Logo depois da
segunda grande guerra o mundo civilizado se viu frente a duas ideologias
opostas que, de diferentes formas, queriam impor suas vontades políticas,
econômicas e colonialistas ao resto do mundo. Na pratica, o lado “ocidental”
representado pelos EUA opunha-se ferozmente a tudo que viesse da então União
Soviética que apregoava uma visão de sociedade que se contrapunha à “nossa”
visão. No campo militar as duas superpotências empreenderam várias guerras “por
procuração” onde os embates se faziam em outros países com armamentos,
suprimentos e acessoria das potências antagônicas. As guerras no oriente médio
envolvendo árabes e israelenses eram (ainda são em certa medida) emblemáticas
desses atritos entre EUA e URSS. Assim foi na Coréia onde tropas mistas de
coreanos e chineses recebiam armamentos dos soviéticos e lutavam contra os EUA
e seus aliados. Vietnã representou outro local em que as potências se
enfrentavam por procuração. Em Angola, embora não houvesse atividade direta de
tropas do ocidente, havia apoio com armas de um lado e de outro. Kosovo na ex Iugoslávia marcou a presença de bombardeios da ONU capitaneados pelos EUA,
e tropas assistidas e armadas pela URSS do outro lado. No Afeganistão as tropas
soviéticas se atolaram contra guerrilheiros armados com mísseis Sting fornecidos pelos americanos. Destaque-se
que, em 1962, em Cuba, foi a única vez que as duas potências estiveram
cara-a-cara e arreganharam os dentes diretamente uma para a outra. Houve,
durante o período, inúmeras frentes de baixo impacto como em Granada, no
Panamá, na Bolívia, na Líbia e alguns países africanos que bem ilustram essa
rivalidade.
Com o fim da chamada
Cortina de Ferro, depois que o regime socialista da URSS se desfez, parecia,
finalmente, que o motor que impulsionava a história havia perdido sua força
motriz e parara. As ideologias conflitantes deixariam de existir depois que a
Rússia seguida de seus ex-satélites adotou a democracia como forma de governo e
o capitalismo como opção econômica. Foi aí que ficou famosa a tese de Francis
Fukuyama, filósofo nipo americano que publicou um trabalho que o tornou famoso
que apregoava o “fim da história” já que não havia mais antagonismos
ideológicos que a impulsionasse. Também eu, como a maioria das pessoas, não li o
trabalho de Fukuyama, mas a enorme massa de referências a ele faz com que sinta
certa “intimidade” com a tese.
Todo mundo admitiu e
levou em conta que a Guerra Fria (A História, segundo Fukuyama) acabou. Será
verdade mesmo? Vejamos. A Síria, com mais de 22,5 milhões de habitantes, é
palco da mais violenta repressão contra opositores ao regime entre os países da
chamada "Primavera Árabe", que começou no final de 2010 quando um
jovem tunisiano ateou fogo ao próprio corpo como forma de protesto às condições
de vida naquele país do norte da África. Desde então, quatro ditadores de países da
região - Ben Ali, da Tunísia, Hosni Mubarak, do Egito, Muamar Kadafi, da Líbia,
e Ali Abdullah Saleh, do Iêmen - foram depostos ou mortos. Bashar al-Assad,
ditador vitalício da Síria, contudo, segue firme no poder, enquanto a população
acusa o regime de uma brutal repressão. Foram registrados mais de treze mil
mortos entre civis desde que começou a rebelião.
Como pode uma
rebelião mostrar tanto vigor e fôlego e com quais fontes de armamentos pode
contar? Como uma ditadura altamente impopular se opõe a resoluções da ONU e
mantêm-se firme no combate à rebelião? Pois é, a guerra fria não acabou, e, segundo Samuel P. Huntington, o que temos
agora é um "choque de civilizações". Armamentos e suprimentos são fornecidos aos
rebeldes pelo ocidente (leia-se EUA) e China e Rússia não só apóiam Assad com
todo armamento mais moderno (Kalashnikovs, leia também “A harpa do demônio”
(06/02/11) neste blogue), como se opõem que o Conselho de Segurança da ONU
reprove ou intervenha nas ações do ditador. Quem achava que a guerra fria tinha
acabado pode reformular sua opinião, enquanto houver ditadores de quaisquer cores
ideológicas dispostos a oprimir seus concidadãos, haverá uma “potência”
estrangeira disposta a apadrinhá-los por motivos nem sempre muito claros já que
a dicotomia leste-oeste representado os bons de um lado (qualquer lado,
dependendo se estamos no ocidente ou no oriente) e os maus do outro, deixou de
existir. A guerra fria está mais quente que nunca. JAIR, Floripa,
23/07.12.
7 comentários:
A história é quase linear e totalmente imperativa, ela estabelece uma linha de conduta e cobra dos figurantes adesão total ao roteiro, não há escapatória. As forças antagônicas que movem oeste e leste a se digladiarem não podem ser revogadas, são iguais a lei da gravidade. Enquanto houver homens e sociedade com culturas diferentes, haverá guerras, querer ou esperar o contrário é sonhar um sonho irrealizável. Os de lá e os de cá só estão dançando a mesma música que determina para toda suas existência como devem dar seus passos. Parabéns pelo ótimo texto.
São as leis inexoráveis da Dialética. A tese - a ditadura - gera sua própria antítese - a resistência - e há o conflito, que se resolve na síntese - a derrubada do regime. E esta, por sua vez, evolui para uma nova tese - um novo tipo de imposição - e o ciclo recomeça.
Abraços.
Mesmo que não seja mais o comunismo contra o capitalismo, continua a queda de braço entre China e Rússia de um lado e EUA e seus aliados de outro!
A questão da Síria é uma boa amostra disto: para variar, a dupla do oriente, no conselho de segurança da ONU, defendeu o ditador da Síria de uma intervenção militar.
De uma forma ou de outra, a guerra fria continua...
Brilhante enfocada, Jair!
Abraços!
Jair,
Tentei encontrar o " fim da história" do Fukuyama mas há apenas um exemplar na estante virtual!
http://www.estantevirtual.com.br/paolalivros/Francis-Fukuyama-O-Fim-da-Historia-e-o-ultimo-Homem-67549682
De todos os modos, gostaria de sugerir a leitura do Fareed Zakaria, em " o mundo pós-americano" que tem a mesma linha do Huntington e demais figuras da área. Grande livro!
http://www.estantevirtual.com.br/q/fareed-zakaria
Abraços,
Filipe(amigo da Wanda)
Na minha humilde opinião, acredito que a Guerra Fria ainda não acabpu, e esta longe de acabar...
Ótimo Texto!
Recomendarei aos meus alunos...
Abraços e Parabéns!
Olá.
Postagem divulgada no Portal teia.
Até mais
O ser humano, de tão simples termina por ser complicado demais.
Cadinho RoCo
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