Pelo que se sabe,
desde que o Homo sapiens se
identificou como um ser diferente dos demais seres que o cercam, formou
comunidades cada vez maiores com os seus, e passou a pensar abstratamente, criou a religião. Essa crença visava
(visa ainda), basicamente responder as perguntas que angustiam o homem: Quem
sou eu? Onde me encaixo? E, desde que a religião passou a existir, prosperou,
ramificou-se, dividiu-se, multiplicou-se por milhares e permeou todos os povos,
culturas e nações.
Contudo, com o
aparecimento da ciência com respostas para quase todas as perguntas, e o tempo
dedicado ao viver moderno, científico e industrial, a religião passou a ocupar
menor espaço na vida das pessoas de um modo geral. Na primeira metade do século
vinte, muitos pensadores achavam que a modernização econômica e social estava
levando ao desaparecimento da religião como elemento importante da existência e
catalisador de comunidades. Claro que essa suposição causava angústia naqueles que deploravam tal tendência, mas agradava aqueles que achavam positivo tal fato.
Os agnósticos e modernizantes aplaudiam o grau que a ciência, o racionalismo e
o pragmatismo estavam eliminando as superstições, os mitos, as crenças, as
irracionalidades e os rituais que constituem o cerne das religiões. A sociedade
que estava emergindo ia ser tolerante, racional, pragmática, progressista,
humanística e totalmente laica. Em contraposição com aqueles conservadores que
viam com preocupação as graves consequências do desaparecimento das crenças e
instituições religiosas, e da orientação moral que elas representam. Diziam que
o resultado seria a depravação moral e a degradação e anarquia social.
Mas o que realmente
está acontecendo? Criou-se um vácuo de crenças por acaso? As religiões
definharam? Bem, não é isso que se observa, os percentuais estatísticos revelam
que a humanidade está “mais” religiosa que antes da hegemonia da ciência e da
tecnologia. Desde a criação das religiões elas tenderam sempre a aumentarem, não só no número de adeptos como no número de
seitas disponíveis. Essa tendência continua, as religiões cristãs se
multiplicam como se houvesse um fermento celestial que as estimula, e o número
de crentes também se incrementa.
Pois bem, constatado
esse aumento de religiões, como ficam aqueles adeptos do racionalismo e do
pragmatismo? Resposta simples, criaram uma religião para si: a internet. Embora nenhum adepto fique
fazendo proselitismo por aí e nem sequer admita a céu aberto que é um seguidor,
a internet é uma religião a qual tem
milhões de seguidores e continua crescendo. Calcula-se que daqui a algumas
poucas décadas será muito maior que as três religiões monoteístas juntas,
cristianismo, islamismo e judaísmo.
A nova religião tem
seus apóstolos como Bill Gates, Steve Jobs (agora um santo, provavelmente) e Stephen
Wozniak. Tem também milhares de acólitos e pastores seculares espalhados por
todos os continentes. Tem seus altares nos domicílios e nas empresas em forma
de monitores, onde os acólitos oram, recebem instruções e fazem seus pedidos,
além de olhar para o futuro e o passado. Tem seus “templos”, chamados redes
sociais, onde os seguidores se reúnem e trocam experiências. Tem até uma escrita
própria que usa os dígitos um e zero para expressar-se.
E, contrário a
outras religiões, os internautas não creem numa vida da alma após a morte, eles
sabem que tudo que restará é o que estiver salvo em seus HDs. Suas preces são
em forma de baites e bits e suas reuniões são virtuais nos chats. Não são
adeptos ao uso de velas e círios, lhes basta elétrons, e que a energia não caia
durante seus rituais. O céu não existe, o que existe e todos desejam é o Cyber space, lá todos se visitam e se
conhecem, embora nunca se tenham visto o mais das vezes. Essa nova religião não
pune, a menos que você tenha violado a privacidade de algum irmão. Existe
pecado? Sem dúvida. Pecado é praticar ou difundir pedofilia pela rede, por
exemplo.
Por ser uma religião
recém desembarcada na civilização ainda lhe falta uma estrutura melhor para
fortalecer o vínculo entre seus seguidores, ainda não existe símbolo que a
identifique cabalmente como a cruz do cristianismo, a estrela de David do
judaísmo e o crescente do Islamismo. Contudo, continuará crescendo e penetrará
em todos os desvãos da sociedade humana num tempo muito breve. Amém. JAIR, Floripa,
25/06/12.
8 comentários:
Bem, não adepto dessa nova religião, uso a internet com parcimônia apenas. Mas pelo que se pode observar por aí, essa religião existe mesmo e tem milhões de seguidores. Parabéns pela postagem.
Por partes:
"...com o aparecimento da ciência com respostas para quase todas as perguntas..."
O gozado é que cada resposta encontrada gera inúmeras novas perguntas.
Quanto à Internet ser uma religião, tenho minhas dúvidas. O único paralelo é a irracionalidade dos adictos. Bem, talvez seja suficiente. Qual é mesmo o dia da festa de São Bill Gates?
Gostei da comparação. Abraços.
Muito bom!
Um outro enfoque:
http://dulcenyz.blogspot.com.br/2012/06/esquizofrenia-virtual.html
Da religião ao fanatismo ou à loucura ...
Enciclopédico amigo,
"A religião é o que impede o pobre de matar o rico.", disse Napoleão Bonaparte.
Meu Jair, depois que essa nova religião oferece até divã para usufruir dos discípulos de Freud só nos resta confessar com Pastor Google.
Amem, internet, amém!
achassot
(rsrs) Bem que tem lá suas diferenças... Porém não sei o que é mais viciante nesse mundo. Tudo que alcança o exagero e escapa de nossa vontade, nossas escolhas e nos domina, tanto no campo religioso como no campo da virtualidade faz mal a saúde. Confio mais é na Anvisa! O bom e velho sinal de alerta: leia a bula e vá com calma.
Ontem li no jornal, um nenê de 1 ano e cinco meses já tem seu tablet; aliás, já existem muitos aplicativos para crianças dessa idade. Pode? E pensar o que disso? Nada, apenas acostumar com essa nova (como você diz) religião! Não tem mais solução.
Abraços.
Cada geração cria seus deuses a sua imagem e semelhança...!
Parabéns pela ótima postagem...
Abraços Fraternos!
SARAVA.
Fabio
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