Na maior parte do
tempo nós, as pessoas comuns, observamos à nossa volta e externamos o que gostaríamos
que fosse diferente, o que gostaríamos de consertar, mais ou menos assim: “seu eu
fosse presidente...”, “se eu pudesse...”, “se dependesse de mim...” e por aí
vai. É claro que esse é apenas um exercício mental retórico para discordar do
que não nos agrada, é apenas a verbalização do que nos vai por dentro, mas não
quer dizer que realmente faríamos aquilo que dizemos. Nossa discordância em
geral se expressa na forma de como poderíamos transformar para melhor algo que
dista daquilo que achamos ideal, normal ou desejável.
Na maior parte do
tempo o que nos cerca – sejam objetos, procedimentos ou fatos - é resultado da
cultura, dos comportamentos e das escolhas as quais estamos imersos; é o
somatório de tudo que se inventou, descobriu, aperfeiçoou, transformou ou
aproveitou da natureza. Nada do que nos cerca, seja aprovado ou não por nós,
está aqui de graça, ou seja, nossa
sociedade somos nós no sentido que a construímos como nossa cara coletiva,
por assim dizer. A sentalidade da sociedade dá feição à cultura na qual está
imersa.
Também é uma
característica do ser humano gostar de certas coisas, agradar-se mais disso ou
daquilo, fazer comparações destas com aquelas particularidades, estabelecer uma
hierarquia do valor ou da necessidade das coisas. Assim, de modo implícito,
“aprovamos” umas coisas em detrimentos de outras. Além disso, a complexidade de
seres pensantes e críticos que somos, é produto das infinitas combinações do
ambiente cultural no qual nos formamos, com nossas heranças genéticas e
educação familiar que nos constrói uma personalidade única, diferente de todas
as demais. Cada pessoa é singular e, portanto, reage ao mundo à sua maneira.
Pois então, é
reagindo ao mundo à nossa volta que o modificamos, quer alterando o ambiente ao
nosso talante, quer manifestando comportamentos próprios – não necessariamente
originais ou estranhos - que se incorporam ao comportamento coletivo criando
costumes imitados por outros. Assim, podemos lembrar que os “formadores de
opinião” são aqueles que, seja pelo comportamento atípico, seja por uma
personalidade dominadora ou por possuir meios adequados para esse fim, influem
nas “massas” que os observam. Cantores, escritores, blogueiros, jornalistas, apresentadores
de televisão, políticos, artistas, professores, empresários e tantos outros, em
geral têm oportunidade de externar opiniões de forma a influenciar o público.
Essa maior ou menor influência, em longo prazo, forma referência cultural que
modifica comportamentos e o próprio “andamento” da civilização. Neste exato
momento estamos sendo influenciados por tudo que nos cerca e influenciando, em
maior ou menor grau, nosso ambiente.
Essa inter-relação
pessoa ambiente é que torna o que chamamos de cultura algo dinâmico, vivo, em
movimento constante, tanto horizontal na linha do tempo, quanto vertical no sentido
que as coisas de amanhã são a soma do ontem com as incorporações que se fizeram
hoje, de modo que não há mesmice nem repetições monótonas. A civilização é
evolução no melhor sentido, sempre para frente sem esquecer o passado, pois
este serve de referência, ainda que o objetivo seja o aperfeiçoamento futuro. A
civilização é o “empilhamento” de saberes e conquistas por nós efetuadas ao
longo de gerações, a civilização é um quadro animado que reflete nossas
escolhas como espécie e como comunidades. Esse quadro animado semelha-se a um
caleidoscópio que a cada movimento, a cada átimo de tempo, enxergamos um momento
diferente das coisas que o compõe. As “coisas”, no sentido lato do termo, são o
que são porque não podem ser diferentes, nós assim as construímos. Somos
agentes e receptáculos culturais de nossas ações desde as mais imperceptíveis e
corriqueiras que dizem respeito ao dia-a-dia de cada um, até os grandes feitos
e conquistas portentosas que afetam toda a humanidade ou a história desta.
Ou seja, para
milhões de opções que poderíamos ter escolhido, optamos por estas que nos
cercam, de maneira que vivemos no melhor dos mundos escolhido por nós, então,
como espécie e como sociedade não temos do que reclamar, nossa civilização é
produto de nossas escolhas. JAIR, Floripa, 22/05/12.
10 comentários:
A resultante disso tudo, ao nosso sentir, em face das
reiteradas mesmas escolhas eleitorais ao longo dos anos,é a caótica
atuação dos nossos "políticos" (com raríssimas exceções, para que a
regra se confirme), que desagua no desânimo geral, da sociedade civil.
Muito interessante sua explanação 'coisificante' sobre a teoria da causalidade... Uma discussão simples e direta sobre um fenomeo conhecido como "Anomalia Sistemica Contraditória", que em resumo diz que.: "O Problema é a Escolha!"
Sinto que a cada texto seu que leio fico um pouco mais inteligente...
Parabéns pela qualidade!
Abraços!
Muito bem colocado!
Infelizmente, o mundo que vemos é o retrato do somatório de nossas ideias e ideais (ou falta de)!
Eu sempre penso nisto quando vejo os parlamentares que elegemos aqui no Brasil!
Nada mais são do que a escolha do povo!
Disse alguém que a boa árvore é aquela que dá bons frutos!
Já a árvore má...
Excelente sacudida, Jair!
Tua pena está afiada, teus pensamentos nos fazem refletir sobre quem somos e para onde vamos. Parabéns.
Meu caro Jair,
adito mais uma dimensão acerca de 'as coisas como são': o gostoso exercício de nossos utópicos sonhos, onde salvamos o mundo,
abraços sonhadores,
attico chassot
O fatalista: "O mundo é como é, não podemos modificar a realidade."
O oportunista: "Tem razão. Mas vamos aproveitar o máximo que pudermos."
O sonhador: "Se eu pudesse mudar o mundo, ele seria como meus sonhos."
O empreendedor, o realista: "Acho que dá pra melhorar um pouco aqui na minha área de ação. Vou experimentar."
Assim os homens criam e destroem civilizações.
Abraços.
OI JAIR!
E ISTO SE REPETE EM NOSSAS VIDAS, AS OPÇÕES ESTÃO AI PARA TODOS, AS MESMAS, MAS CADA UM ESCOLHE SEU CAMINHO E É FRUTO DELE.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
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Se pensarmos quantativamente e não qualitativamente,veremos que o somatório geral do mundo dito"civilizado",está composto de cidadãos que até tentam caminhar honestamente rumo ao topo da pirâmide social,melhorar as condições de vida,econômicamente falando, através desta leitura de mundo...Só que as influências nefastas mostradas pela mídia,de nossos semelhantes-"os homo- sapiens",estão causando um mal estar, uma energia negativa neste espaço onde vivemos,que não sei se é uma questão de escolha,estarmos aqui;talvez seja um "karma" irmão, as coisas vão melhorar...Pobre destino pátrio! Só sei que penso...logo existo...Dá para ser feliz neste purgatório espúrio?
Luci.
Jair, você já postou algum artigo sobre o Nióbio brasileiro?? Estou lendo alguns artigos sobre isto e estou assustado... Se tiver alguma opinião a respeito, gostaria de ler... Abraço. (rrafaels@ibest.com.br)
Excelente texto!! Nos faz refletir sobre tudo à nossa volta e sobre a vida!! Somos realmente felizes porque as coisas são dessa forma, ou por que 'achamos' (suposições do mundo ao redor) que é melhor assim mesmo?
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