domingo, 21 de março de 2010

NUMISMÁTICA - 3

CÉDULAS MILITARES AMERICANAS
Depois da segunda guerra mundial, precisamente em 1947, as bases americanas que ocupavam territórios na Ásia, Oceania e Europa, adotaram o uso de "dinheiro militar". Notas de dólares emitidas pelo Tesouro Americano que eram destinadas ao pagamento de civis e militares que serviam nas 21 bases ao redor mundo. As células, de ótima impressão e papel de qualidade equivalente aos dólares regulares, tinham o mesmo valor daqueles e circulavam somente nas áreas ocupadas, não serviam como moeda no próprio EUA, para isso deviam ser cambiadas pelas verdinhas. Diz a lenda que esse dinheiro era emitido visando impedir que dólares normais usados nos países estrangeiros voltassem para a América de modo clandestino. Explicação bastante aceitável, porque os americanos há muito perderam o controle da contabilidade de suas notas que circulam pelo Planeta. Mais uma vez, diz a lenda que se todo dinheiro americano que está por aí retornasse ao país, não haveria lastro para sustentá-lo, ou seja, os bens e serviços americanos não teriam equivalência ao meio circulante. Seja verdade ou não, o fato é que a emissão dessas cédulas cessou em 1970, de lá para cá o que circula nas bases estrangeiras é o velho e sólido dinheiro verde mesmo.

















Quase a totalidade das cédulas militares americanas têm uma mulher estampada na face. Note-se a última da esquerda usando o Barrete Frígio, símbolo da liberdade.




Rara cédula militar americana que não contempla uma mulher na efígie. Trata-se do piloto Joseph McConnell Jr., herói da guerra da Coréia, morto em 25 de agosto de 1954, na Base aérea de Edwards, enquanto testava o novo caça F-86H para a USAF.



Nota de Dolar que circulou no Vietnan em 1969. Pode-se ler no verso de cabeça para baixo: Vang Tan Vietnan do Sul, 23 dezembro de 1969, supostamente escrito por um combatente americano.


DINHEIRO DE OCUPAÇÃO JAPONÊS
Quando as tropas americanas perderam as Filipinas para os japoneses e o general MacArthur "retirou-se" para a Austrália prometendo voltar, - e voltou mesmo - os novos ocupantes daquelas ilhas também emitiram "dinheiro militar". Foram tantas e tão diversas emissões que, ainda hoje, existem milhões de cédulas "The Japanese Government", de tal forma que não têm valor algum para colecionadores. Quando muito, são meramente curiosas pela boa qualidade do papel e pela diversidade de denominações: dólares, pesos, rupees etc. Não eram explicitamente cédulas de uso exclusivo militar, destinavam-se a uso corrente por todos no arquipélago, contudo, militares japoneses não eram autorizados a usar o dinheiro circulante filipino.

Peso de ocupação, de vasta circulação por aquelas ilhas do pacífico. Há quem diga que a intenção dos japoneses era criar uma mega inflação causando colapso na economia.

Dolar japonês que circulou em abundância durante a ocupação.


Rupee da ocupação japonesa do arquipélago filipino e Ilhas Maldivas.

NOTAS DE EMERGÊNCIA FILIPINAS
Pela segunda vez na história do país, o governo filipino se viu obrigado a emitir "dinheiro de emergência", a primeira foi em 1917 durante a primeira guerra mundial. Essas cédulas só circularam durante a ocupação japonesa, já que o dinheiro de guerra japonês não era conversível e estava desacreditado pela enxurrada desmedida como foi emitido. Antes mesmo do término da guerra, em 1944, o governo filipino colocou em circulação cédulas com a palavra "Victory" no verso, falta de otimismo não era a praia dos ilhéus.

Peso filipino de 1941. Dinheiro de emergência, papel de baixa qualidade e impressão ruim, bem de acordo com a época.


Cédula de emergência lançada em 1942 pelo governo filipino.


Peso das Filipinas comemorativo da vitória, emitido em 1944.


DINHEIRO DE GUERRA E DE EMERGÊNCIA BRITÂNICO
Não se pode acusar a Grã Bretanha de imitar os EUA, seu"dinheiro de guerra" foi emitido em 1943 e um curioso "dinheiro de emergência", em 1945, supostamente por falta de papel. Cabe lembrar que a diferença entre cédulas e moedas não é o material do qual são confeccionados, a nota é impressa e a moeda é cunhada. Os materiais usados nas moedas modernas podem ser nobres como o ouro e prata, ou outros como cobre, latão, bronze, alumínio e liga de níquel. As notas são normalmente de papel, mas podem ser de plástico ou até de resina como essa da ilustração. Existem cédulas de ouro, impressas especialmente para colecionadores, o Kwait lançou uma assim depois da guerra em 1992.
Cédula militar de Libra, lançada em 1943. Note-se a austeridade do desenho em contraste com as notas militares americanas.

Cédula de Shilling emitida em 1943 para as forças armadas britânicas.


Nota de Penny com aparência de moeda lançada em 1945, impressa em papelão impregnado de resina, supostamente por carência de papel de qualidade.

Bem, essa é só uma pequena amostra de dinheiro militar, de emergência e de ocupação durante a segunda guerra. Muitos países da Europa emitiram cédulas não regulares nas duas guerras, algumas de tão má qualidade que se tornaram raras porque deterioraram na sua maioria. JAIR, Floripa, 21/03/10.

8 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Houve época em que o dinheiro amoedado tinha o valor que lhe conferia o material (moedas de ouro ou prata) ou a garantia em ouro do valor impresso nas cédulas. Lembro-me das antigas notas de cruzeiro que traziam impressa a garantia: "No Tesouro Nacional se pagará ao portador a quantia de ... cruzeiros - Valor Recebido". Com o advento da moeda fiduciária, o "Valor Recebido" passou eventualmente para "Valor Legal" - e nenhum texto como esse existe nas modernas notas de Real. O minúsculo "Deus seja louvado" quer dizer na verdade "Valha-nos Deus".
Na sua matéria você dá um excelente exemplo de moedas fiduciárias, de circulação impositiva. Parabéns.

Leonel disse...

Jair, mais uma ótima matéria sobre um assunto que me agrada bastante: dinheiro!
Aquela nota americana com a figura de um piloto de capacete e traje de voo, me lembra bastante uma foto de Joseph McConnel Jr., "top ace" da USAF na Guerra da Coréia, com 16 vitórias. Ele era muito popular na época, graças à propaganda gerada pela Guerra Fria, e fizeram até um filme contando sua história. Ele morreu nos EUA, quando testava um novo modelo de caça, antes mesmo da conclusão do filme, que acabou incluindo sua morte.
Aliás, o capacete da figura é do mesmo padrão naquela época.

JAIRCLOPES disse...

Leonel,
Mais uma vez você tem razão. O aviador da efígie é, de fato, Joseph McConnel Jr. Acredito que a fonte na qual me baseei para o texto sabia que ele acidentou-se com um F4 e usou isso apenas, não se preocupou em adicionar o nome da pessoa. Fico muito contente quando meus amigos mais conhecedores que eu me corrigem, ainda mais com essa elegância que é marca registrada das mentes brilhantes, tua e do Barcellos. Abraços, JAIR.

Leonel disse...

Ao contrário da maioria dos brasileiros, que parece esquecer rapidamente até fatos recentes, eu adoro o estudo da história.
Uma coisa que me fascina é como se pode aprender coisas interessantes da história através de atividades diversas como a numismática, filatelia e outras menos conhecidas.
Este episódio dos dólares e pesos japoneses é um exemplo!

Luísa Nogueira disse...

Olá Jair,
Onde mais podemos ler sobre o dinheiro circulado durante a guerra ou sobre a idade das árvores? Em seu blog respiramos saber e cultura. Obrigada por posts tão maravilhosos!
Um abração!
Luísa

Voluzia disse...

Já disse uma vez e volto a dizer, gosto de numismática. Teus texto me fazem lembrar quanto esse hobby é gratificante e quanto a gente aprende com ele. Você conhece o assunto e tem facilidade colocar seu conhecimento por escrito, parabéns e nos brinde com mais.

Adri disse...

Interessante que a qualidade das notas do pais degradam de acordo com a fase e epoca de um pais....

Pedro disse...

Estava lendo seu blog esses dias , gostei de saber que os militars americanos possuiam uma moeda propria , muito interessante , nem imaginava isso