Já publiquei textos
referentes ao desgoverno de Mao Tse-tung, o qual foi mandatário mor da China
entre 1949 e 1976, ano de sua morte. Apesar de lembrar as monstruosidades que o
líder comunista cometeu contra seu próprio povo para alcançar e se manter no
poder, descalabros que custaram a vida de 70 milhões de chineses, me ative
apenas à moldura tétrica da vida privada de um homem que sob quaisquer aspectos
individuais não era um exemplo de ser humano ou cidadão a ser seguido. Mau
marido, péssimo comandante de tropas, extremamente mordômico, covarde, lascivo,
egocêntrico, desprovido de compaixão ou sentimentos para com o próximo, traidor
de amigos, companheiros de partido e das esposas (teve quatro ao longo da
vida), não tomou banho por mais de vinte anos e nunca escovou os dentes.
Durante os anos
trinta e quarenta do século passado, Mao já filiado ao PC chinês e, junto com
outros camaradas, formou tropas para instituir uma revolução comunista na China
que se encontrava semi invadida pelos japoneses e semi governada pelo general
Chang Kai-shek. A fim de tornar-se comandante das tropas, seguidamente traia
seus pares induzindo-os a entrarem em combate contra tropas nacionalistas
melhores armadas, bem posicionadas e bem treinadas para que fossem massacrados.
Diante dos fiascos anunciados, Mao mandava executar os comandantes e assumia o
comando. Covarde como era, jamais entrou em combate ou compareceu aos campos de
batalhas. Sua ascensão custou centenas de milhares de vidas, mas isso nunca lhe
causou qualquer arrependimento ou remorso.
Casou-se pela segunda
vez durante essa época de lutas, mas sua esposa, embora lhe tenha dado dois
filhos, um dos quais com problemas mentais, foi morta por tropas nacionalistas
quando estas invadiram a aldeia na qual vivia. Mao encontrava-se nas
proximidades comandando tropas cinco vezes mais numerosas que as invasoras, mas
não fez qualquer gesto para salvar sua esposa, deixou-a ser morta depois de
torturas horríveis mesmo sendo informado por seus espiões que isso ia ocorrer.
Durante a “Longa
Marcha”, empreendida em 1934 com 80 mil homens que fugiam das tropas de Chiang
Kai-shek, Mao se fez conduzir em liteira levada por ombros de quatro homens em
condições terríveis. Sua natureza mordômica fez com que só pernoitasse em
mansões arrestadas de chineses ricos que eram expulsos ou mortos a mando de
Mao. Os demais componentes do assim chamado “Exército Vermelho” dormiam ao
relento, mesmo no rigoroso inverno das montanhas.
Desde essa época,
Mao costumava rodear-se de belas garotas as quais tinha por amantes – muitas
vezes a força – e as dispensava assim que “enjoava” delas, adquirindo outras em
seguida. Esse hábito durou toda sua vida e foi tolerado pelas esposas, pois
estas não tinham como contrariá-lo porque corriam o risco de “desaparecer”. Mao
cercava-se de homens competentes para “carregar o piano”, mas estes não
poderiam fazer sombra a ele. Chou En-lai é dessa época e só conseguiu
sobreviver porque era poliglota, articulado e fazia a ligação com os russos os
quais forneciam as armas que o Exército Vermelho necessitava.
Depois da subida ao
poder em 1949, Mao continuou sua política de terror para manter-se no poder e
transformou a China num grande campo de concentração onde as pessoas só tinham
direito de trabalhar até a exaustão e morte em nome do comunismo. Os direitos
deixaram de existir, não havia constituição e o que valia era o “Livro Vermelho
dos Pensamentos de Mao”, uma compilação de frases nas quais ele determinava por
parábolas todas as ações da vida de todos. Seus pensamentos, mal comparando,
eram a bíblia do povo chinês.
Mao lia muito desde
criança, sempre gostou de livros e sua cama era bem larga para acomodar muitos
livros os quais estava lendo. Durante a Revolução Cultural comandada por ele a
partir de 1966, mandou queimar todos os livros ocidentais ou de autores
chineses “não autorizados”. Aproveitou para aumentar sua biblioteca de livros
raros, todos roubados por seus Guardas Vermelhos quando seus verdadeiros donos
foram presos ou mortos por possuí-los. Mao orgulhava-se dessa biblioteca e
fazia questão de receber e ser fotografado ao lado de mandatários estrangeiros
em frente às prateleiras abarrotadas de livros roubados.
Durante seu
desgoverno mandou construir muitas mansões em vários lugares do país para se
hospedar quando viajava. Várias dessas moradias jamais foram usadas,
permaneciam fechadas para a eventualidade de que viesse a ocupá-las. As
luxuosas construções continham sempre abrigos atômicos e túneis de fuga para o
caso de ser necessária uma saída de emergência. Todas continham piscinas
aquecidas e eram localizadas em locais aprazíveis onde os camponeses foram
expulsos para isolar o Grande Líder.
Como Mao nunca
escovou os dentes e mantinha o hábito de fumar desde muito jovem, seus dentes
eram enegrecidos, cariados e ele tinha mau hálito, verdadeiro bafo de bueiro,
segundo quem o conhecia. Em pouquíssimas fotos aparece sorrindo e, quando isso
acontece, os assessores de imagem costumavam disfarçar seus dentes pretejados,
mas isso nem sempre era possível de modo que existem fotos que mostram sua
dentição horrorosa. Mao deixou de tomar banho em 1949, só permitia ser
esfregado com toalhas úmidas por suas camareiras durante o verão. Imagina-se
que não tivesse um odor muito atraente.
Apesar da fome que
grassava em virtude de suas políticas desastradas quase todo o tempo que foi o
“Grande Timoneiro” do país, Mao vivia na fartura e sua comida vinha de certas
regiões da China que produziam galinhas, arroz e porco só para ele. Sua comida
era exclusiva e não era permitido a ninguém comê-la, a não ser seu provador
oficial o qual experimentava os pratos para verificar se não se encontravam
envenenados. Mao temia envenenamento por que havia mandado envenenar um de seus
acólitos que lhe fazia sombra durante sua ascensão.
Ao fim da vida,
quando soube que Chou En-lai estava com câncer na bexiga, impediu que fosse
tratado porque queria viver mais que seu êmulo o qual, sob todos os aspectos
era melhor que ele, Mao. Mao se sentiu realizado quando em 08 de janeiro de
1976, Chou veio a falecer vítima do câncer não tratado. Em nove de setembro de
1976, Mao Tse-tung morreu. Permaneceu lúcido até o fim e em sua mente havia
apenas um pensamento: ele e seu poder.
Não deixou herdeiros políticos, testamento ou filhos homens, o mais velho havia
morrido na guerra da Coreia e o outro num manicômio na década de cinquenta.
JAIR, Floripa, 31/08/11.
10 comentários:
Registe-se ainda que Mao, além de poeta de estilo clássico, é autor de uma vasta produção escrita, de carácter político, ideológico e de doutrina militar, em tom ora polémico ora didático, que são o reflexo e a expressão da sua luta e das suas ideias.
Abraço
Paulo
Que "dupla infernal" (junto com o Stalin !), heim ??!!
Muito interessante, ao longo do texto tem-se a impressao de se estar lendo sobre alguem que viveu a pelo menos 3 ou 4 seculos atrás. No entanto, isso tudo aconteceu na China muito recentemente. Incrivel como em apenas 50 anos, a historia de um país pode mudar tão radicalmente.
Parece coisa bastante comum, mandatários tiranos que regam seus governos com sangue, sempre são covardes. Mao não fugiu a regra. Ótimo texto, parabéns.
Muito estimado Jair, independente de qualquer avaliação histórica, permito-me registrar que, quando estive na China, no ocaso do 20, conotei num sebo um "livrinho vermelho" daquelas edições que os militantes levavam nas marchas. Tenho também em português edição de suas obras que são preciosidade.
Por tal foi muito bom ler teu texto.
Com admiração, attico Chassot
Difícil mesmo é achar uma má qualidade que este tirano não tivesse!
O engraçado é que as barbaridades ocorridas na China são quase nunca comentadas no ocidente...
Belo resgate, Jair!
Gostei muito. Algumas peculiaridades aqui descritas eu desconhecia. Eu tenho um livro da Hedda Garza, que descreve "O pai sagrado da revolução chinesa como sendo, em alguns momentos, um relevante líder de um povo que , deveras era oprimido por mais um daqueles governos tiranos que despontaram no século vinte. Mas enfim, ainda que sua natureza tenha sido sinistra, a sua inteligência, liderança, a sua perspicácia política e militar é inegável. ("Muitos" ainda o cultuam)
Mao, Idi Amim e outros do mesmo quilate representam o lado mais execrável do chamado "culto à personalidade".
Muito bom texto.
Abraços.
É sempre bom saber um pouco mais...
Ótima postagem!
Parabéns pela qualidade...
O comunismo é algo desprezível, e a politica chinesa, até hoje, relega o ser humano a condição de escravo do estado.
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