quinta-feira, 23 de maio de 2013

Interações





Nas minhas observações, por assim dizer, antropológicas das pessoas que me cercam, sempre olhei com bons olhos as “miscigenações”. Me deleito ao ver casais “mistos” em que um dos cônjuges ou um dos companheiros é diferente do outro, seja na cor, seja na etnia ou seja na nação de origem. Me amarro quando observo uma pessoa de cor negra junto a outra de pele branca, ou um aparente indígena com seu companheiro de características físicas distintas ou de cultura outra que não a sua. O mesmo vale para orientais e companheiros não orientais. Parece que casais mistos me fazem acreditar que a humanidade tem jeito, isto é, se pessoas de origens diferentes se unem e geram prole, estaremos mais próximos de abolir para sempre os preconceitos que criam desavenças culturais e guerras. Sonho que um dia a amálgama de todos com todos conduzirá a uma civilização solidária onde rusgas e desentendimentos raciais, religiosos, sociais, políticos, civilizatórios, culturais e entre nações serão coisa do passado.
Hoje participei aqui no Havaí do casamento de meu filho mais novo, Adriano. Ele casou com uma canadense. Falando assim nada de muito inusitado ou estranho, mas se levarmos em conta que ele mora na Austrália, ela no Canadá e casaram no estado norte americano mais longe do território continental daquela país, já começa a ficar interessante essa união.
Então vamos entender um pouco da cerimônia e suas interações culturais. A canadense Megan é filha de descendentes russos que vieram para o Canadá há quase 120 anos, mas conservam costumes de sua ancestral comunidade doukhobor. Os doukhobors são uma seita de cristãos russos que imigraram para o Canadá no fim do século 19 por terem sido perseguidos pelos imperadores russos que os queriam obrigar a servir nas forças armadas, atividade contrária ao seu pacifismo. Eles se instalaram no sudeste da Columbia Britânica, Alberta e Saskatchewan.
Entre os 41 convidados da festa havia uns vinte russos/canadenses, três ou quatro russos, uma ucraniana, cinco ou seis australianos, alguns norte americanos e quatro brasileiros, minha mulher, eu e os dois filhos, sendo que o nubente é cidadão australiano e o outro cidadão americano. Pois bem, por essa mixórdia já dá para perceber que existia certa amálgama de pessoas de origens diferentes. Falta dizer apenas que o pastor que realizou a cerimônia era havaiano nativo.
Para ilustrar bem como foi esse intercâmbio vale dizer que a cerimônia  foi realizada no idioma havaiano pelo pastor, em russo e inglês pelos parentes russos e canadenses e em português por mim e minha mulher. E um pouco de espanhol permeou as conversas de nós (minha mulher e eu) brasileiros com uns norte americanos que arranhavam o idioma de Cervantes. O francês de alguns canadenses francófilos também pontuou um pouquinho e o ucraniano da moça que o falava ficou dormente. O ritual em si foi um misto de casamento cristão, russo doukhoboriano e havaiano. As pessoas que lá se encontravam tinham olhos claros, exceto minha família e o oficiante havaiano. Vale contar que o pastor Lino, tem um antecedente longínquo português de sobrenome Lopes, o que nos fez quase aparentados e criou um clima de cordialidade cúmplice entre nós os brazucas e ele.
Essa união também torna-se interessante porque os doukhobors, por serem pacifistas extremados, escrutinaram o comportamento e a origem de meu filho para ter certeza que não estavam introduzindo um potencial cavalo de Tróia belicista ou adepto de armas e violência em sua comunidade. Os pais da Megan, Marilyn e Paul, estiveram até na Austrália conferindo in loco a vida do nosso filho. Para felicidade dos apaixonados Adriano e Megan nada desabonável foi encontrado em sua pacata vidinha de mineiro australiano. Aloha! JAIR, Mauí, 11/05/2013.


6 comentários:

Leonel disse...

Imagino o cardápio desta festa tão cosmopolita...
Um verdadeiro encontro multinacional!
Sorte a tua participar disto tudo, e desffrutar de momentos únicos!
Abraços, amigo!

R. R. Barcellos disse...

Felicidades ao casal e parabéns a todos. Abraços cosmopolitas e tribais.

Tais Luso de Carvalho disse...

Nossa! Lindo deve ter sido, mas meio complicado pra gravar tantas coisas diferentes, língua, cruzas, lugares, histórico familiar etc, etc.
Mas desejo, também, muitas felicidades ao casal, a você e sua família!
É a globalização!

Abraços, amigo!

Megan lopes disse...

Wow what an incredible piece about our wedding! I have translated and shared with my family in Canada- wonderful!
Um texto incrível sobre o nosso casamento! Eu traduzi e compartilhei com minha família no Canadá, maravilhoso!

http://www.analiseagora.com/ disse...

Bem sugestivo o titulo do seu blog "um blog que pensa" e o conteúdo faz jus ao título.Matérias muito interessantes e envolventes que nos prende a leitura.Rico em informação e formação.Parabéns por seu maravilhoso trabalho amigo.Eu tenho um blog de conteúdos variados o titulo: "analiseagora"

Anônimo disse...

Criatura, adorei pacas.
Abração
Fábio