Quando os
portugueses desembarcaram em terras americanas no pedaço que acabou por se
chamar Brasil, estima-se que existia em torno de seis milhões de aborígenes nestas
paragens. Os silvícolas brasileiros estavam divididos em tribos, nominadas de acordo
com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral),
macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e
caraíbas (Amazônia). Claro que eles, os índios, não estavam nem aí para essa
classificação, viviam de acordo com suas crenças, esperanças e necessidades,
sendo a diferenciação idiomática um mero acidente cultural o qual os
exploradores deram muita importância.
Hoje esses pioneiros
habitantes da Terrae brasilis não
passam de duzentos mil, o que demonstra um terrível genocídio perpetrado pelos
que vieram depois. Sei que genocídio, cuja definição é extermínio de grupos
humanos pela violência, pode parecer palavra muito forte para explicar o que
aconteceu com a maioria daqueles que aqui viviam. Mas lembremos que no mesmo
período em a população local diminuiu os que colonizaram o país multiplicaram
por milhões sua população. Então, embora não tenha havido um extermínio abrupto
e drástico, foi uma ação contínua e persistente que levou os silvícolas à quase
extinção. Somos todos agentes, passivos ou não, de ações que determinaram a não
sobrevivência cultural, em primeiro lugar, e física em segundo, de povo
pacífico que, por direito, deveria estar vivendo em suas terras. Os europeus
que aqui chegaram, agindo com truculência, falta de humanidade e ganância, não
viam seres humanos naquelas pessoas simplórias seminuas que os receberam até
com calor e amizade. Os portugueses encetaram ações cruéis contra um povo que
culturalmente era “inferior” aos colonizadores. Os portugueses iniciaram um
processo de extinção que perdura até hoje na nossa sociedade supostamente
civilizada. Somos todos culpados.
Quem já andou pelas
ruas de Manaus e cidades do interior da Amazônia, percebe que os nativos estão
entre nós, houve forte miscigenação de colonizadores com as tribos locais. Os
genes dos silvícolas fazem parte de nosso genoma. Eu mesmo tenho um avô Kaingangue e possíveis outros quatro ou
cinco antepassados oriundos de aborígenes aqui do sul. A migração quase
totalmente masculina dos primeiros portugueses que aportaram no Pindorama determinou
os acasalamentos inter étnicos que resultaram nessa amálgama que quase todos os
brasileiros somos agora. Menos mal, a cultura e a civilização nativa se foram,
mas a herança genética ficou.
Imagino que num
futuro distante, muito distante, quando a civilização, como a conhecemos, tiver
chegado ao término – e esta é uma inferência a que podemos chegar simplesmente
observando nosso comportamento atual - e novos valores tiverem que ser
considerados, a vida natural em
harmonia com tudo que nos cerca deverá se impor. O Homo sapiens “descobrirá” que a felicidade está ao seu lado, não
nas grandes obras materiais; não no acúmulo de fortunas imensuráveis; não nas grandes conquistas territoriais; não nos
grandes feitos da mente; não nas imensas viagens espaciais; não nas profundas
explorações marítimas; não em alcançar uma longevidade duvidosa que onera mais
que premia o existir com saúde; mas sim no ajuste perfeito e indolor do modus vivendi das sociedades com a natureza;
com respeito e convivência pacífica com os animais, minerais e vegetais que
partilham conosco este planetinha azul. Algo muito simples e bem acordo com o
que os silvícolas já praticam há milhares de anos. E, quando isso acontecer, quando
nossa civilização estiver evoluído até esse estágio, o homem terá alcançado a
sabedoria suprema a qual tanto busca em suas indagações filosóficas e tanto
define como expressão ideal de felicidade. A felicidade é aproveitar as coisas
que a natureza nos dá de graça, é apreciar o belo e usufruir as alegrias e
descobertas de coisas simples, quando o homem se der conta disso terá alcançado
o éden na Terra. Amém.
Em que pese a mídia
fazer questão de enfocar apenas a comemoração do aniversário de Roberto Carlos
em 19 de Abril, hoje é dia do índio. JAIR, Floripa, 19/04/12.
10 comentários:
Belo texto, enciclopédico amigo! Não tenho nada contra o R. Carlos, entretando, notei também que a mídia não deu a atenção mereccida ao dia do índio.
Um forte abraço!
Muito interessante e informativa sua postagem sobre nossos 'indios'...
Parabéns ela qualidade e pela relevancia das informações apresentadas!
Araços...
Profundas reflexões! Muito inspirada,a inclusão da sabedoria,ponto de partida e de chegada para a tão almejada felicidade...Quão simples e tão complexa a forma de chegar em seu ápice, devido a variáveis estúpidas,hipócritas que os materialistas agregaram num viver hipocondríaco...Que venham os Avatares purificar a terra mãe gentil,Pátria Amada ,Brasil! Indios não fujam ,lutem! Luci. em Os índios
Obrigado por dares voz a algo que neste 2012 foi silenciado: o dia do [indio
Não sei exatamente onde, mas tenho alguns ancestrais autóctones e isso me deixa feliz por que me sinto muito mais brasileiro. Ótima postagem para homenagear nossos maltratados parentes.
Olá
Como Português, quase me senti desconfortável sobretudo nas entrelinhas. Ambos sabemos que em todo o processo há sempre vitimas inocentes, mas nem tudo foi mau, pensem que se fossemos espanhóis simplesmente não haveriam Índios hoje, pensem no que aconteceu aos Maias.
Soubemos sair embora deixando nossos genes miscigenados (para o bem ou para o mal) mas não podem acusarmos de egoísmo, aprendemos com os nossos erros; isso faz de nós e do nosso enorme legado pelo mundo com que sejamos ainda hoje recordados positivamente, não pelo que inevitavelmente se fez de mal, mas sobretudo pelo que se fez de bom; e os nossos irmãos do brasil hoje têm grandes desafios pela frente tal como saber como proteger os Índios, saber proteger a amazónia, vocês são detentores de uma país rico e próspero, assim haja vontade de continuar o caminho encetado.
Termino com um pedido formal de desculpas, sobretudo pelo que não soubemos fazer, não escondendo a cabeça na arei, sem deixar de sentir o enorme orgulho que é pertencer a um país que chegou aos quatro cantos do mundo gloriosamente.
Grande abraço para todos em especial ao grande escritor Jair.
Penso logo existo,
Obviamente, os portugueses de hoje nada têm a ver com o que ocorreu nos primórdios de nossa colonização. Concluo no texto que "somos todos culpados" e isso inclui todos os brasileiros, descendentes de portugueses ou não. Como tenho um pé aí na Península Ibérica e outro no Brasil pré descobrimento, estou na confortável posição de falar pelos dois lados. Então, tento fazê-lo como "vítima" e "algoz" o que pode denotar uma posição dúbia, mas não é. Hoje fico feliz que o saldo da colonização tenha sido positivo, isto é, não temos problemas internos de coesão e principalmente de idioma graças a vocês portugueses. Mas como descendente de Kaingangue tenho obrigação de reclamar do tratamento que meus antepassados tiveram e que os restantes aborígenes estão tendo. Obrigado por comentar.
Jair, uma excelente aula dobre o povo que já habitava nosso continente bem antes da "descoberta".
Além das agressões genocidas, o declínio da população indígena também ocorreu por vias involuntárias, em função das moléstias trazidas pelos europeus, numa época em que não existiam vacinas.
Atualmente, sou favorável à integração dos índios à nossa sociedade, preservando suas tradições, como fazem outros grupos étnicos e locais.
Abraços!
De fato, os nativos legítimos brasileiros são um povo em extinção!
Seja pelo número gigantesco (estimado) de indígenas no passado ao que se constata hoje, perdendo suas terras, suas tradições e sua identidade, sendo massacrados pela nossa sociedade e cultura, que não quer saber de preservar para coexistência.
Mas quando eu penso nas circunstâncias históricas, não tendo a atribuir toda a culpa nos brancos. É fato que houve expedições de caça e de guerra aos índios, e que sua deficiência imunológica para nossas doenças contribuíram demasiadamente para seu desaparecimento.
Mas não imagino como pensamento geral de todo cidadão colonial algo do tipo: "hoje vou matar uns índios, porque precisamos exterminá-los, ou porque são inferiores, ou porque são selvagens e inimigos, ou porque qualquer motivo fútil basta", ou que concordassem 100% com esta desculpa esfarrapada para justificar o extermínio.
Não podemos esquecer que:
1) índios já guerreavam entre si, antes mesmo da chegada dos europeus;
2) alguns índios eram "pacíficos" e integrados, e outros eram belicosos e perigosos;
3) primeiros colonos sabiam que eram "invasores", mas dispostos a estabelecer-se nestas terras, portanto tinham que se defender quando atacados;
4) de ambos os pontos-de-vista, o medo do desconhecido estimula a negação, e o que ameaça seu "status quo" tende a ser eliminado de uma forma ou de outra.
Em resumo, devemos mesmo lamentar o desaparecimento de nossas raízes. Pois com isto, estamos nos condenando a não ter nem memória, nem tradição, nem nacionalismo, nem patriotismo.
Assim passamos a ser um campo fértil para nosso extermínio, enquanto nação, pelos próximos invasores.
Isn't it? ni hao!
Quero lembrar também que, apesar das lutas e confrontos, os primeiros brasileiros e paulistanos e quase todo cidadão aqui nascido era semi-indígena, um quase-índio urbanizado!
Fico indignado que as escolas não enfatizem que por 200 anos desde seu descobrimento, a língua falada correntemente no Brasil não era Português, mas sim Brasílica, uma versão gramatizada e unificada pelos Jesuítas das línguas faladas pelos índios do tronco Tupi-Guarani.
Somente com atitudes como a de Marques de Pombal, que baniu os Jesuítas e tornou o Português idioma oficial (e que quem não o falasse seria considerado marginal fora-da-lei, seria preso ou pior), que nossa herança indígena começou a ser "perdida"...
Até então, os indígenas que não haviam sido mortos, tinham se tornados legítimos brasileiros.
Caso interesse, eis um artigo compilado a partir de trechos de outros textos, todos referenciados, sobre curiosidades da "língua" Tupi-Guarani.
http://f1.grp.yahoofs.com/v1/YGCVT7TfqgEH09hkY5nYG-8Q9Qo0Q-VXQ3Az3TM8Sw1fTVhSGHUUgFWw4f7xm61ZnzL2L1KaciCzulaWaJAOXZs2Yw4Cd_qY/Tupi_col_AM.pdf
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