quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cinema


Pois é, tenho implicância com “traduções” de nomes de filmes, porque em geral elas tiram o charme, deturpam o nome original e limitam o entendimento do conteúdo da obra. O mais das vezes escondem a intenção do autor do tema, o qual batizou sua obra de modo adequado a chamar a atenção para o que ele acha importante. Não sei em outros países, mas aqui no Pindorama, uma história de mistério da Aghata Christie pode simplesmente virar “O mordomo assassino”, sem o menor pudor. Claro que a técnica de traduzir não é uma ciência exata, contudo, parece que de propósito, os tradutores fazem questão de deixar de lado o nome original e construir um nome mais feio, menos atraente e que não enquadre o tema sob a ótica do autor. Assim o filme, “Marilyn Hotchkiss' Ballroom Dancing & Charm School” (2005), virou “Baila comigo”, nome sem imaginação, insípido mesmo, que lembra essas novelas globais de baixa qualidade que poluem o vídeo de espectadores incautos por aí. Sinceramente, assisti ao filme por acaso, o nome não me atraía, quem quer ver um filme com gosto de picolé de chuchu como parecia ser esse?

Foi uma surpresa tanto maior porque a expectativa era baixa e o filme é cativante. Em primeiro lugar, John Goodman (Steve Mills neste filme, mas Fred Flintstone de “Os Flintstones” e que apareceu em “E aí meu irmão, cadê você?” que já comentei neste espaço), faz um homem que tenta encontrar uma namorada de infância depois de quase quarenta anos, e está muito bem na fita. Depois, Marisa Tomei, a sempre meiga e frágil Marisa Tomei, consegue convencer a platéia na roupa de uma personagem maltratada pelo meio-irmão ciumento, seu olho roxo na primeira aparição, lhe confere uma atração a mais e estabelece uma analogia com a namorada de Steve Mills. Por último, o fantástico ator escocês Robert Carlyle, (Frank Keane) que pelos padrões oliudianos de beleza é um cara out, pois tem os dentes desalinhados, acavalados como se diz. Ele é um padeiro viúvo amargurado que frequenta um grupo de homens viúvos os quais não convivem bem com a solidão.

O mesmo Robert Carlyle foi protagonista de “Hitler: The Rise of the Evil”, filme que descreve a vida de Adolf Hitler da infância até a idade adulta, e como ele se tornou tão poderoso. Sobre esse filme tenho de dizer duas coisas: Carlyle encarnou o melhor Hitler de todos os atores que fizeram o papel do ditador em qualquer época da indústria cinematográfica. Carlyle declarou também que, para fazer o papel, “incorporou” o monstro de tal forma que teve que fazer análise para se livrar do personagem, Hitler havia se tornado um fantasma que o incomodava dia e noite. Vale a pena assistir “The Rise of the Evil”, é um soco no estômago. A história descreve Hitler em sua infância pobre na Áustria; a primeira guerra mundial a partir de seu ponto de vista; e como ele se tornou o homem mais forte na Alemanha. O filme nos mostra como transformou Hitler de um pobre soldado no líder dos nazistas, e como ele sobreviveu às tentativas de matá-lo. Ele descreve seu relacionamento com sua amante Eva Braun, e suas decisões e os inimigos dentro da Alemanha e no interior do partido nazista.

Bem, o escopo do texto não é falar sobre Hitler, e sim comentar o excelente “Baila comigo”. A certa altura Mary Steenburgen (Marienne Hotchkiss que dá nome à escola de dança), afirma para seus discípulos que a dança é uma droga muito poderosa, se usarem esse poder criteriosamente, irão colher suas recompensas. Frank Keane, um padeiro de luto em um estado depressivo, encontra um acidente de carro. A vítima loquaz e perspicaz, Steve Mills, está a caminho de um compromisso agendado há quarenta anos, com uma namorada de infância. O compromisso é no salão de dança de Marienne Hotchkiss, e ele, vendo a morte iminente, pede a Frank para ir em seu lugar. No salão de danças Frank acaba conhecendo Meredith Morisson (Marisa Tomei) e os dois formam o par romântico do filme, mas não sem antes Frank encontrar a terapia que o cura de suas lembranças amargas da esposa. É uma aula de superação e reencontro, vale o ingresso ou o tempo gasto em frente à telinha, até porque Sônia Braga lá aparece, belíssima, como Tina. Ainda mais, se o roteiro não convencesse, o elenco fosse ruim e a direção mambembe, valeria a pena assisti-lo só pela música, desde "Over the Rainbow" no rádio do carro até os personagens dançando ao som de Glenn Miller. JAIR, Floripa, 28/10/10.

7 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Esse eu já vi, e concordo 100% com vc, Jair. Quanta às "traduções" dos títulos, às vezes é a pobreza intelectual do tradutor que mais influi. Quem traduziu "The Sound of Music" por "A Noviça Rebelde" deve ter achado que "O Som da Música" ficava esquisito (e fica). Decerto não sabia que a palavra "sound" carrega um significado muito mais rico do que "som" em português. "O Encanto da Música" seria muito mais fiel ao original, na minha opinião. Abraço.

R. R. Barcellos disse...

- PS: Releia o trecho que trata de Carlyle. Acho que vc inadvertidamente deixou cair algumas palavras. Outro abraço.

JAIRCLOPES disse...

Obrigado pela observação, Barcellos, já fiz a correção necessária. Quase sempre não releio o que escrevi, daí ocorrerem essas aberrações.

Leonel disse...

Ótimas dicas sobre filmes, Jair!
A respeito de títulos veja estes: Original:Shane (o nome do herói); no Brasil: "Os Brutos Também Amam".
Giant (O Gigante); no Brasil: "Assim Caminha a Humanidade". The McConnell Story (A História de McConnel) virou " Voando Para o Além" (adivinhe o fim do filme!). Até eu acharia um título melhor, não necessariamente a tradução do original!
Abraços!

Jemma disse...

E sou Jemma.
Olá JAIR,
Estou à procura de um seleto grupo de escritores e blogueiros para tornar-se membros fundadores de Videojug Pages. Me deparei com seu blog - "UM BLOG QUE PENSA" - e fiquei realmente impressionado.

Unknown disse...

As traduções dos titulos são ridiculas. Este filme que falas não assisti ainda, vou procurá-lo.
Beijos.

Joel disse...

Jair. Curiosas mesmo essas "traduções" dos títulos dos filmes para o português. Veja o caso de "Blue" filme cujo personagem tem olhos azuis (Terence Stamp) e por isso chamado de Blue, mas, aqui "neste país" recebeu o título de "Duas Pátrias Para Um Bandido". Mais curioso que este é "Tres Não Voltaram" onde o título já conta o final do filme. Me parece que é sobre quatro soldados americanos que na guerra do Vietnam recebem uma determinada missão, mas, como adianta o título, tres não voltaram. Outros que merecem destaques são os títulos das sequências de "Smokey and Bandit" da dupla Hal Needhan (diretor) e do canastrão Burt Reynolds. O primeiro recebeu o título de "Agarra-me se Puderes" o segundo, "Smokey and Bandit 2" chamou-se "Desta vez te Agarro" e o terceiro, "Smokey and Bandit 3", passou a ser "Agora Voce Não me Escapa". Coisa de doido.
Grande abraço,
Joel.