que o precioso metal.

Já que falamos de quilates (Karation, do grego) é interessante esclarecer que quilate de metal precioso não tem nada a ver com quilate (Qirat, do árabe) de pedra preciosa lapidada. Qirat ou quilate de pedra preciosa é peso, isto é, um quilate corresponde à quinta parte do grama, assim, cinco quilates equivalem a um grama. Por exemplo, quando se fala de um rubi de dez quilates está se afirmando que o rubi pesa dois gramas, nada mais que isso.

Pois bem, qualquer ouro que não seja 24 K, é uma liga, tão mais nobre e valiosa quanto menor for a proporção de metal forasteiro que se adicionou. Mas, ainda existem na confecção de jóias e bijuterias finas, os banhos e chapeamentos de ouro, os quais consistem em dourar por imersão ou cobrir com uma delgada camada um metal comum e dar a ele uma aparência de ouro.

É claro que a maior porcentagem, cerca de noventa por cento, de ouro lavrado no Planeta se destina a “reservas”, seja na forma de barras ou moedas, e o resto se transforma em jóias para satisfazer a vaidade humana ou vai para indústria. As chamadas reservas são lastros que, antes do acordo de Bretton Woods, queriam dizer que todo dinheiro emitido pelo poder público, obrigatoriamente, tinha que ter o seu valor correspondente em ouro nos cofres do governo. O ouro guardado servia de lastro para o dinheiro circulante no país. Por isso era denominado lastro-ouro. Porém, depois do acordo de Bretton Woods o lastro das moedas passou a ser a riqueza produzida pelo país, e não o ouro depositado no Banco Central, no caso dos EUA, no Fort Knox. Mas, mesmo assim, a reservas continuam a existir e salvam certos países da bancarrota como aconteceu com a Rússia depois da queda do regime comunista. Há também a lei econômica da oferta e demanda, a qual determina que se a oferta do produto aumentar seu preço diminui, então é natural que as grandes reservas fiquem retidas para evitar a queda do preço o que geraria um caos econômico. Na indústria, certos circuitos eletrônicos delicados e espelhos de precisão como o do telescópio Hubble são fabricados com alguma quantidade de ouro, de forma que mesmo que não sejamos vaidosos ou não tenhamos poder aquisitivo para usar adornos de ouro, esse metal sempre estará em nosso entorno, facilitando o fluxo da vida civilizada. JAIR, Floripa, 13/11/10.

5 comentários:

Entrevidas disse...

Gostei muito de saber algo sobre o ouro, este poste me matou varias curiosidades a respeito. Obrigada Amelia

Leonel disse...

Será que eu entendi bem a aula?
Então, uma amostra de ouro:

24k =ouro puro,
21K= 1/8 metal+7/8 ouro,
18K= 1/4 metal+3/4 ouro,

proporções aplicáveis a qualquer peso.

É isso mesmo?

Valeu, Jair, pois eu nunca soube realmente o significado dos tais quilates do ouro e os confundia com os quilates-peso das pedras preciosas!

JAIRCLOPES disse...

Perfeito Leonel,
Embora o texto não tenha sido escrito para ser didático, você como esntendedor master, captou os significados de quilate-peso, conhecido por Karat e quilate quantidade de metal precioso, conhecido por Quilate mesmo. Abraços, JAIR.

J. Muraro disse...

Muito interessante, a maior parte do tempo a gente convive com as coisas e objetos e não se dá conto de onde vêm e como são, você esclarece bem tudo que escreve, gostei.

Camila Paulinelli disse...

Olá,

Ótimo saber mais sobre este metal tão bonito!

Bjos da Nora,