quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Mineiro





Adriano.


A inexorável marcha da civilização compulsou o homem, cada vez mais, a demandar os chamados recursos naturais para atender as necessidades da construção do progresso, seja lá o que isso for. Desde os materiais imediatos e de fácil obtenção como madeira, cipós, folhas, pedras, couro, ossos e terra para construção de abrigos temporários e utensílios domésticos, até minérios, cujos empregos para fabricação de armas e artefatos civis, requeriam certa “tecnologia” que era desenvolvida na medida das necessidades. Materiais encontráveis primeiramente a flor da terra, permitiram que o Homo alcançasse um patamar de sofisticação que, paradoxalmente, exigiu sua incursão através do subsolo cada vez mais profundamente em busca de novos minérios em quantidades cada vez maiores. As entranhas do planetinha azul, pejadas de substâncias metalíferas e de outras denominações, aliadas à engenhosidade humana, determinaram a existência das chamadas minas que, no mais das vezes, são apenas buracos cavados até onde for necessário para se extrair o minério demandado.

Em torno de 1500 a.C. surge o que se convencionou chamar de idade do bronze, que é marcada pelo aparecimento da metalurgia a qual, nessa época, se resumia em fundir o cobre com outros metais (geralmente estanho) para se obter uma liga mais resistente que era empregada principalmente na fabricação de espadas e pontas de lanças. Alguns dos artefatos fabricados em pedra, como os machados ou os furadores, são agora também neste metal, implicando uma maior produção e rentabilidade, funcionando mesmo como símbolos de prestígio e poder. Inaugurada a idade do bronze, esta permitiu um avanço significativo nas conquistas humanas e, em consequência, na marcha do progresso, marcha essa que adquiriu mais ênfase quando, finalmente, o ferro foi obtido e utilizado na substituição do bronze. Agora, espadas de bronze eram superadas por espadas de ferro, e a idade do ferro forçou a perfuração de novas e mais profundas minas. Quem mais perfurasse mais poder econômico, político e militar obtinha, a civilização estava atrelada biunivocamente às minas.

Na era atual é impensável prescindir das minas, prescindir dos minérios que estão entranhados nos diversos níveis de profundeza da crosta terrestre, não há alternativa, carvão, petróleo, ferro, cobre, cobalto, alumínio, tungstênio e outros metais são o esteio da civilização. Claro que a necessidade de metais mais raros e encontráveis a maiores profundidades, obrigou a tecnologia de mineração se sofisticar, mas, a despeito de leis que regulamentam com bastante rigor as atividades mineiras, por si só perigosas, não impedem que empresários não tão escrupulosos, contornem as exigências de segurança e acabem facilitando a ocorrência de acidentes fatais. A China é campeã mundial na categoria, lá mais mineiros morrem por ano do que todas as mortes em minas dos demais países somados. Este televisivo e comentado acidente na mina de San José, no Chile neste ano, entra na categoria dos desastres anunciados, os mineiros estavam trabalhando em condições inseguras por falta de investimento em segurança por parte da mineradora.

Na Austrália a mineração de carvão é uma atividade que mais rende divisas para o país, as minas de lá fornecem o carvão que entrará na fabricação do aço no Japão. Milhares de toneladas de carvão são exportadas diariamente para aquele país, que produz aço para suas montadoras de automóveis, os quais são vendidos para o mundo todo, inclusive para a Austrália. A atividade mineradora no país é muito regulamentada no quesito segurança e as empresas, sob o risco de serem fechadas, obedecem as normas com muito rigor. Meu filho mais novo, Adriano, é mineiro de carvão. Depois de trabalhar com informática numa grande empresa, resolveu tirar a gravata, matriculou-se num curso de mineiração e começou a trabalhar nas minas de carvão, primeiro no interior do país próximo ao outback, agora em antigas minas no litoral de New South Wales, próximo a Sidney. Diga-se, o trabalho em mineração de carvão é um dos mais bem pagos da Austrália, e meu filho trabalha apenas três dias (as vezes, noites) por semana, nada mal portanto.

O Adriano é um mineiro convicto, gosta do que faz e, já que se tornou australiano há oito anos, integrou-se completamente ao espírito das minas, se é que isso existe. Mineiros australianos são uma categoria de trabalhadores extremamente exigidos, não podem beber em dias de trabalho, não podem usar quaisquer tipos de drogas, não podem sair para “noitadas” e são obrigados a manter um estado de higidez rigoroso controlado por exames periódicos de saúde. Decorrente da seriedade com a qual se trata a segurança mineiral, se um mineiro for demitido por justa causa de qualquer mina, jamais será admitido em outra, as empresas não permitem que seus empregados representem algum perigo ou desconforto para a atividade.

Tive a oportunidade de descer 170 metros numa mina, descida precedida de uma aula de segurança de duas horas com prova escrita. Gostei do que vi, a descida se fazia através de veículo próprio e as condições no interior do buraco são de modo a colocar a segurança em primeiro lugar. Desde 1975 não há qualquer acidente fatal nas minas australianas, o que me dá certa tranquilidade mesmo sabendo vez ou outra de acidentes na China e até nos EUA. O mineiro Adriano está indo bem, obrigado! JAIR, Floripa, 13/10/10.

16 comentários:

Leonel disse...

Como eu falei no meu blog, a atividade da mineração fica no limiar da segurança. Ainda bem que em países mais adiantados como a Austrália, graças à consciência popular, existem mais cuidados com o pessoal. Que a força esteja com o Adriano, que eu não vejo desde que ele era um garotinho.

Camila Paulinelli disse...

Olá,
Que bom que o Adriano está trabalhando num país de primeiro mundo onde os cuidados com a segurança são severamente seguidos. Infelizmente países como o Chile não têm estrutura para controlar e nem punir as mineradoras que não operam na regularidade. Enfim, parabéns a todos os mineradores de carvão,que nas profundezas vão executar o seu trabalho!
Beijos da nora,

R. R. Barcellos disse...

- Os perigos naturais das atividades de mineração são muitas vezes potencializados pela ganância dos empresários, mal encoberta pela conivência ou indiferença da autoridade fiscalizadora. No nosso país, as Minas Gerais têm suas históras épicas ou tenebrosas, que se repetem em outros rincões onde a atividade de mineração se estabelece - incluindo a prospecção petrolífera oceânica, que recentemente nos deixou um saldo trágico...
- Boa sorte ao Adriano. Ele está bem guardado, e sabe o que faz. Abraços, Jair.

Milene Lima disse...

O mais importante é que ele está numa área que gosta, ainda que seja uma profissão arriscada. Mas, nos dias de hoje, o que é totalmente seguro?
Que bom que na Autrália a coisa funciona com muita responsabilidade.
Seu Adriano estará sempre bem.

Abraços.

Joel disse...

Jair. O Adriano está bem mais seguro no fundo das minas da Austrália que os moradores da Rocinha, no Rio, ou eu nas ruas da minha cidade.
Grande abraço.

Adri disse...

Pois entao, estou trabalhando nas minas desde 2002... foi uma descisao espontanea... Como meu pai disse... decidi de tirar minha gravata, vender meu restaurante e partir para um rumo de carreira desconhecido e escuro... Eu adoro o trabalho, pois me permite fazer decisoes, fazer parte de um time de trabalho, e me mantem bem ativo... Nao consigo me ver trabalhando em qualquer outra industria... Um abracao pai!!!

Tereza disse...

Já que o pai está tranquilo porque verificou a segurança com seus próprios olhos, agora também estou.Confesso que assistindo todo aquele "drama evento", pensei muito no Adriano.
Bjos,
Tereza

Joel disse...

Jair, permita-me usar este espaço para falar diretamente com piá.
Adriano, primeiramente receba meu abraço de com força. "Segundamente" estou aqui lembrando um fato acontecido em Curitiba do qual vc foi testemunha ocular quando uma pessoa muito próxima a ti foi ao banco e desfilou por algumas ruas da cidade usando óculos escuro faltando uma lente. Lembra? Coisa de excêntrico. Nossas mentes de pobres mortais ainda não estão preparadas para entender tais extravagâncias. Concorda? rsrsrs

Anônimo disse...

Caro 1S Barbosa.
Em primeiro lugar, parabens pelo guri, Tu ser obrigado a entrar nuna mina é uma coisa, tu optar em trabalhar la, tem que ser macho, mas quando digo macho quero dizer macho mesmo, parabens Adriano ( eu me borro ate no tunel de Camboriu)Parabens tam bem Jair por teres descido la, pois enquanto eu tiver força pra gritar ninguem me faz descer. Quanto aos 33 mineiros vitimas la no chile, eu imaginava que eles ian sair todos esgualepados sujos mas para minha surpresa, sairam de la bravos homens limpos e o mais importante, cheios de dignidade e orgulho pelo que fazem.Mas.. ningem mais falou dos 4 caras do resgate, ao meu ver verdadeiros herois.
Abração
Fabio

Anônimo disse...

Grande Jair, adorei o seu blog, vou acompanhá-lo sempre que possível. E sobre meu grande amigo de infância Adriano, sempre soube que ele seria um sucesso, pois era evidente sua capacidade e raciocíneo superior à maioria, pelo jeito teve por quem puxar. Sua escolha com a Austrália e a mineração foi genial.
Grande abraço, Alexandre Karam Bond - engºcivil.

Laura Lopes disse...

Any industry has both its rewards and its risks. Having worked myself as a consultant in the Occupational Health and Safety area prior to entering the world of mental health, i know the dangers for a coal miner, whether one who works in the developed or developing nations...despite the level of safe organisation and preparation of the mining company, there is always the dynamic, unstable and ever-surprising nature of our world and natural environment which bears the ultimate concern. Being the wife of Adriano, a coal miner from the first day i came into his life, it caused me much anxiety and distress about his safety and wellbeing that he worked in such a dangerous environment. However, peace of mind soon follows when you realise that his skills, attitude and capacity as both a worker and leader in his field, would be the most protective factors of all. Here in Australia, it's the workers like Adriano, not the company or industrty itself which make coal mining both safe and productive.

Beijos,
Laura

JAIRCLOPES disse...

Tradução aproximada do que a Laura escreveu:

Qualquer indústria tem as suas recompensas e os seus riscos. Tendo trabalhado como consultora na área de Saúde Ocupacional e Segurança antes de entrar no mundo da saúde mental, eu sei dos perigos que um mineiro de carvão corre, tanto aquele que trabalha nos países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. Apesar do nível de organização segura e preparação da empresa de mineração, há sempre a natureza dinâmica, instável e sempre surpreendente do nosso mundo e do ambiente natural que requer a maior preocupação. Ser a esposa de Adriano, um mineiro de carvão a partir do dia que entrei na vida dele, me causou muita ansiedade e angústia sobre sua segurança e bem estar, porque ele trabalhava em um ambiente perigoso. No entanto, paz de espírito segue-se logo quando você percebe que suas habilidades, atitudes e capacidades tanto como trabalhador como líder em seu campo, seriam os fatores mais protetores de todos. Aqui na Austrália, é por causa de trabalhadores como Adriano, e não pela empresa ou industria que a mineração de carvão é segura e produtiva.

Paulo Gonçalves disse...

Olá amigo e irmão brasileiro...como será possível comunicar com o Adriano ??? sou portugues e advogsdo em Lisboa...ele está fazendo o que sempre sonhei e gostava de comunicar com ele para mais informações...obrigado e grato...talvez eu venha aconhecê-lo...um abraço

JAIRCLOPES disse...

Paulo Gonçalves,
Entre em contato com meu endereço eletrônico: oveque@hotmail.com que eu informo o endereço do Adriano lá na Austrália. Depois é só você entrar em contato com ele. Abraços, JAIR.

Unknown disse...

Jair, boa noite !!

Meu nome e Sandro L. Cavalheiro, estou indo para a Australia dentro de 3 meses, e pesquisando na internet sobre trabalhos para imigrantes, deparei com o seu blog, que fala sobre a atividade de mineiro, o que me interessa bastante.

Percebi que seu filho esta trabalhando nas minas, e gostaria de saber se poderiam me dar algumas dicas de como, onde e se e possivel eu, como imigrante recem chegado na Australia, conseguir um posto de trabalho nas minas.

Aproveito o espaço para lhe parabenizar sobre seu blog, que traz informações muito valiosas, para pessoas que assim como eu, precisam de informações.

Abraços.

Att,

Sandro Leonardo Cavalheiro,

JAIRCLOPES disse...

Caro Sandro,Entre em contato com meu endereço eletrônico: oveque@hotmail.com que eu informo o endereço do Adriano lá na Austrália. Depois é só você entrar em contato com ele. Abraços, JAIR.