sábado, 27 de novembro de 2010

A religião de Hitler


O nazismo foi o que mais próximo de uma religião nacionalista pode existir. Hitler chegou a dizer para seus seguidores: “Somos mais uma religião que um movimento”. Ele achava que a função do ministro da propaganda, Joseph Goebbels, não era divulgar informação, mas convencer a população sobre a “verdade” do nacional socialismo e pregar “fé incondicional” em tudo que emanasse daquele movimento.

Nascido e educado como católico, Hitler frequentemente costumava recorrer às imagens cristãs para suas analogias. Gostava de se comparar a Jesus ou, num estilo mais judaico, ao Messias prometido. Considerava que as tropas SS (Schutzstaffel) eram sua versão pessoal da Companhia de Jesus. Claro que ele e seus seguidores não tinham interesse nas metas universais do cristianismo, nem passava pelas suas mentes doentias serem misericordiosos e tementes ao Deus cristão. Hitler, ciente da força das igrejas, tomou medidas para restringir o papel delas junto às comunidades alemãs. Contudo, numa atitude de quem concordava que “a religião é o ópio do povo” (Karl Marx), tratou de criar uma base religiosa adequada ao nazismo referindo suas origens às crenças germânicas pré-cristãs. Criava assim a “religião” nacional socialista. Para ele e seus adeptos, o nazismo representava a volta às origens da cultura das antigas tribos teutônicas, guerreiros pagãos que haviam, inclusive, enfrentado as hostes romanas e vencido. Como a cruz representa o cristianismo, a nova religião nazista precisava de um símbolo, então o próprio Hitler sugeriu a suástica. A suástica ou cruz gamada é um símbolo místico encontrado em muitas culturas em tempos diferentes, dos índios Hopi aos Astecas, dos Celtas aos Budistas, dos Gregos aos Hindus e, em geral, representa a fertilidade. Para Hitler, a cruz gamada foi adotada apenas por ser uma logomarca forte, facilmente reconhecível e possível de ser reproduzida por qualquer pessoa.

Numa coerência maldita, o Monstro era fascinado pela guerra e pelo nacional socialismo como religião da guerra. Como afirmam alguns historiadores, grande parte de suas ideias e convicções foram forjadas nas trincheiras do front durante a Grande Guerra de 1914-18. O mísero cabo-estafeta viu milhares de corpos de seus companheiros serem empilhados, depois milhares de outros que os substituíram também serem empilhados, até que uma cegueira parcial causada por gás mostarda o enviou ao hospital em Berlim, onde pode conviver com mutilados, loucos e cegos, e formular aquela ideologia que levaria o mundo à maior guerra da história.

Há consenso entre os estudiosos que, para Hitler, a guerra foi uma experiência de intensidade religiosa. Totalmente puritano em sua devoção à guerra, ele depois escreveu em Mein Kampf que as trincheiras eram “conventos com paredes de fogo”. Vale lembrar que o odioso homem era abstêmio e vegetariano, fortes indícios de pessoa obstinada e de convicções arraigadas.

Assim, a religião nazista não acatava a lógica tradicional cristã que Jesus foi morto pelos judeus, para dar embasamento ao extermínio dos judeus. Na teologia nazista, o crime dos judeus foi ter traído a Alemanha na guerra, a famosa “punhalada nas costas” que Hitler gostava de citar para justificar a derrota alemã. Para eles não importava que os judeus houvessem lutado bravamente na guerra; não importava que os judeus vivessem em harmonia com outros povos da Europa central, inclusive alemães, desde muito antes da criação da própria Alemanha em 1871. Para Hitler o que importava é que eles eram uma odiosa lembrança da derrota e humilhação alemã. E, principalmente, para os alemães recuperarem sua antiga pureza como guerreiros Männerbund, precisavam apagar para sempre essa marca que maculava suas almas: tinham que exterminar esse povo em nome da religião nazismo.

Como qualquer outra religião, o nazismo possuía doutrina rigorosa, adotava rituais próprios, possua seus cantos de louvação, tinha seus dogmas e prometia bem-aventuranças futuras. Em tudo parecida com religiões monoteístas formais, a religião nazista adotava hierarquia canônica tendo o führer como Profeta, Messias e Papa, uma santa trindade incontestável. Abaixo vinham os cardeais, bispos, cônegos e párocos que se encarregavam do proselitismo e do fiel cumprimento de seus ritos por parte dos seguidores. Seguidores estes, tão convictos das verdades pregadas quanto o são os seguidores cristãos, por exemplo. Ainda, como grande parte das demais religiões, os adeptos do nazismo eram submetidos aos ritos de passagem, equivalentes aos batismos dos cristãos e judeus.

A grande sacada de Hitler conseguindo formular o nazismo à feição de religião, foi poder usar as convicções inerentes às crenças que estabelecem o bem e o mal em campos opostos. Assim, quem não era nazista era contra a religião que representava o bem sobre a terra, era um adversário, mais até, um perigoso inimigo que adotava uma religião “do mal”, o qual estava do outro lado do balcão e deveria ser eliminado. Não é a toa que os homens dos Freikorps e Einsatzgruppen não sentiam o menor remorso em atirar a sangue frio em criancinhas de colo, velhos, mulheres e inválidos, eles estavam, como cruzados da era medieval, agindo em nome de Deus. E, como sabemos e as “guerras santas” não nos deixam esquecer: em nome de Deus tudo pode. Por isso tudo, Osama Bin Laden nem original é.

Hitler tinha uma visão messiânica de sua pessoa e, segundo historiadores, isso se deve às várias vezes que ele salvou-se da morte. Desde ter sobrevivido nas fronteiras da grande guerra, até os atentados a que foi submetido na sua carreira política. Essa visão equivocada de si mesmo fornecia o embasamento no qual “fundou” a mais letal visão religiosa de todos os tempos. O mundo nunca mais esquecerá o resultado dessa religião estúpida e mortífera. JAIR, Floripa, 27/11/10.

6 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- A 1.ª Divisão SS Leibstandarte (SS Adolf Hitler), a mais famosa, nasceu da Guarda Pessoal de Hitler e formou o alto clero desta "religião" do diabo.
- Parabéns, Jair... vc se superou - não em termos de conhecimento histórico ou sua análise, mas na forma de transmiti-los... texto nota mil!

Leonel disse...

Excelente análise do fenômeno do nazismo, que parece uma história de ficção-científica!
A suástica além das origens indianas, também foi usda como emblema pelos cátaros, seita cristã renegada pela igreja católica, que surgiu na França no século XI.
Mas Hitler teve mesmo muita sorte ao escapar de diversos atentados, motivo para se julgar um predestinado.
A sua visão do nazismo é compartilhada por Jacques Bergier (O Despertar dos Mágicos).
Que o teu texto sirva de alerta!
Abraços!

J. Muraro disse...

Jair,
Fico impressionado e grato pelos teus textos. Você sempre traz algo sob o ponto de vista inusitado dos que conseguem interpretar fatos e eventos. Em história então, a surpresa se faz presente. Parabéns e continue assim.

Sturtz disse...

Oh Jajá.
Acho que você está muito critico em relação ao tio Adolf.
Como você diz até o seu Obama está....................
Li também a saga do Liberator. Já conhecia a história mas é sempre bom recapitular.

Um grande abraço.
STZ

Anônimo disse...

Tem um livro que esta fazendo maior sucesso é o "VERDADEIRA FACE DOS LIDERES RELIGIOSOS" ele fala e critica desmascarando tanto o Bispo Edir Macedo e do Profeta William M. Branham, uma material que pode ser baixado gratuitamente no 4shared.
O autor é Marcos Tadeu Cardoso.
O website dele é http://www.marcostadeucardoso.blogspot.com

Anônimo disse...

Infelizmente esse texto foi escrito em cima de divagações a gosto. Recomendo estes artigos fundamentados.

http://fimdafarsa.blogspot.com.br/2015/10/refutando-elisson-freire-e-o-falso.html

http://fimdafarsa.blogspot.com.br/2013/09/o-nazismo-nasceu-do-protestantismo.html

http://fimdafarsa.blogspot.com.br/2015/09/igreja-protestante-nazista-vive-dilema_25.html

http://fimdafarsa.blogspot.com.br/2015/09/fundacao-judaica-encontra-documentos.html

Um abraço.