Vez ou outra as
mídias abrem espaço para mostrar a Coreia do Norte e suas excentricidades, incúrias
e aberrações, seja porque os militares norte-coreanos bombardearam uma pequena
ilha da Coreia do Sul matando civis, ou porque torpedearam um navio no mar
Amarelo matando todos os tripulantes e passageiros. No dia 17 de dezembro de
2011 ocorreu a morte do líder norte-coreano Kim Jong-il, o qual herdara a
liderança do país de seu pai, Kim Il-sung, estabelecendo uma estranha dinastia
que se diz “militar-partidária-comunista”, nessa ordem. Agora quem comanda a
máquina de opressão àquele povo é o filho mais novo de Jong-il, Kim Jong-un, o
qual, dizem, estudou ma Universidade de Princeton, mas é tão ou mais cruel e
elitista que seu pai.
Pois é, embora o
estranho regime desse país seja um dos mais fechados e despóticos do mundo,
graças as suas fronteiras, ao norte com a China e ao sul com a outra Coréia,
algumas informações têm saído para o exterior através dos desertores que
conseguem vazar para esses vizinhos. A partir da década de noventa do século
passado houve uma terrível crise de fome em consequência da centralização
absoluta da agricultura que não conseguiu superar a falta de fertilizantes
depois que a Rússia deixou de fornecê-los. Daí, meio que para contornar a fome
que matava centenas de pessoas por dia, o regime começou a fazer vistas grossas
quando milhares de desempregados, sem quaisquer perspectivas, cruzavam a
fronteira rumo à China numa região que é, desde o término da guerra em 1953,
habitada por coreanos deslocados. Embora as regiões agrícolas da China sejam
paupérrimas em contraste com as cidades grandes como Beijing, por exemplo, para
os coreanos é muito melhor trabalhar como escravos para aqueles agricultores em
troca de comida, do que morrer de fome na Coreia do Norte.
Desde 1990, a Coreia
do Norte tem sido incapaz de cultivar ou distribuir alimentos em
quantidade suficiente para suprir as necessidades de sua população. Em meados
da década de 1990 a fome matou mais de um milhão de norte-coreanos. Esse
desastre só foi aliviado quando o fechado governo concordou em aceitar auxílio
internacional. Num estranho contorcionismo ideológico, os EUA continuaram a ser
o “demônio” que quer o fim de todos os norte-coreanos, ao mesmo tempo que se
tornaram o maior doador de alimentos, equipamentos agrícolas, fertilizantes, combustíveis
(o país não produz petróleo) e remédios. Por outro lado, mesmo que tecnicamente
a guerra com a Coreia do Sul não tenha terminado ainda, pois o que há entre os
dois países é apenas um cessar fogo, esta se tornou o grande esteio sobre o
qual se apóia a Coreia do Norte para não naufragar de vez na fome total, aquele
país, desde a década de noventa, envia centenas de milhares de toneladas de
alimento aos famintos norte-coreanos.
A Coreia do Norte
precisa produzir mais de cinco milhões de toneladas de cereais por ano para
alimentar seus mais de 23 milhões de habitantes, mas, todos os anos tem déficit
em torno de dois milhões de toneladas. Durante o regime comunista na URRS, o
déficit produtivo da Coreia era compensado pelas maciças importações a preços
subsidiados, depois que a cortina de ferro se rompeu, os subsídios cessaram e a
economia centralizada do país desmoronou.
Em 2008, quando uma
nova liderança em Seul cortou a ajuda que fazia à Coreia do Norte, em forma de
fertilizantes gratuitos, o regime tentou fazer em regime nacional o que vinha
fazendo a décadas nos campos de trabalhos forçados. Os cidadãos foram
instruídos a fabricar toibee, um
fertilizante a base de cinzas misturadas com excremento humano, ou seja, merda
e cinza passou a ser a redenção nacional. Nos últimos anos, merda foi recolhida
de banheiros públicos em cidade e vilas de todo o país. Fábricas, empresas
públicas e bairros inteiros receberam ordens de recolher os dejetos e produzir
duas toneladas de toibee por mês,
segundo uma organização filantrópica budista que tem informantes clandestinos
no país. Mas esses fertilizantes não atendiam e não atendem nem em quantidade
nem em qualidade as necessidades da agricultura, de forma que a fome continua e
até se agrava em certas regiões.
Na primavera de
2010, quando a escassez de comida voltou a se tornar mais severa ainda, o
governo tentou convencer os citadinos a voltar ao campo e se dedicar a
agricultura. Claro que, cidadãos não afeitos as lidas do campo não estavam
habilitados a promover uma “revolução verde” como queria o regime, o plano tem
sido um fracasso total e a fome se agrava.
No momento, 2012,
dezenas de milhares de norte-coreanos se dirigem a fronteira da China onde
pretendem trabalhar até conseguir algum dinheiro para migrar para a Coreia do
Sul onde, segundo uma lei aprovada em 1953, receberão certificados de cidadãos
e terão todos os direitos dos nativos. Não esquecendo que a economia da Coreia
do Sul é 32 vezes maior que de sua congênere que professa um regime “militar-partidário-comunista”,
que gasta mais de 5% de seu PIB em despesas militares, se empenha em possuir
armas nucleares, mas tem um dos índices de desenvolvimento mais baixos do
Planeta, sem contar que é um povo triste e depressivo que só ri ou chora sob
comando do regime.
Além do mais, o
regime faz lavagem cerebral nos cidadãos convencendo-os que vivem no melhor
país do mundo, uma espécie de paraíso na Terra. Paraíso que mantém campos de
prisioneiros há mais de cinquenta anos, onde os supostos inimigos do ditador de
plantão são internados por toda a vida sem qualquer chance de um dia sair, onde
os filhos dos prisioneiros nascidos nos campos são automaticamente inimigos da
aristocracia que manda no país e também jamais saem detrás de suas cercas
eletrificadas. JAIR, Floripa, 14/06/12.
4 comentários:
Uma boa mostra do que uma ideologia utópica pode fazer, quando usada por pessoas com sede de poder e sem nenhuma consideração pelo seu próprio povo!
E, ao seu lado, a Coréia do Sul, um país com o mesmo povo, que, depois que se libertou dos corruptos governos-fantoches subsidiados pelos EUA, alcançou o desenvolvimento através de uma chave chamada EDUCAÇÃO!
Tem gente querendo seguir o primeiro exemplo!
Excelente e esclarecedora matéria, que deveria aparecer em alguns órgãos de imprensa, para informação do povinho!
Abraços, Jair!
Se podemos chamar assim, a "cortina de bambu" esconde um dos crimes mais hediondos do mundo: Crime contra a humanidade. Bom texto, parabéns.
Jair.
um paradoxo:
:exército imenso e armado e povo faminto, no século 21
achassot
A Coréia do Norte é uma das poucas nações que ainda perpetua a herança autoritária da ex U.R.S.S., com a possivel queda dessa ditadura num futuro próximo, o processo de ocidentalização o lado de trás da cortina de ferro estará completo...
Texto de alta qualidade!
Parabéns;
Abraços...
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