Desde muito tempo os cientistas
estiveram convencidos que inteligência e cérebro grande tinham relação
biunívoca, isto é, um está intrinsecamente ligado ao outro. Se há cérebro
grande existe inteligência, se há inteligência esta está relacionada ao tamanho
de cérebro. Contudo, essa relação que a muitos parecia óbvia, estava eivada de
preconceitos. Como eram europeus brancos que primeiro formularam a teoria, eles
naturalmente se achavam mais inteligentes que outros – negros, asiáticos e não
brancos de todos os matizes – então convencionaram que seus cérebros eram
grandes e suas inteligências brilhantes. Eles tinham certeza que possuíam os
maiores cérebros humanos e que as mulheres jamais seriam tão inteligentes
quanto os homens porque seus cérebros eram menores. Santo preconceito!
O que a ciência acabou descobrindo
efetivamente é que dentro de uma mesma espécie o tamanho cérebro tem pouca
importância, porque a variação da inteligência de um indivíduo a outro é muito
pequena. Já entre espécies, o tamanho do cérebro pode ser significativo apenas
se for medido o peso do cérebro em relação ao corpo do animal, porque, uma
parte enorme de qualquer cérebro é dedicada aos detalhes cotidianos da
manutenção do corpo – coisas como contrair músculos, mover os intestinos,
sentir sensações na pele, eriçar pelos. Amplie o animal e teremos mais
território para administrar, mais músculos para acionar, mais pele para
monitorar, necessitando, desse modo, mais matéria cinzenta para meramente
funcionar. O fato que um veado tem cérebro maior que um rato não significa,
necessariamente, que é mais inteligente, porque seu corpo pode pesar milhares
de vezes mais, sendo, portanto, mais difícil de administrar.
Diz a ciência, subtraia as partes do
cérebro relativas à manutenção do portador e o que resta é a única coisa que
interessa, porque os neurônios “extras” podem integrar informações do mundo
exterior em abstrações – capacidade que pode ser, grosso modo, uma definição de
inteligência. A partir dessa premissa, fez-se um estudo completo do peso
cerebral relativo dos vertebrados e descobriu-se que peixes, anfíbios e répteis
formavam uma linha crescente num gráfico, mas que aves e os mamíferos formavam
uma linha bem mais elevada. Para aqueles que costumam dizer que galinhas não
são inteligentes foi um balde de água fria - talvez as galinhas sejam tão
inteligentes que se neguem a demonstrar isso. Em outras palavras, um mamífero
pode pesar o mesmo que um réptil, mas tem um cérebro dez vezes maior.
O tamanho relativo do cérebro é um
indicador seguro do grau de inteligência entre as espécies, mas para definir
com certa precisão a diferença entre os mamíferos é necessário apurar melhor
essa medição. A ciência reuniu dados suficientes para estabelecer qual o
tamanho ideal do cérebro para certa massa corporal. Ou seja, qual o peso médio
“devia” ter um cérebro de um mamífero de determinado peso. Então todo peso
cerebral que excedesse o peso médio de um animal era fatorado em que
porcentagem encontrava-se acima ou abaixo, e a este índice deu-se o nome de QE
(quociente de encefalização). Se um animal apresentar um QE de 1, por exemplo,
significa que ele tem todo aparato intelectual para levar uma vida padrão de
mamífero. Se o QE for maior que 1, ele dispõe de neurônios “livres” para ser
“criativo”, se e quando este termo se aplicar àquele mamífero. Não é preciso
dizer que o QE humano é de 7,06, índice muitos pontos acima do mamífero em
segundo lugar - surpreendentemente o boto tucuxi com QE de 4,56. Quem diria,
aquele animal que, segundo uma lenda amazonense, sai da água e engravida moças
ribeirinhas é um carinha prá lá de inteligente!
Mas alguns pesquisadores assinalaram
que simplesmente ter um conjunto de neurônios “sobrando” não produz
automaticamente inteligência. As interações do animal com seu ambiente social
são tão importantes quanto um QE alto. Assim, um animal que tenha que correr
todos os dias atrás de sua caça tende a ser mais inteligente que aquele animal
que simplesmente espera que o alimento chegue até ele. Um sapo contemplativo
que espera a mosca entrar no raio de ação de sua pegajosa língua, por certo
deverá ser menos inteligente que a lagartixa que embosca insetos na parede.
Contudo devemos lembrar um
importante pormenor, os parâmetros que medem a inteligência são todos humanos,
ninguém parece lembrar que a “inteligência” de outros animais pode obedecer a
outros critérios que nem sequer imaginamos. Então, qualquer número
inteligencial que possa surgir desses raciocínios humanos pode não ter qualquer
validade quando se mede a inteligência de uma formiga, por exemplo. Já que
formigas podem obedecer a medidas diferentes, a escalas métricas dos
Himenópteros (olhaí meus estudos de entomologia entrando em ação). Para que as
cogitações humanas possam ter verossimilhança, necessário é que o homem deixe
de se julgar o centro do universo e admita que cada um no seu quadrado. Ou cada
bicho com seu parâmetro. JAIR, Floripa, 22/04/2013
3 comentários:
Bola na caçapa. Em relação aos insetos, espero que um dia seja convencionado um "índice de sociabilização", que meça a "inteligência coletiva" das espécies. Abelhas, formigas e cupins dariam no quesito uma surra de criar bicho nas demais espécies - incluindo o orgulhoso Homo Sapiens Sapiens.
Abraços.
Como falou o velho mestre, não se deve medir a inteligência de uma abelha, mas de uma colméia. Cada inseto é apenas uma célula deste organismo.
Quanto ao nosso amigo boto, o coitado levou a culpa pelas puladas de cerca de muitas meninas ribeirinhas...
Hehehehe!
Abraços, Jair!
... pois é, estou pensando como se mede a inteligência de algumas pessoas que dirigem nosso pais! Vou pesquisar.
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