sexta-feira, 29 de maio de 2009

FABRICANDO A BOMBA


No post anterior o enfoque foi sobre o terror que a BOMBA incutia na mente da geração que estreou no planeta juntamente com ela. Para explicarmos o que é e como funciona o artefato fizemos uma pequena digressão sobre o átomo e os primeiros movimentos no sentido de tornar a bomba viável para uso ainda na segunda grande guerra. Também falamos na “banalização” do conhecimento da fórmula simples que permite a fissão de matéria radioativa e a conseqüente explosão nuclear. Como houve menção ao Projeto Manhatam e suas dificuldades na consecução das pilhas atômicas e do artefato propriamente, aqui o objetivo é explicar como foi percorrido o longo e tortuoso caminho desde a teoria que dizia ser possível a explosão até o momento em que na localidade de Alamogordo no Novo México se deu a primeira reação explosiva, provando que teoria e prática estavam alinhadas. Para chegar ao Projeto Manhattan é preciso compreender os avanços conquistados pela física nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Entre 1919 e o início dos anos 30, os cientistas estavam começando a entender a estrutura do átomo. Em 1919, na Universidade de Manchester, Inglaterra, o físico Ernest Rutherford, da Nova Zelândia, descobriu os prótons, partículas de carga positiva localizadas no núcleo do átomo, as quais, em companhia dos elétrons, partículas de carga negativa que orbitam em torno do núcleo, formam o átomo. Contudo, os físicos não conseguiam explicar por que diversos elementos apresentavam átomos de pesos diferentes. O mistério só foi resolvido em 1932, quando James Chadwick, um dos colegas de Rutherford, descobriu o nêutron, a terceira partícula subatômica. Como o nome diz, nêutrons não possuem carga elétrica e, junto com os prótons, formam o núcleo atômico. Embora o número de prótons e de elétrons seja constante em cada determinado elemento, o número de nêutrons pode variar, passam a ter um número de massa diferente. Os átomos de um mesmo elemento, diferentes quanto ao número de massa, são conhecidos como isótopos. Nessa época, os cientistas começaram a usar aceleradores de partículas com o objetivo de criar energia a partir do bombardeio de núcleos atômicos, - os primeiros acelerados disparavam prótons e partículas alfa que, devido à carga positiva, eram repelidos pelos átomos bombardeados. Contudo, quando o físico italiano Enrico Fermi concebeu a idéia de usar nêutrons nos bombardeios, em 1934 que, sendo desprovidos de carga não eram repelidos pelo núcleo do átomo, a coisa mudou de figura. Os cientistas alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, foram os primeiros a reconhecer formalmente o processo, em 1938, ao dividirem átomos de urânio em duas ou mais partes, em suas experiências. Haviam descoberto a FISSÃO NUCLEAR, termo criado por eles. O urânio, elemento natural mais pesado do planeta, foi utilizado em muitas dessas experiências iniciais, e se tornou tema de grande interesse para a física, por diversas razões. O urânio é o elemento natural mais pesado, com 93 prótons. O mais interessante quanto ao urânio, porém, não é tanto o número de prótons, nem o número elevado de nêutrons em seus isótopos. Um isótopo de urânio, encontrado na ordem de menos de um por cento no meio do urânio 238, o urânio-235, tem 143 nêutrons, e é particularmente instável, emite radioatividade em condições normais e entra em fissão induzida com grande facilidade. O mais importante é que durante a fissão de um átomo de urânio a energia liberada é na ordem de duzentos milhões de elétrons-volts, enquanto a queima comum de um átomo libera cerca de um elétron-volt apenas. As informações sobre a fissão nuclear se difundiram rapidamente da Europa para os Estados Unidos e, em 1939, vários dos principais laboratórios de Física dos EUA estavam testando a possibilidade de gerar energia com a fissão do urânio. Em 1942 os EUA já haviam entrado na guerra e muitos cientistas importantes como Leo Szilard, Edward Teller e Eugene Wigner, todos europeus que haviam migrado para os Estados Unidos a fim de escapar da guerra, sentiram a necessidade de alertar o governo norte-americano sobre o risco que o mundo corria caso a Alemanha desenvolvesse armas nucleares primeiro. Assim, liderados por Einstein e Szilard escreverem uma carta ao presidente Franklin Roosevelt, descrevendo a possibilidade dos alemães virem a construir armas poderosas com material físsil O presidente, depois de consultar outros cientistas, entre eles Julius Robert Oppenheimer, deu carta branca para que o competente e disciplinador Coronel Leslie Groves – que havia supervisionado a construção do Pentágono - iniciasse o projeto para "construir o armamento que acabaria com a guerra". Daí nasceu o Projeto Manhatam, em Alamogordo, uma região seca e arenosa, habitat de escorpiões e cobras, quase deserta de gente. No início, juntando cientistas, técnicos e soldados, a população chegava a 200. Vida duríssima e sigilo absoluto. Ninguém podia telefonar para fora sem autorização. Nem sair do alojamento, um punhado de barracos levantados às pressas pelo exército em 1.944. Aí, durante 10 meses, os pesquisadores trabalharam arduamente, sem qualquer conforto mas, consta, com grande vontade e empenho. Até cidades foram construídas. Algumas saíram do nada, em locais isolados, justamente para garantir o segredo. Existem até hoje. Outras, que também permanecem, foram refeitas. Hanford, então um povoado insignificante e perdido do mundo no estado de Washington, foi invadida, em 1.943 por 25.000 trabalhadores. Em menos de um ano, construíram 250 quilômetros de ferrovias, 600 quilômetros de estradas, casas para 40.000 operários e suas famílias, e uma fábrica de plutônio, combustível nuclear como o urânio. As cidades cresceram em diversos pontos do país, sempre com o mesmo fim: Construir a superbomba. Das novas fábricas, saíam peças ou combustível. Dos laboratórios, números e medidas. Quantos quilos de urânio ou plutônio seriam necessários? Como detonar a explosão no momento exato? Até que ponto o urânio comum, extraído das minas, precisaria ser misturado com o urânio-235, mais radioativo? Em resumo, os cientistas já não faziam Física pura, estavam empenhados em construir na prática aquilo que a teoria dizia ser possível. Depois de milhões de homens-hora de trabalho, milhões de dólares gastos e de superar problemas técnicos que até então cientistas nem suspeitavam que existissem, a primeira explosão nuclear da História aconteceu na madrugada chuvosa do dia 16 de julho de 1.945, numa área de testes de bombardeios do exército americano, em Alamogordo, Novo México. Uma luz dura, vinte vezes mais brilhante que a do Sol, acendeu a noite e fez o céu, o deserto e as montanhas próximas parecerem brancos como papel sulfite. Apesar da hora, milhares de pessoas, em cinco estados vizinhos, viram o flash sem ter idéia do que estava acontecendo. Para a humanidade estava nascendo: a era que seria a mais importante com relação a forma que as guerras poderiam ser travadas; o ponto de inflexão na geopolítica global onde Ocidente e Oriente definiriam áreas de influência de acordo com seu suposto poderio nuclear; e uma nova possibilidade de uso de energia nuclear para fins pacíficos. Medo do desconhecido e esperança de dias melhores passaram a coexistir de maneira nunca antes experimentada pelo ser humano. JAIR, Floripa, 29/05/09.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este resumo está mui bom. Pouca gente sabe como nasceu a Bomba A.