sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sobre imagens


Cena da primeira guerra mundial.

Nunca na história da humanidade a divulgação de imagens foi tão intensa, contundente e espetacular como no século vinte e no atual. É provável que o homem primitivo tenha dependido do olfato e da audição mais do que de outros sentidos para sobreviver num Planeta hostil cheio de emboscadas mortais e sem luz artificial. Mas nós, ao contrário, vivemos a era da visão, até porque nunca houve tanta produção de imagens e tanta facilidade para divulgá-las. Somos agentes, vítimas e beneficiários dessa profusão de comunicação visual. Nossa geração tornou-se pictórica.

Jornais e revistas no início do século passado mostraram a um público desacostumado, as primeiras fotos impactantes da guerra mundial. Na segunda grande guerra surgiram as espetaculares tomadas fotográficas e de cinema quase em tempo real. Quando do desembarque dos aliados na Normandia, fotógrafos e cinegrafistas faziam parte das primeiras levas a pisarem na areia das praias francesas. Já antes, fotos dos fronts e de cidades arrasadas por bombardeios haviam se tornado comuns nos jornais. O ataque japonês a Pearl Harbor produziu cenas fantásticas que foram veiculadas em todo o Planeta, imagens tão fortes e marcantes como seriam as de Hiroxima e Nagazaqui arrasadas pelas bombas atômicas.

Com o término da guerra e início dos arreganhos entre as duas potências nucleares, nossos meios de comunicação ficavam cada vez mais saturados de fotos de bombas “A” e “H” explodindo no atol de Biquíni, estepes russas e ilhas da Oceania. A URSS e os USA se compraziam em veicular na mídia seus potenciais nucleares e, nós simples mortais, nos borrávamos todos e nos encolhíamos debaixo da cama, transpirando e pedindo um pouco de juízo às autoridades daqueles países. Com a chegada da televisão aos lares já era possível assistir quase ao vivo lançamentos de foguetes no Cabo Canaveral e até Neil Armstrong deixando impressões de suas botas na poeira de nosso satélite, bem como a face da Terra já podia ser vista a partir da Lua. A guerra do Vietnam foi o primeiro conflito armado praticamente acontecido sob os olhares das câmeras, o medo e o horror de soldados e civis era captado pelos profissionais da imprensa no exato instante que aconteciam. O desfecho dessa desastrada intervenção americana se deve, em parte, às cenas passadas nas televisões. Mais de 50 mil soldados dos EUA foram mortos e as mães americanas não se conformavam em ver seus filhos sendo despedaçados por minas vietnamitas, numa guerra sem objetivos claros e justificáveis.

Vieram as fases de vôos shuttles americanos e pudemos ver a nave Challenger explodindo depois do lançamento e sua irmã Columbia desintegrando-se ao entrar na atmosfera após ter perdido parte da proteção antitérmica logo após a decolagem. Nossas retinas são como telas de cinema por onde a paisagem aparente está sempre mudando e trazendo acontecimentos inauditos e cruciais que, em maior ou menor grau, costumam marcar uma época ou causar viradas tecnológicas ou históricas na marcha da civilização.

Em 1962, o sociólogo canadense Marshall McLuhan (1911-1980), numa sacada futurística, antecipou que os meios eletrônicos levariam a humanidade a uma identidade coletiva com base tribal: “A aldeia global”. Até então, a cultura visual dominante teria sido fragmentária, ninguém no planeta poderia abarcar com um olhar apenas, o que acontecia além fronteiras, ou mesmo na cidade vizinha. Com o advento de tecnologia eletrônica, o Planeta tornou-se pequeno, passou a ser o jardim de nossa casa, o que acontece “ali” no Afeganistão tomamos conhecimento de imediato, vemos as cenas cruas, sem editoração, no instante que elas ocorrem. Nas ciências, os microscópios eletrônicos colheram detalhes mínimos de insetos e microorganismos como vírus e bactérias e até adentraram o íntimo das células, enquanto o telescópio Hubble não só olha os confins do Universo, como nos fornece imagens de colossais embates entre estrelas e até entre galáxias, numa mostra inimaginável alguns anos atrás.

Paralelo ao imediatismo da comunicação por meio de satélites geoestacionários e tecnologia de celulares e câmeras digitais de baixo custo e grande eficácia, a civilização pós guerra fria, aliviada do temor de hecatombe nuclear, se viu frente a novas ameaças. Os radicalismos de estados e grupos religiosos juraram de morte o povo e o governo americanos, bem como seus aliados da banda ocidental do Planeta. O resultado dessa conjugação político-tecno-religiosa foram as imagens mais espetaculares e chocantes de todos os tempos: A destruição das torres gêmeas do WTC em Nova Iorque. A plasticidade das aeronaves chocando-se com os prédios e os desabamentos na sequência chocaram, não só pelo inusitado, mas, mais pela “beleza” do quadro. Nossos olhos já tinham se arregalado de espanto e surpresa frente às cenas de explosões de bombas e naves espaciais; ficamos extáticos vendo vulcões, terremotos e furacões ocorridos em várias partes do mundo. Porém, nada, absolutamente nada, se compara à dinâmica da destruição das torres. Trata-se de imagens sequer igualadas, muito menos superadas pelas mais imaginosas e custosas cenas de filmes catástrofes de Hollywood, e, de longe, superam até as inauditas e terríveis cenas filmadas e fotografadas do tsunami que assolou parte da Ásia em 26 de dezembro de 2004. JAIR, Floripa, 04/09/10.




Dia "D" Normandia, 1944.



Iroshima depois da bomba.



Bomba explodindo no Pacífico.



Saturno V.



Marca na superfície lunar.



Terra vista da Lua.



Execução pública no Vietnam.


Challenger explodindo.



Detalhe do olho de uma mosca.



Nano motor junto a uma célula.



WTC em 11 de setembro de 2001.



Tsumami 2004.




3 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- "Uma imagem vale mais que mil palavras", é um ditado que deve ser visto com reservas. Há palavras que valem mais que mil imagens; isso depende das imagens e das palavras.
- No sua matéria, Jair, o ditado se justifica plenamente. É uma seleção pictográfica impactante que resume magistralmente a História de oito décadas. Parabéns.

Leonel disse...

Magnífico seu texto, e ainda mais as fotos escolhidas, que retratam fatos impactantes em épocas diversas.
Mas tem uma que eu evito rever, é a daquele infame massacre de 11 de setembro, parte do qual infelizmente eu assisti ao vivo pela CNN.
Abraços!

Valdja Maria disse...

Seu blog mostra o que a gente nao procura , mas é bom saber ,é cultura , sempre que posso venho me culturar de graça rsrsrs! Um abraço de uma seguidora.Valdja