A Constituição
Brasileira, e, supõe-se, a maioria absoluta das constituições democráticas, foi
erigida sobre suporte sólido, na ausência do qual o “edifício” Carta Magna não
poderia se sustentar. Esses alicerces que suportam toda a estrutura legislatória
do Estado são chamados cláusulas pétreas,
itens “duros como pedra”, ou seja, são dispositivos impossíveis de mudança
formal, constituindo o núcleo irremovível e irreformável da Constituição,
impossibilitando qualquer discussão ou apreciação de matéria visando remover ou
abolir esses princípios. No artigo 60 da Constituição, parágrafo 4º, estão as
tais cláusulas: A forma federativa de Estado; O voto direto, secreto, universal
e periódico; A separação dos Poderes; Os
direitos e garantias individuais.
Obviamente não
precisamos nem mencionar que “Os direitos e garantias individuais” são, de
longe, os mais importantes. Esses direitos incorporam, na íntegra, a Declaração
dos Direitos Universais do Homem, sendo que direito à vida, embora capitulado explicitamente na Constituição é
o núcleo duro de todos os direitos não cabendo qualquer discussão a respeito.
Então quero ir um
pouco mais longe, se torna-se necessário explicitar certos direitos, outros são
tão óbvios e de tão marcada importância que discutir sobre a necessidade de
incluí-los ou não na lei é ocioso. Vejamos, portanto. Alguém tem dúvida que a
existência da humanidade e sua preservação é um direito implícito e irrevogável?
Pois é, legislar sobre esse direito, sob qualquer pretexto, é de uma imbecilidade
piramidal, mas é isso que se está fazendo no Congresso Nacional.
O que choca nesse
caso de proteção ou desmatamento é a leviandade com que é tratado um assunto
tão sério e tão primordial. A questão que está em jogo não é se queremos
desmatar menos ou mais, a questão é se queremos sobreviver como espécie ou não;
se assumimos ou não a responsabilidade pelo futuro das matas e, em consequência
da humanidade. As picuinhas ideológicas, partidárias e até inconfessáveis
limitam a visão daqueles que têm obrigação de pensar na humanidade, na vida, e
não nos lucros. Os legisladores em questão, chamados ruralistas, obcecados com
o dinheiro fácil obtido pelo desmatamento de áreas florestais, legislam com
olho na caixa registradora, esquecendo suas responsabilidades com a vida
futura. Na ocasião que Jacques Cousteau esteve no Brasil fazendo um
documentário sobre o rio Amazonas, foi inquirido por um repórter sobre a
necessidade de um Partido Verde. Ele se posicionou contra, e explicou: A questão ambiental é tão importante como os
direitos humanos, nós não aprovaríamos um partido dos direitos humanos porque haveria
a suposição que deveria existir partidos contra esses direitos, vale para a
preservação do meio ambiente, se tivermos partidos que o defendam devemos concordar
com partidos contrários a ele, e isso é inadmissível. Então, neste país de
faz de conta, colocar a questão ambiental como um tema ser discutido como se
fosse: será que o Flamengo é melhor que o Fluminense? é um acinte. Discutir a
preservação ambiental é discutir se queremos um futuro para nossos (de toda a
humanidade, não apenas os meus e teus) netos e, consequentemente, se queremos
um futuro para o Planeta.
Há poucos dias
estava em discussão no Parlamento uma matéria sobre trabalho escravo, será que nossos
representantes não sabem que a escravidão foi abolida em 1888, e que, a partir
de então, se tornou “cláusula pétrea” implícita nas nossas leis? Agora se
discute se queremos ou não acabar com as florestas e arcar com as consequências
dessa burrice. Me vejo obrigado a repetir aqui o que escrevi em “Florestas”: “A
floresta não é apenas um aglomerado de plantas, não é a reunião casual de
árvores, arbustos e outros vegetais; é um sistema tanto complexo como
desconhecido que a ciência só agora está prestando atenção. Só quando as
florestas deixam de existir por terem sido dizimadas pelos homens é que se
torna imperioso observar o quanto elas significam. O exemplo mais cabal e
contundente do significado das florestas ficou patente quando se descobriu a
história dos rapa nui, povo que viveu
na ilha da Páscoa e que, um belo dia, se extinguiu para sempre. Sabe-se que, a
despeito dos rapa nui terem
construído estátuas de cabeças gigantes com chapéu, (moais) as quais adornam a
ilha até hoje e servem como atrativo turístico para o mundo, eles não atentaram
para a preservação de suas florestas e tornaram-se vítimas de sua incúria. Há
registros fósseis e arqueológicos que o povo rapa nui, numa fúria insana de construir estátuas, cabanas,
artefatos e embarcações, acabou com todas as árvores existentes na ilha e isso
prenunciou o fim da civilização e da coesão social culminando com a extinção
das tribos e das pessoas”.
Senhores parlamentares,
se tivermos vocação para rapa nui, então
acabemos com nossas florestas como eles o fizeram e decretemos nossa derrocada
a partir da aprovação dessa legislação florestal que está tramitando, acabemos
com a cláusula pétrea que protege a vida, assumamos que não temos interesse
algum no nosso futuro, só nos interessa o aqui e agora, cambada de energúmenos
imprestáveis! JAIR, Floripa, 09/05/12.
8 comentários:
Só falta os imbecis do Congresso regulamentarem a lei da gravidade agora, aguardemos.
Lembrando também que o Flu é melhor que o Fla, e nem o Congresso ousa discutir isso...
Mais uma boa trombonada, Jair... abraços.
Lamentável é o país onde as leis tem que ser tão específicas, abordando com minúcias o que pode ou não pode ser feito...
Todos os que militam nas atividades agrícolas ou prospectivas deveriam saber avaliar as consequências de seus atos, e saber quando eles se torna predatórios!
Mas, parece que o imediatismo causa cegueira, e eles só vêm mesmo o dinheiro que podem lucrar agora, sem enxergar a devastação futura...
Como falou o Barcellos, boa trombonada!
Abraços, Jair!
eu caro Jair,
nesta quarta-feira tratei do assunto.
Permito-me deixar aqui uma recomendação a teus leitores: Assinar, agora, a petição para a Presidente Dilma vetar imediatamente o Código Florestal. É fácil e leva alguns segundos: http://www.avaaz.org/po/brasil_veta_dilma/?vl
Com expectativas,
attico chassot
Muito boa blogada, enciclopédico amigo!!Segurei o conselho do Attico!
"Energúmenos imprestáveis"...bá tchê! E, como eles custam caro,para
discutir quantos metros de mata ciliar devem ser preservadas, para então serem derrubadas para os seus interesses comerciais,isso é só um episódio...O que é ter consciência ambiental? Revejam primeiro conceitos básicos, para o governo ser sustentável.Luci.
Considero esse assunto muito sério... só o que falta é o congresso regulamentar...
Parabéns pela postagem!
Abraços...
Adorei a citação 'direitos e garantias individuais', o direito à vida. Essa introdução do texto diz tudo! Vamos torcer para que a presidente leve isso em consideração!
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