Há indícios que
desde o aparecimento do Homo sapiens
sobre a superfície do Planeta começou uma sistemática, inexplicável e absurda
prática de matança de outros seres de forma que, em muitos casos, estes não
conseguiram dar prosseguimento as suas sobrevivências como espécies e
extinguiram-se. Alguns arqueólogos chegam a sugerir que o extermínio dos
mamutes peludos, há cerca de dez mil anos, está relacionado com a caça
indiscriminada que o homem praticou nas planícies da Europa e Ásia. Embora essa
matança de paquidermes não possa ser comprovada, existe uma destruição, de
vidas animais, real e terrível nos tempos atuais, devidamente comprovada e
documentada.
Durante muitos séculos,
o búfalo, - na verdade búfalo é outro animal, mas o Bisão americano é erroneamente chamado de búfalo – representou a
fonte de proteínas básica da vida para os nativos da pradaria americana. A pele
era matéria prima para confecção de roupas e abrigos contra o frio.
Tribos tinham vivido
vidas nômades, em grande parte seguindo as manadas pelas pradarias, durante
muito tempo, mas havia um equilíbrio que mantinha as manadas móveis e numerosas
e os nativos alimentados e abrigados, a natureza não se ressentia da predação
humana. Claro, na década 1870 não havia (como já existira) tantos como 50
milhões de búfalos nas planícies norte-americanas, mas havia manadas tão
extensas que levava vários dias sua passagem por algum ponto.
Compreendo a completa
dependência do índio pelo búfalo, os líderes do governo no século 19 lançaram
uma campanha para eliminá-los (os bisões), e assim, forçar os índios adotar um
estilo de vida sedentário e de fácil manejo em reservas, mais de acordo com as
noções dominantes europeias de propriedade privada e "civilização". O
Secretário do Interior Columbus Delano fez as seguintes observações em 1873: “A civilização do índio é impossível enquanto
o búfalo continua nas planícies. Eu não lamento a sério o desaparecimento total
do búfalo de nossas pradarias ocidentais, em seu efeito sobre os índios, considerando-a
como um meio de apressar o seu sentimento de dependência dos produtos do solo e
seus próprios trabalhos”. Equivalia dizer que índio sedentário era índio
dominado, e assim os bisões deveriam ser extintos
Em seguida, três
avanços tecnológicos estimularam o abate rápido do animal. A demanda por couro
de bisão surgiu quando um método novo de curtir o couro foi desenvolvido. O
método permitiu tornar a pele suave para confecção de casacos e jaquetas. O
outro avanço era o desenvolvimento do rifle de repetição, permitindo que os
caçadores matassem os animais em grandes números. Por último, a construção de
ferrovias para o Far West (Oeste
longínquo) facilitou o deslocamento
tanto de caçadores profissionais quanto de “desportistas” que usavam o trem
para acessar as planícies repletas do bovídeo. Dizem que gente rica alugava
trens que cruzavam as planícies e atiravam indiscriminadamente nas manadas ao
alcance de suas armas com miras telescópicas. Matar os bovinos selvagens
tornou-se um esporte maldito, “atletas” da Grã-Bretanha viajavam para as
planícies americanas para tomar parte na caça. Até o final da década de 1870,
milhões de bisões foram abatidos por motivos de lucro e esporte. Foi nessa
década que William Frederick Cody, conhecido como Buffalo Bill, tornou-se uma
celebridade por ter matado milhares de bisões em curto espaço de tempo, como se
caçar bichos indefesos fosse heroísmo. O pior, a maioria dos animais abatidos
não trazia benefício a ninguém, as carcaças apodreciam nas planícies
perdendo-se o potencial de proteínas e o couro que poderia servir para algo
útil, apenas ossos, anos depois, foram usados como matéria prima para
fertilizantes.
Temendo a fome, muitos
nativos concordaram em assinar tratados com o homem branco. Muitos desistiram
do modo nômade de vida e concordaram em viver nas reservas. Dentro de pouco
tempo, um modo de vida que tinha sobrevivido ao longo dos séculos se foi. Os
nativos tinham se submetido aos métodos desumanos que lhes tirou a principal
fonte de proteínas.
Agora nos chega a
notícia da morte do último macho conhecido da tartaruga-das-galápagos-de-pinta
(Chelonoidis nigra abingdoni) uma subespécie
de tartaruga terrestre endêmica da ilha de Pinta, no arquipélago de Galápagos. George,
o solitário, como era conhecido o velho quelônio, passou a ser o mais novo
troféu para a sala de suvenires do
bípede imbecil, Homo sapiens. George
tornou-se o único espécime conhecido depois que o homem introduziu na ilha de
Pinta, cabras que devastaram a vegetação levando as tartarugas à virtual
extinção. Na sala de troféus que já tem o último Dodô das Ilhas Mauricio, o
último Tilacino (lobo da Tasmânia) da Austrália, o último Moa da Nova Zelândia;
a última Ararinha Azul do Cerrado, do Brasil e milhares de outros mamíferos,
peixes, insetos, aves e répteis. O Bisão americano só não teve o mesmo destino
por que uns poucos fazendeiros viram a espécie como utilizável para cruzamento
com o bovino europeu, resultando o que se convencionou chamar Beefalo,
um animal extremamente resistente a doenças, que bebe pouca água, alimenta-se
de pasto natural e fornece carne de excelente qualidade.
O extermínio das
espécies só acabará no dia em que o último Homo
sapiens empalhado for exibido como troféu na sala de algum alienígena que
tiver visitado a Terra. JAIR, Floripa, 27/06/12.
8 comentários:
A extinção natural já vitimou 99 % das espécies que já surgiram no planeta. Mas sempre houve um saldo positivo pelo surgimento de novas espécies a partir das extintas. O que estamos fazendo é desequilibrar essa delicada balança - para o lado da morte.
Abraços.
Abraço, desde Portugal.
Paulo
No que diz respeito aos mamutes, eu já ouvi e me recuso a aceitar esta hipótese que os humanos ou humanóides existentes naquela epoca tivessem causado seu extermínio, até porque um único animal poderia alimentar centenas de indivíduos.
Há indícios de que sua extinção tenha sido causada por uma das grandes catástrofes que atingiram nosso planeta.
Mas, é revoltante este extermínio dos bisões por esporte, ou por interesses ainda mais escusos!
Imagine o que pensaram os índios, ao verem as carcaças apodrecendo nas planícies...
Mas espero que não acabemos empalhados no museu alienígena, apesar dos males que fizemos...
Grande post, Jair!
Para variar...
Abraços!
Muito legal o texto de hoje Jair, não sabia que Buffalo Bill era por isso... É uma pena...
Um abraço.
Rafael
Jair, o Polímata, o texto traz como clausura uma admirável síntese: O EXTERMÍNIO DAS ESPÉCIES SÓ ACABARÁ NO DIA EM QUE O ÚLTIMO HOMO SAPIENS EMPALHADO FOR EXIBIDO COMO TROFÉU NA SALA DE ALGUM ALIENÍGENA QUE TIVER VISITADO A TERRA.
Isso diz tudo,
attico chassot
É triste e revoltante ao mesmo tempo...
Ótimo texto!
Parabéns meu amigo...
Jair.
Trecho da carta que ficou conhecida como "Manifesto do Cacique Seatle" que este enviou em 1855 à Franklin Pierce, presidente dos Estados Unidos, depois que o mesmo deu a entender que pretendia comprar a terra dos índios e envia-los para uma reserva.
"O grande chefe de Washington manda dizer que pretende comprar nossa terra. Vamos pensar sobre o assunto pois sabemos que se não aceitarmos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra...Não somos donos do ar nem da terra, como então podemos vende-los?... Cada praia arenosa, cada inseto a zumbir é importante na conciência e na tradição do meu povo... Porém se decidirmos aceitar, farei uma condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo na pradaria abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que nós, índios, matamos apenas para o sustento de nossas vidas. O que seria do homem sem os animais? Se todos os animais acabassem o homem morreria de uma grande solidão de espírito porque tudo quanto acontece aos animais, acontece também ao homem. Tudo está relacionado entre si..."
Em tempo: Calcula-se que ao longo da sua vida Búffalo Bill matou mais de 40.000 (QUARENTA MIL) búfalos.
Abraços de com força,
Joel.
Joel,
se eu soubesse dos números a respeito do Buffalo Bill teria colocado no texto. De qualquer forma, obrigado, JAIR.
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