Diamantes exercem um
fascínio inexplicável sobre os seres humanos. Não se sabe por que povos de
civilizações e culturas completamente distintas, e em lugares distantes uns dos
outros, em um ou outro estágio de suas existências, parecem ter sucumbido à
magia que essas pedras possuem. Diamantes, diferente de outras pedras preciosas
quaisquer, são as únicas gemas constituídas de um elemento apenas: carbono. Na
história contemporânea, embora a maioria – cerca de oitenta e cinco por cento –
da produção de diamantes se destine a uso industrial, são os diamantes usados
na confecção de jóias os quais geram os maiores negócios que chegam a bilhões
de dólares por ano. O centro mundial dos diamantes, onde se fazem as maiores
transações e onde as cotações das pedras nascem, fica na Antuérpia e onde o
gigante do ramo, o grupo De Beers, tem seu centro nervoso.
O grupo De Beers
possui mineradora e empresa comercial de diamantes multinacional que tem
controlado o fluxo de diamantes no mercado EUA por décadas. Talvez um título
mais apropriado seja cartel, a De
Beers foi formada como um grupo de produtores, cujo objetivo era a fixação de
preços, abastecimento de controle e limitação da concorrência, e isso é
exatamente o que a De Beers fez historicamente com o comércio de diamantes. Seu
slogan “Um diamante é para sempre”, traduz a perenidade das gemas, mas bem
poderia invocar a primazia da empresa na produção e comercialização de diamantes:
“De Beers é para sempre”
O nome "De
Beers" originou-se de dois agricultores africanos do sul, Diederik
Arnoldus De Beers e Johannes Nicolau de Beers. Os irmãos De Beers descobriram
diamantes em sua fazenda e incapazes de lidar com a constante tensão de
proteger a fazenda contra o afluxo de aventureiros em busca de diamantes, eles venderam
as terras e as minas. A terra foi local de duas minas de grande porte: Premier
e Kimberly.
A posse dessas minas
deu origem a competição entre grandes companhias e grandes investidores de
forma que no fim das contas surgiu uma empresa De Beers com posse das duas
minas e de outras mais existentes na África do Sul. De Beers Consolidated Mines Limited foi assim formada em 1888. Como
grupo, eles possuíam as minas Premier, a maioria dos Kimberly, e várias outras
minas. Mais de uma década depois a De Beers formou cartel.
Em 1930, Sir Ernest
Oppenheimer, presidente da De Beers Group, surgiu com a idéia de "marketing de canal único", que ele
definiu como "uma 'cooperativa de produtores’, incluindo a grande parte externa,
ou não de produtores da De Beers em conformidade com a crença de que apenas
através da limitação da quantidade de diamantes colocados no mercado, em
conformidade com o pedido, e com a venda por um meio de canais, pode a
estabilidade do comércio diamante ser mantida". Na prática, o que Oppenheimer
quis dizer com “limitação da quantidade”
é que através do controle da oferta, limitada apenas pela estrita observação da
demanda, os preços poderiam ser mantidos lá no alto e as pedras gerariam lucros
astronômicos. É o que acontece até hoje em nível mundial. A De Beers estipulou
que colocaria à venda nos EUA um número de diamantes correspondente a exata
quantidade de casamentos previstos no ano, assim não haveria excesso de oferta
e os preços seriam mantidos, ou aumentados de acordo com a vontade de Sir Ernest.
Considerando que nos EUA o costume dita que as noivas ganham um anel de
diamantes ao receberem o pedido de casamento, a estratégia da De Beers foi (e continua
sendo) tremendamente bem sucedida. Hoje um anel de noivado com diamante de boa
qualidade de um quilate custa em torno de oito mil dólares. Na mina ou no
garimpo um diamante assim custa de duzentos a trezentos dólares.
Esta estrutura nova
do marketing de canal único, eventualmente, veio a ser conhecida como a Central Selling Organization (CSO). Basicamente,
Oppenheimer formou um cartel com a
premissa de que ele estava operando uma empresa legítima. Ele colocou para fora
toda a competição e manteve o domínio sobre o fornecimento de diamantes,
elevando seu valor e raridade através de uma oferta limitada que a De Beers distribuiu
cuidadosamente. É legítimo dizer que desde então a De Beers tem possuído e
controlado cerca de 90% da produção de diamantes no mundo, assim eles podem
controlar a "raridade" e valor e manter um controle sobre a indústria
lucrativa. Muitos dos seus negócios são obscuros, e eles são conhecidos por
especial crueldade contra os seus concorrentes.
Além dessa óbvia
jogada que mantém os diamantes sempre em alta, a De Beers foi acusada de ser
cúmplice dos contrabandistas e guerrilheiros de Serra Leoa que, nos anos 80 e
90, extraiam diamantes através de trabalho escravo, e vendiam as pedras para
comprar armas. Os trabalhadores dos garimpos eram mantidos sob regime de terror
onde qualquer falta era punida com o decepamento da mão ou das mãos. Esse
triste episódio deu surgimento à produção de “Diamante de sangue”, filme
estrelado por Leonardo Di Caprio que relata a crueldade dos rebelados para com
os garimpeiros de Serra Leoa.
Os diamantes não são raros, e a única razão de parecerem raros é por causa da De
Beers. Sua regulamentação estrita de diamantes apóia preços ridiculamente altos
e um valor artificialmente inflado e que permanece até hoje. E parece que
governos e órgãos internacionais nada fazem a respeito porque diamantes não são
gêneros de primeira necessidade, aliás, nem de última necessidade, o mundo pode
passar perfeitamente bem sem eles, então a De Beers vai continuar dando as
cartas e faturando bilhões “para sempre”, como diz o slogan deles. JAIR,
Floripa, 01/07/12.
11 comentários:
Olá,
Ótimo texto explicando a caristia dos diamantes. Bjos
Coisa parecida está acontecendo com o nióbio brasileiro...
Abraços, amigão.
Pois é, o estranho nesse monopólio por parte da De Beers é que, a rigor, ninguém precisa de diamantes, então seria, teoricamente, contraproducente estabelecer preços altos e escassez artificial. Num caso desse, segundo as teorias econômicas (estudei economia), as pessoas deixariam de comprar, mas na prática acabam comprando até com sacrifícios em alguns casos. Dá prá entender?
Parabéns pela postagem.
http://www.youtube.com/watch?v=bSiIM07bELI
Acho que essa foi a aula mais cara do mundo!! A peso de Diamante. Adorei ter lido e conhecido mais.
Abraços
Tais
olá seguindo,segui de volta bjs
http://pinkbelezura.blogspot.com.br/
Adorei sua explanação sobre a história da ganância e da exploração ocasionadas pelo alto valor dos diamantes...
BRILHANTE!
Abraços...
Incrível esta reportagem, pois desvenda como uma empresa criou um mercado e ditou hábitos de consumo de forma a assegurar sua própria existência!
E ainda mantendo os preços lá em cima!
Ainda bem que por aqui não cultivamos tanto este hábito de pedir a mão a troco de um anel de brilhantes, senão muita gente já começaria a vida de casado cheio de dívidas...
Excelente post, Jair!
Abraços!
Maravilhosa explicação, Jair. Muita coisa aqui a gente de fato não sabia!!
Ou seja, quase tudo, tirando apenas
- o monopólio (intragável, como qualquer outro!)
- a "raridade" falsa das pedrinhas "verdadeiras"
-o cartel...
Obrigada pelas informações e dicas, amigo! Muito pertinentes! Eu tb estou para me casar (oficialmente) e já encontrei o jeito de "não esperar um anel com a tal "pedrinha"! Coitado do meu amado marido!!!rs(Mesmo porque eu vivo muito bem sem ela...)
Uma pergunta que não quer calar, Jair:
-Onde é que você foi "garimpar" esta postagem tão "rica"???rs
Grande abraço!
OI JAIR!
ACHEI LEGAL ESTA LEITURA E ORIENTAÇÃO A RESPEITO DOS DIAMANTES.
MAS, A QUE SE ATRIBUI ESTE FASCÍNIO QUE EXERCE SOBRE AS PESSOAS, TÃO BEM DITO NO INICIO DO TEXTO?
AO PREÇO, QUEM SABE.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
Click AQUI
Muito estimado Jair,
como o R,R. Batcellos já referiu aqui o quanto nióbio, mais precisamente o Coltan{= mistura de dois minerais: Columbita e Tantalita. Em português essa mistura recebe o nome columbita-tantalita. Da columbita se extrai o nióbio e da tantalita, o tântalo] é como o diamante, o ouro e outros minerais catalisador de ódios e morte de menos apossados.
Por outro lado me pergunto sempre, porque o ouro, metal menos útil que o ferro, por exemplo, e todos os tempos e em todas as geografias tão cobiçado.
Abraços interrogantes,
Attico chassot
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