Pode parecer uma pergunta um tanto estranha de se fazer, mas, se quisermos entender nossa história evolutiva, temos que perguntar por que somos inteligentes? Por que somos tão criativos e bem sucedidos no mundo prático?
A resposta pode parecer tão óbvia quanto enigmática: porque isso faz de nós um animal tecnologicamente bem-sucedido. É claro, nosso domínio da tecnologia nos torna um animal destacado dos demais, nos coloca num patamar acima dos outros seres do Planeta. Mas esse é um argumento oblíquo, não responde o porquê de nossa inteligência superior. Também é igualmente fácil argumentar que somos tecnologicamente bem sucedidos porque somos inteligentes. A questão crucial que temos de responder em termos evolutivos é a seguinte: foi a vantagem indiscutível da sofisticada tecnologia a força propulsora primordial que criou o inteligente cérebro humano? Ou nós somos as potências tecnológicas de nosso Planeta devido a uma consequência fortuita da necessidade de sermos inteligentes por outras razões menos conhecidas? Em outras palavras, desejamos saber se os dons intelectuais que capacitam o homem moderno a lançar uma trapizonga espacial para fora do sistema solar, ou a escrever uma sinfonia para cantar esse fato, eram necessários, mesmo que apenas de forma embrionária, no dia-a-dia dos nossos antepassados caçadores-coletores? São indagações quase filosóficas que nos remetem ao dilema do ovo e a galinha e quem nasceu primeiro.
Exatamente como o conceito de que o homem ocupa o centro do universo permaneceu incontestável durante séculos – até que Copérnico e depois Darwin apareceram e afastaram essa visão antropocêntrica da criação - assim também nossa superior inteligência tem sido aceita como tão evidentemente elevada na evolução humana que poucas pessoas se importam seriamente em perguntar: por quê? A resposta afinal pode não ser tão declaradamente óbvia como poderia parecer: pode ser que durante nossa evolução tenhamos sido obrigados a aguçar nossa astúcia, não tanto a fim de superar desafios tecnológicos encontrados no mundo prático, mas de preferência para manejar as complexidades de uma vida social particularmente intrincada, relacionar-se com seus semelhantes era e ainda é muito mais complicado que desenvolver tecnologias ou resolver problemas matemáticos. A opção (ou necessidade) de viver em aglomerados humanos cada vez maiores pode ter exercido pressão para nosso cérebro se desenvolver em tamanho relativo, formato e ligações múltiplas entre neurônios. Portanto, o domínio da tecnologia pode ter sido resultante desse cérebro desenvolvido à custa de pressão social.
Basicamente, temos cérebros em nossa cabeça, quer sejamos humanos, macacos, ratos ou lagartos, para podermos criar nossa versão de “mundo real”, ou seja, aquele mundo que nos interessa. É razoável supor que no “mundo real” de um rato não exista a quinta sinfonia de Beethoven, por exemplo, ratos não estão preocupados com música por certo. Os animais, nas diferentes partes do espectro evolutivo, têm estilos de vida que são menos ou mais complicados. Se sua vida é muito simples como a de um sapo, por exemplo, então é possível prosseguir, dia-a-dia, com um mínimo de informações sobre o mundo exterior. Observando que o “mundo exterior” de uns pode não ser o mesmo de outros. Entretanto, caso se trate de um cão selvagem africano, o mundo que se pode criar dentro de sua cabeça deve ser muito mais rico (ter mais informações, em outras palavras) do aquele da cabeça de um sapo: isso ocorre devido a um apurado sentido de visão, audição e olfato e uma noção de comunidade em que deve cooperar com a matilha para a sobrevivência de todos; o que parece longe da atividade solitária de ficar sentado a beira de uma poça d’água atacando com a língua comprida os insetos que passam! Logo, não causa espanto que um cão selvagem tenha na sua cabeça uma quantidade maior de neurônios e uma complexidade maior de sinapses do que de um sapo; é compulsório que assim seja, caso contrário ele não seria um cão.
Então senhores, nossa complexidade cerebral com seus milhares de ligações entre os bilhões de neurônios; e sua relação entre tamanho e massa corporal, que nos distingue dos demais seres, é a marca registrada que nos faz Homo sapiens, e desenvolveu-se a partir de nossas interrelações sociais que pressionaram o cérebro no sentido de evoluir para além de um cérebro de primata. Sem essas pressões sociais seríamos apenas ratos, quem sabe? Ou seja, nosso “mundo real” (nossas interações sociais) é tão mais complexo e tão mais exigente, (assim como o do cão selvagem o é em relação ao do sapo) que não tínhamos opção a não ser nos tornarmos inteligentes ou desaparecermos para sempre. Infere-se que somos inteligentes porque necessitamos sê-lo e, em consequência, isto nos tornou o que somos: homens, mais precisamente, Homo sapiens. JAIR, Floripa, 13/06/11.
A resposta pode parecer tão óbvia quanto enigmática: porque isso faz de nós um animal tecnologicamente bem-sucedido. É claro, nosso domínio da tecnologia nos torna um animal destacado dos demais, nos coloca num patamar acima dos outros seres do Planeta. Mas esse é um argumento oblíquo, não responde o porquê de nossa inteligência superior. Também é igualmente fácil argumentar que somos tecnologicamente bem sucedidos porque somos inteligentes. A questão crucial que temos de responder em termos evolutivos é a seguinte: foi a vantagem indiscutível da sofisticada tecnologia a força propulsora primordial que criou o inteligente cérebro humano? Ou nós somos as potências tecnológicas de nosso Planeta devido a uma consequência fortuita da necessidade de sermos inteligentes por outras razões menos conhecidas? Em outras palavras, desejamos saber se os dons intelectuais que capacitam o homem moderno a lançar uma trapizonga espacial para fora do sistema solar, ou a escrever uma sinfonia para cantar esse fato, eram necessários, mesmo que apenas de forma embrionária, no dia-a-dia dos nossos antepassados caçadores-coletores? São indagações quase filosóficas que nos remetem ao dilema do ovo e a galinha e quem nasceu primeiro.
Exatamente como o conceito de que o homem ocupa o centro do universo permaneceu incontestável durante séculos – até que Copérnico e depois Darwin apareceram e afastaram essa visão antropocêntrica da criação - assim também nossa superior inteligência tem sido aceita como tão evidentemente elevada na evolução humana que poucas pessoas se importam seriamente em perguntar: por quê? A resposta afinal pode não ser tão declaradamente óbvia como poderia parecer: pode ser que durante nossa evolução tenhamos sido obrigados a aguçar nossa astúcia, não tanto a fim de superar desafios tecnológicos encontrados no mundo prático, mas de preferência para manejar as complexidades de uma vida social particularmente intrincada, relacionar-se com seus semelhantes era e ainda é muito mais complicado que desenvolver tecnologias ou resolver problemas matemáticos. A opção (ou necessidade) de viver em aglomerados humanos cada vez maiores pode ter exercido pressão para nosso cérebro se desenvolver em tamanho relativo, formato e ligações múltiplas entre neurônios. Portanto, o domínio da tecnologia pode ter sido resultante desse cérebro desenvolvido à custa de pressão social.
Basicamente, temos cérebros em nossa cabeça, quer sejamos humanos, macacos, ratos ou lagartos, para podermos criar nossa versão de “mundo real”, ou seja, aquele mundo que nos interessa. É razoável supor que no “mundo real” de um rato não exista a quinta sinfonia de Beethoven, por exemplo, ratos não estão preocupados com música por certo. Os animais, nas diferentes partes do espectro evolutivo, têm estilos de vida que são menos ou mais complicados. Se sua vida é muito simples como a de um sapo, por exemplo, então é possível prosseguir, dia-a-dia, com um mínimo de informações sobre o mundo exterior. Observando que o “mundo exterior” de uns pode não ser o mesmo de outros. Entretanto, caso se trate de um cão selvagem africano, o mundo que se pode criar dentro de sua cabeça deve ser muito mais rico (ter mais informações, em outras palavras) do aquele da cabeça de um sapo: isso ocorre devido a um apurado sentido de visão, audição e olfato e uma noção de comunidade em que deve cooperar com a matilha para a sobrevivência de todos; o que parece longe da atividade solitária de ficar sentado a beira de uma poça d’água atacando com a língua comprida os insetos que passam! Logo, não causa espanto que um cão selvagem tenha na sua cabeça uma quantidade maior de neurônios e uma complexidade maior de sinapses do que de um sapo; é compulsório que assim seja, caso contrário ele não seria um cão.
Então senhores, nossa complexidade cerebral com seus milhares de ligações entre os bilhões de neurônios; e sua relação entre tamanho e massa corporal, que nos distingue dos demais seres, é a marca registrada que nos faz Homo sapiens, e desenvolveu-se a partir de nossas interrelações sociais que pressionaram o cérebro no sentido de evoluir para além de um cérebro de primata. Sem essas pressões sociais seríamos apenas ratos, quem sabe? Ou seja, nosso “mundo real” (nossas interações sociais) é tão mais complexo e tão mais exigente, (assim como o do cão selvagem o é em relação ao do sapo) que não tínhamos opção a não ser nos tornarmos inteligentes ou desaparecermos para sempre. Infere-se que somos inteligentes porque necessitamos sê-lo e, em consequência, isto nos tornou o que somos: homens, mais precisamente, Homo sapiens. JAIR, Floripa, 13/06/11.
5 comentários:
"...relacionar-se com seus semelhantes era e ainda é muito mais complicado que desenvolver tecnologias ou resolver problemas matemáticos."
Esta frase é uma das verdades mais incontestáveis que encontramos no nosso dia-a-dia!
Permita-me guarda-la, para eventualmente colocar no meu cantinho dedicado às "frases" no meu blog!
Se o ser humano tivesse no relacionamento a mesma competência que demosntra na tecnologia, viveriamos num mundo maravilhoso!
Este teu post é, contudo, uma evidência material de que, mesmo fora da área tecnológica, existe inteligência!
Abraços, amigo!
E como bem afirmou o primo Ruy, na postagem de teu avô, Sargento "Lapeano" (desculpe a falha, Jair, acabo de ver que escrevi diferente no meu coment..)
-"nem muito sapiens"!...
A verdade sobre a evolução de nossos neurônios, pelo menos para mim, é um mistério muito grande (ainda)!!
Penso eu que evoluímos pela necessidade de alguns 'ajustes' em nossas lindas 'cacholas', devido à primitiva convivência social- quando emitíamos apenas grunhidos (extremamente horríveis) e que por isso que nos fizeram adequar quase que À FORÇA: vida prática (trabalho, execução de tarefas) + convívio social( assim, um não 'devorariaria' o outro, e conviveria em harmônica e santa sabedoria!!
Racionalizando: melhor que meu semelhante reparta comigo aquilo que ele conseguiu, do que acabar com ele, de vez!
Não sei se me fiz entender, amigo, mas é isso um pouco do que analiso...
Bela semana pra você e os seus!
E obrigada pela presença, na festa! Os Botões agradecem, penhorados.
Essa ideia de que somos inteligentes porque somos os melhores é uma falácia, acho que somes os melhores porque somos inteligentes. Já, como isso aconteceu, é outra história...
Teu texto está brilhante, parabéns!
Freud explica?
Não. Quem explica é Darwin.
Perdemos de nossos primos animais em quase todos os quesitos: força, velocidade, agilidade... mas ganhamos em um único; e esse único nos dá supremacia sobre os demais.
O cérebro é talvez o "acidente evolutivo" mais improvável de quantos já aconteceram. Pena que o H. Sapiens dê tão pouco valor à sapiência.
Meu caro polímata Jair
– e quero primeiro sublinhar o adjetivo: polímata.
Pela idade de nossos blogues, somos neo-conhecidos. Somos dádivas deste 2011. Neste tempo que me fiz teu leitor a multivariada abordagem de temas trazidos com competência é algo impressionante. Esta edição está supimpa.
Tenho para mim, que a mais genial descoberta que humanos fizeram foi usar uma vara para apanhar um fruto que não alcançavam. A passagem de quadrúpedes para bípedes foi sensacional (salve! Darwin), Passarmos usar as patas dianteiras para produção de trabalho nos fez/faz distinguidos.
Obrigado por mais essa brilhante aula de evolucionismo, brilhante polímata desde a bela Floripa.
attico chassot
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