A planta “Black boy” australiana, na verdade é uma
espécie só encontrada naquele país, a Xanthorrhoea
Australis. Ela é um vegetal que os povos aborígines têm usado para fazer
suas lanças desde que o mundo começou, segundo eles, há milhões de anos atrás, período
que eles chamam de dream time, na
falta de como nomear o passado distante. Quando a planta torna-se adulta, uma
grande haste sai do topo, onde surgem milhares de flores que irão gerar muitas
vagens. Essa haste é colhida e endurecida no fogo para ser transformada em
lança com a qual os nativos caçam marsupiais e répteis e arpoam peixes em águas
rasas.
Comumente chamadas
de árvores grama, Grass tree, nome
inapropriado porquanto não são árvores e sim arbustos, as plantas Xanthorrhoea também são conhecidas como balga pelos aborígenes, que é o termo
da língua Dyirbal para menino negro, Black boy. Os aborígines provavelmente chamam esses arbustos de balga, porque depois de um incêndio,
evento bastante comum naqueles semi desertos onde as plantas crescem, as folhas
inferiores queimam revelando um tronco chamuscado preto com as folhas verdes em
forma de capim que se estendem a partir do topo do tronco dando a aparência de
criança aborígene segurando uma lança. De longe os troncos podem parecer troncos
de xaxim, mas é engano, enquanto ao toque o xaxim é macio, os troncos do Black boy são duros como madeira.
Estive fazendo
trilha numa ilha da costa leste, onde belos exemplares, veteranos de muitos
incêndios provavelmente, podiam ser vistos elevando sua lança com tufos de flores
de quatro a cinco metros de altura. Os tufos podem conter milhares de
flores individuais e variam muito em tamanho. Tentei trazer algumas sementes,
mas, parece, não eram férteis, deixaram de eclodir quando plantadas no meu
jardim.
Os troncos
enegrecidos podem ramificar uma ou duas vezes para formar cabeças compostas,
mas mais usualmente é um único tronco com haste também única que ostenta uma “saia”
de longas gramas como folhas de até um metro ou mais de comprimento. Imaginemos
um xaxim com uma touceira de capim no alto, ao invés de folhas de samambaia,
assim é essa estranha planta. As longas e estreitas folhas duras crescem de uma
maneira aglomerada na parte superior do tronco de maneira a se tornar pendentes
na medida em que se tornam mais velhas, de modo que o efeito é de tufos de
relva na parte superior do tronco. O gênero está relacionado com os lírios, mas
a maioria dos botânicos prefere colocá-lo em uma família separada, Xanthorrhoeace.
O nome científico é
derivado do grego, o termo xanthos
(amarelo) e rheo (fluxo) refere-se à
goma amarelada que normalmente exuda das plantas. Essa goma é amplamente
utilizada pelos aborígenes para fixar as pontas de suas lanças, e foi usada pelos
primeiros colonos brancos como uma laca impermeabilizante substituta e verniz
de grande durabilidade e bela aparência.
Grass trees
são encontradas em quase todos os Estados da Austrália. Há um total de quinze
espécies, sete das quais são encontradas na Austrália Ocidental. Como eu disse
acima Grass tree é realmente mais uma
planta lenhosa do que uma árvore. A sua vida útil foi calculada em 600 anos,
mas pode ser ainda mais, visto que não desenvolve anéis de crescimento, então
sua idade tem sido estimada através de outros testes menos confiáveis. Seu
crescimento é muito lento, o tronco leva uma década ou mais para formar uma vez
que é composto de uma massa de folhas soldadas por resina natural da planta.
O tronco em si é oco
com uma espessura de parede de quinze centímetros aproximadamente, deixando um
centro destituído do material que forma suas paredes, o diâmetro do tronco pode
ser de até meio metro. O sistema radicular é como capim, raízes individuais de
até cinco milímetros de diâmetro, e seu grande número ajuda ancorar a árvore
firmemente no chão. Coisa estranha, o tronco oco é preenchido por material
fibroso que liga a parte superior crescente com sua fonte de alimento, as
raízes. Contudo, artesãos habilidosos conseguem fazer belíssimos e criativos
vasos com partes desse tronco pouco comum.
Não bastasse tais
estranhezas, a Black boy é uma sobrevivente da flora, assim como o crocodilo e o celacanto são sobreviventes do reino animal, essa planta vive na
superfície do planetinha azul há mais de trezentos milhões de anos.
Considerando que a cada quatorze milhões de anos a flora é substituída por
novas espécies que surgem, a Grass tree
ultrapassou a idade de aposentadoria há centenas de milhões de anos. Há
registros fósseis provando que essa planta existia no tempo da Pangéa, nome que
a ciência deu ao supercontinente que precedeu o atual leiaute das terras secas
no Planeta.
Pois é, minha
disposição em pesquisar e escrever sobre a Black boy está relacionada ao fato que importei quinze sementes e estou tentando
desenvolver algumas mudas para plantar aqui no Patropi. JAIR, Floripa,
07/03/12.
9 comentários:
Parece bem interessante essa planta. Plante-a, então nos conte como vai sua adaptação e crescimento neste país tão diferente da pátria mãe dela. Abraços.
Que desvantagem levamos em relação a esta planta! Vivem 600 anos e nós que temos uma inteligência a usar à favor, vivemos uns míseros 80, 90 a pau e corda! E ainda tentamos matar o que é de nossa espécie pra acabar com a alegria do planeta.
Mas, contudo, é sempre bom aumentar os conhecimentos... Curiosa esta planta, e linda!
Abraços!
Além do Baobá, sua terra terá também o Black boy...Você está se eternizando, meu caro amigo! Ficará conhecido todo o sempre!
Muita paz!
Interessantíssimo!
Adorei saber mais sobre essa planta 'pra lá de simpática'... ^^
Ótima postagem...
Abraços!
Um "black boy" com cabelo "black power" pintado de "black green"... no mínimo, original!
Abraços.
Nossa, que bacana!! Não conhecia, muito interessante mesmo!!
Cuidado!
Essas plantas, quando semeadas fora do alcalino solo australiano, podem ter um desenvolvimento um tanto imprevisível!
Um americano tentou cultivar essas plantas na sua fazenda na Califórnia e, algum tempo depois, encontraram a propriedade tomada por troncos de Black Boy e nenhum traço dos humanos!
Pelo menos diz no e-mail qeue eu recebi outro dia...
Mas, um ótimo texto, com coisas que eu desconhecia...
Abraços, Jair!
Jair, eu não tinha visto o vaso feito do tronco... porém sei que muitas vezes você complementa, dei um zoom, fantástico!
abraços.
AH! Este vizinho,cujo pai parece ter sido madeireiro,e tal pai,tal filho,lidam com elas,as madeiras,de forma artesanal e artísticas...Conheço suas obras feitas com galhos muito bem escolhidos,trabalhados com muitobom gosto.Creio que esta árvore irá florescer na beiramar continental de Floripa, ao lado daquela "gordinha".Esta será a "cabeludinha".Que beleza!Boa Jair,continue descobrindo e plantando árvores exóticas,a natureza agradece! Luci.
Postar um comentário