quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O OVO



Consta que Cristóvão Colombo, depois de ter descoberto a América, já sendo homenageado pela façanha, foi menosprezado por um nobre, conterrâneo seu, como tendo praticado um feito que “qualquer um” faria. Ofendido, Colombo desafiou “qualquer um” dos presentes a colocar um ovo na posição vertical. Depois de inúmeras tentativas sem êxito, o desafeto, enfim rendeu-se e, num gesto tão grandiloqüente quanto babaca, desafiou por sua vez, Colombo a fazê-lo. O grande navegador Genovês não se fez de rogado, quicou o ovo levemente na superfície da mesa, de modo a fazer uma pequena mossa numa das extremidades permitindo que ele permanecesse de pé. – “Claro que desta maneira "qualquer um" pode fazê-lo!", objetou um pouco alterado, o cortesão.- "Sim qualquer um. Mas "qualquer um" ao que se lhe tivesse ocorrido fazê-lo", disse Colombo. E acrescentou: - "Uma vez eu mostrei o caminho ao Novo Mundo, qualquer um poderá segui-lo mas, alguém teve antes que ter a idéia. E alguém teve depois, que se decidir a colocá-la em prática”. Esta historinha apócrifa tem por finalidade enaltecer a clarividência do Navegador e traz , no seu bojo, como coadjuvante, um ovo. Numa entrevista sobre sua obra, o então consagrado pintor Pablo Picasso, revelou que ao tentar desenhar um rosto perfeito, foi retirando todos os adereços do objeto em questão e chegou finalmente na forma de um ovo. Mais uma vez o ovo serviu como exemplo numa estória edificante. Do ponto de vista da biologia, Ovo é o mesmo que Zigoto. É uma célula que se forma após a fusão do núcleo do óvulo (pronúcleo feminino, haplóide) com o núcleo do espermatozóide (pronúcleo masculino, haplóide) por cariogamia, o que dá origem à célula diplóide denominada ovo ou zigoto. Ovíparos são animais – freqüentemente aves, peixes e répteis, mas, excepcionalmente também mamíferos monotremos como o ornitorrinco e a équidna, australianos – que põem ovos donde saem suas crias. Ovovivíparos são animais – peixes, cobras e lagartos, mais comumente – que mantém o ovo fecundado dentro do ventre, onde o embrião se desenvolve sem se nutrir a custa do organismo da mãe. “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”, pergunta supostamente existencial que permeia a baixa literatura é, também, adágio onde o ovo se faz presente. Anos atrás o alimento mais completo era o ovo. Hoje, vez ou outra, a ciência condena o ovo como produtor de colesterol ruim, e, quase imediatamente, absolve-o como gerador de bom colesterol. Para o bem ou para o mal ovo está sempre em pauta. Aura é o invólucro energético, de forma ovóide, que envolve o indivíduo. Durante muito tempo a constatação da existência da aura, tanto a humana como a dos demais seres orgânicos e inorgânicos, ficou restrita às crenças religiosas e à metafísica. Metafísica (do grego μετα [meta] = depois de/além de e Φυσις [physis] = natureza ou físico) é um ramo da filosofia que estuda a essência do mundo. Como se vê, também a metafísica se rende à forma do ovo na sua definição de aura. Bem, seja porque a gênese de tudo se dá desde o ovo primordial que, num paroxismo monumental, explodiu no Big Bang inicial; seja porque o início da vida dos seres terrenos se produz num ovo; ou seja porque a rotação de duas elipses semi-sobrepostas cria a forma mais geometricamente elegante e instigante da natureza, o ovo nos seduz. Confesso que sou fascinado pelo oval, pelo ovóide, pelo ovo, enfim. Tenho coleção de ovos, naturais e feitos pela mão do homem. Desde o de avestruz, gigante equivalente a vinte ovos de galinha, esculpido com motivos da savana africana, até o de codorna em forma de pêssanka. Na história do povo ucraniano sempre esteve presente a tradição de colorir ovos na época em que o Sol voltava triunfante, eliminando a neve que cobria a rica terra negra da Ucrânia. Em escavações arqueológicas, foram encontrados indícios desta arte a mais de 3.000 anos antes de Cristo, sendo que naquela época, eram utilizadas ferramentas muito rústicas para se confeccionar uma pêssanka. Minha pequena coleção passa, principalmente, pelos ovos de pedra sabão, ágata, ônix, quartzo, mármore, calcita, granito, alabastro e hematita mas, contempla outros de madeira, osso, metais diversos, cerâmica, argila, vidro, papier machê e porcelana. Até uma cerâmica do Brenand em forma de ovo enriquece meu acervo. O excêntrico ovo verde escuro de emu é uma das vedetes do conjunto. O Emu (Dromaius novaehollandiae, "Corredor da Nova Holanda" em Latim) é o maior pássaro nativo da Austrália e, depois do Avestruz, o segundo mais pesado pássaro que vive hoje. Ele habita a maioria das áreas menos povoadas do continente, evitando apenas a floresta densa e o deserto severo. Como todos os pássaros do grupo das Struthioniformes, ele não pode voar, embora diferente de alguns ele possui pequenas asas escondidas sob as penas. Pois é, o ovo está, esteve e estará presente em todos os tempos no universo conhecido e até desconhecido, do inicial Big Bang ao final Big Crunch. O Big Crunch é uma teoria segundo a qual o universo começará no futuro a contrair-se, devido à atração gravitacional, até entrar em colapso sobre si mesmo e chegar à perfeição: o OVO CÓSMICO. JAIR, Floripa, 13/11/08.

6 comentários:

Ruy disse...

Jair, teu conto oval me lembrou de duas situações. Pordeprimêro que quando piás costumávamos construir um “ninho” numa caixa velha, geralmente de sapatos, afofado com muito papel picado e enfeitado com tirinhas de papel laminado de carteiras de cigarro, tudo isso esperando que o coelhinho da páskoa lá “botasse” seus (dele) zóvos. E, por segundo, foi lembrar do Egg, meu amigo do ginasial que ganhou esse apelido por ser gordinho e pintalgadinho parecendo um ovo de gitica.
Grande abraço,
Ruy.

Anônimo disse...

Seu Jair, textinho divertido e informativo este seu. Muito bom!

Augusto

PS Esta cor dificulta a leitura.

Unknown disse...

E aih pai, parabens pela sua nova colecao, gostei muito do texto. Recentemente eu assisti um documentario que explicava uma teoria sobre a criacao das materia e substancias baseada no tal big bang...

Um abracao
Adri

Anônimo disse...

Grande Jair, eu também "cultuo" um bom ovo, de preferência frito, no café da manhã, para desespero do meu cardiologista (que não quer perder o paciente). O ovo já foi condenado, absolvido, consagrado, e enfim, nos chegam as conclusões de que apenas a gema tem colesterol, mas que nem este chega a ser absorvido, pois o colesterol que se deposita nas artérias (ou veias) é produzido por nós mesmos. Aí é que entra o óleo da fritura, que é o vilão real do filme ! Mas, cozido ou pochê não tem o mesmo gosto ! Hoje eu li sobre uma velhina que está fazendo 100 anos no RS, que fuma, bebe cereveja preta e come torresmo, e nunca toma remédio algum.É politicamente incorreta nos seus hábitos. Duvido que eu chegue aos 100 anos, mesmo fazendo tudo certinho ! Quem nasce com corpo bom, pode fazer o que quer !
Mas, valeu comentar sobre outros tipos de ovos, inclusive o do Colombo. A tal de "emu" que você fala seria a velha ema gaúcha ?
Abraços !

Anônimo disse...

Gostei do texto sobre o OVO.

Anônimo disse...

Jair, muito bom e didático este seu "textículo" sobre ovos, entretanto não devemos esquecer que existe também "os óvos", linguajar chulo que define o testículo, diferente do seu "textículo" e que jamais fará parte da sua coleção. O poeta paraibano Jessier Quirino no poema "Acontecença Matuta" publicado no livro "Paisagem de Interior", de sua autoria, diz: Coió escapou fedendo, Das garra do esquadrão, Levô um tiro nos óvo, Não fala mais em tesão.
Outra coisa: Estou na expectativa de que voce escreva algo sobre a sapatada que o, com perdão da palavra, Bush, quase levou do jornalista.
Aproveito este espaço para mandar um abraço para as minhas queridas primas Marina de quem sou um puxa-saco não correspondido e Brasileira, que, sortuda como ela só, num tempo distante e lugar longínquo, ganhou de presente uma "gaióta bem corredeira". A ambas, feliz Ano Novo.
OBS. "Cumpadi" Ruy, e aí? Ainda faz parte do mundo dos viventes? Um abraço e feliz Ano Novo.
Joel.