A MONARCA E O DINHEIRO
Após a morte de seu pai, rei Jorge VI, em 1952, Elizabeth Alexandra Mary de Windsor, coroada Rainha Elizabeth II, obteve os títulos de chefe de Estado do Reino Unido, da Comunidade Britânica, governante suprema da Igreja da Inglaterra e comandante-chefe das Forças Armadas do Reino Unido. Sendo que a Comunidade Britânica (The Commonwealth) agora apenas um resquício do "Império onde o sol nunca se põe", congrega colônias e ex-colônias do antigo Império. Desde países longínquos e de grande extensão como Índia e Austrália, até pequenas ilhas como Hébridas, Isle of Man e Trinidad Tobago, passando pelas Falklands e países tropicais como a Guiana, até Canadá, Nova Zelândia, Gibraltar e Malta.
A política inglesa de conceder grande autonomia a suas colônias, resultou que ao se tornarem independentes, esses países continuaram atrelados à Coroa Britânica por laços comerciais, políticos, linguísticos e culturais. Entre tantas coisas que a Commnwealth têm em comum, uma delas é cultuar a Rainha como se fosse a soberana de todos. O aniversário de Sua Majestade é comemorado em toda a Comunidade e, em alguns lugares, como na Austrália por exemplo, esse dia é feriado. Em troca dessa lealdade, a Rainha se obriga a visitar seus súditos pelo menos uma vez por ano, o que o faz com regularidade britânica.
Seja por comodidade ou tradição, a maioria dos países da Comunidade usa Libra como padrão monetário, sendo que alguns outros usam Dólar, mas todos tem uma coisa em comum, colocam a efígie da Soberana em suas cédulas. Como já publiquei em texto anterior, coleciono cédulas de valor facial UM, e tenho um número bem alentado de peças. Extrai um excerto de minha coleção só de notas com a efígie da Rainha, algumas das quais mostro abaixo com observações acerca da aparência da Monarca.
Embora essa Libra das Falklands tenha sido emitida em
Dólar canadense de 1954 com inscrições bilingues, o qual foi retocado porque impressão anterior do mesmo dinheiro saiu com a estranhíssima imagem de um demônio nas ondulações dos cabelos da Monarca, cédula que ficou conhecida por Devil's face e se tornou objeto de desejo de colecionadores. O fato de aparecer "fantasmas" em material numismático é estranho mas não inusitado, já ocorreu com medalha de dólar americano com efígie de John F. Kennedy, onde se via uma foice e um martelo; No nosso País, um erro em moeda onde se lia BBASIL, ao invés de BRASIL, tornou a moeda cobiçada e rara; em cédulas de dez, cinquenta e cem cruzeiros apareceu a palavra MINSTRO onde devia estar grafado MINISTRO. Claro está, que existem erros e "erros", no caso do Brasil o erro é evidente, mas no Canadá e nos EUA, parece que o "erro" teve propósitos políticos escusos.
Neste Dolar de Fiji, a Rainha sem a coroa como nas anteriores, já está retratada com mais idade, corria o ano de 1980 e os emissores da cédula "atualizaram" o aspecto da Monarca.
O desenhista que criou esta efígie valeu-se de uma foto não muito recente da Regente e "forçou" uma semelhança com Grace Kelly, Princesa do Mônaco. Digamos que o artista usou de uma licença poética para executar sua obra e obteve um bom resultado. Elizabeth deve ter ficado lisonjeada.
Já neste Dolar australiano não houve contemplação, nota emitida entre 1974-83 na qual o rosto da soberana não está trabalhado. Pelo contrário, os traços crus e fortes, compatíveis com o fundo, tema aborígene, mostram uma idade mais compatível com a realidade dos anos e uma certa sisudez que lhe confere um ar meditativo e atento.
Libra de Jersey uma das "Channel Islands", referindo-se a Jersey e Guernsey que se situam no Canal da Mancha. Cédula emitida em 1993 quando a Monarca tinha 67 anos. Parece que o artista reproduziu uma imagem "em tempo real", para usar uma expressão tão em voga, mas escureceu os cabelos já encanecidos de Elizabeth. O rosto está vincado e o olhar denota cansaço, não há qualquer outra cédula com a rainha com essa aparência.
Cédula das Bahamas, Dolar emitido em 1965, com efígie da governante bem jovem. Com a mesma coroa, com os mesmos brincos e o mesmo colar de diamantes e baseada em fotos dos anos cinquenta.
Libra jamaicana de 1960 com a Soberana numa pose bem de acordo com a década do amor livre e "abaixo o pudor", ombros nus, coroa leve, sem adornos e pose quase sensual. O desenhista caprichou e o resultado foi uma cédula bonita, mesmo porque o fundo rosado dá uma suavidade convincente à nota.
Nota de Gibraltar lançada em 1979 onde a Monarca, já não tão jovem, se apresenta coroada e com pose estudada. Claro que o desenho, baseado em foto da época, foi bastante retocado, mas mesmo assim não deixa de mostrar que os anos não perdoam nem uma Rainha.
Dolar de Cayman impresso em 2003, comemorativo dos 500 anos de descobrimento daquelas ilhas. A Rainha com coroa e todos os adereços necessários está mostrando uma idade diferente dos seus 77 anos. Daí para cá não se viu mais efígies com sua aparência atual, parece que para efeito numismático ela não mais envelheceu.
É isso aí minha gente, esta foi uma pincelada superficial na arte da numismática. Esse hobby que nos permite navegar livremente pela história, geografia e economia das nações, tem começo mas não tem fim. A gente sabe onde está mais nem imagina onde vai chegar. Proximamente prometo publicar mais algumas curiosidades para vocês. JAIR, Floripa, 27/03/10.