Nas
minhas observações, por assim dizer, antropológicas das pessoas que me cercam,
sempre olhei com bons olhos as “miscigenações”. Me deleito ao ver casais
“mistos” em que um dos cônjuges ou um dos companheiros é diferente do outro,
seja na cor, seja na etnia ou seja na nação de origem. Me amarro quando observo
uma pessoa de cor negra junto a outra de pele branca, ou um aparente indígena
com seu companheiro de características físicas distintas ou de cultura outra
que não a sua. O mesmo vale para orientais e companheiros não orientais. Parece
que casais mistos me fazem acreditar que a humanidade tem jeito, isto é, se
pessoas de origens diferentes se unem e geram prole, estaremos mais próximos de
abolir para sempre os preconceitos que criam desavenças culturais e guerras.
Sonho que um dia a amálgama de todos com todos conduzirá a uma civilização
solidária onde rusgas e desentendimentos raciais, religiosos, sociais,
políticos, civilizatórios, culturais e entre nações serão coisa do passado.
Hoje
participei aqui no Havaí do casamento de meu filho mais novo, Adriano. Ele
casou com uma canadense. Falando assim nada de muito inusitado ou estranho, mas
se levarmos em conta que ele mora na Austrália, ela no Canadá e casaram no
estado norte americano mais longe do território continental daquela país, já
começa a ficar interessante essa união.
Então
vamos entender um pouco da cerimônia e suas interações culturais. A canadense
Megan é filha de descendentes russos que vieram para o Canadá há quase 120
anos, mas conservam costumes de sua ancestral comunidade doukhobor. Os
doukhobors são uma seita de cristãos russos que imigraram para o Canadá no fim
do século 19 por terem sido perseguidos pelos imperadores russos que os queriam
obrigar a servir nas forças armadas, atividade contrária ao seu pacifismo. Eles
se instalaram no sudeste da Columbia Britânica, Alberta e Saskatchewan.
Entre
os 41 convidados da festa havia uns vinte russos/canadenses, três ou quatro
russos, uma ucraniana, cinco ou seis australianos, alguns norte americanos e
quatro brasileiros, minha mulher, eu e os dois filhos, sendo que o nubente é
cidadão australiano e o outro cidadão americano. Pois bem, por essa mixórdia já
dá para perceber que existia certa amálgama de pessoas de origens diferentes.
Falta dizer apenas que o pastor que realizou a cerimônia era havaiano nativo.
Para
ilustrar bem como foi esse intercâmbio vale dizer que a cerimônia foi realizada no idioma havaiano pelo pastor,
em russo e inglês pelos parentes russos e canadenses e em português por mim e
minha mulher. E um pouco de espanhol permeou as conversas de nós (minha mulher
e eu) brasileiros com uns norte americanos que arranhavam o idioma de
Cervantes. O francês de alguns canadenses francófilos também pontuou um
pouquinho e o ucraniano da moça que o falava ficou dormente. O ritual em si foi
um misto de casamento cristão, russo doukhoboriano e havaiano. As pessoas que
lá se encontravam tinham olhos claros, exceto minha família e o oficiante
havaiano. Vale contar que o pastor Lino, tem um antecedente longínquo português
de sobrenome Lopes, o que nos fez quase aparentados e criou um clima de
cordialidade cúmplice entre nós os brazucas e ele.
Essa
união também torna-se interessante porque os doukhobors, por serem pacifistas
extremados, escrutinaram o comportamento e a origem de meu filho para ter
certeza que não estavam introduzindo um potencial cavalo de Tróia belicista ou
adepto de armas e violência em sua comunidade. Os pais da Megan, Marilyn e
Paul, estiveram até na Austrália conferindo in loco a vida do nosso filho. Para
felicidade dos apaixonados Adriano e Megan nada desabonável foi encontrado em
sua pacata vidinha de mineiro australiano. Aloha! JAIR, Mauí, 11/05/2013.
6 comentários:
Imagino o cardápio desta festa tão cosmopolita...
Um verdadeiro encontro multinacional!
Sorte a tua participar disto tudo, e desffrutar de momentos únicos!
Abraços, amigo!
Felicidades ao casal e parabéns a todos. Abraços cosmopolitas e tribais.
Nossa! Lindo deve ter sido, mas meio complicado pra gravar tantas coisas diferentes, língua, cruzas, lugares, histórico familiar etc, etc.
Mas desejo, também, muitas felicidades ao casal, a você e sua família!
É a globalização!
Abraços, amigo!
Wow what an incredible piece about our wedding! I have translated and shared with my family in Canada- wonderful!
Um texto incrível sobre o nosso casamento! Eu traduzi e compartilhei com minha família no Canadá, maravilhoso!
Bem sugestivo o titulo do seu blog "um blog que pensa" e o conteúdo faz jus ao título.Matérias muito interessantes e envolventes que nos prende a leitura.Rico em informação e formação.Parabéns por seu maravilhoso trabalho amigo.Eu tenho um blog de conteúdos variados o titulo: "analiseagora"
Criatura, adorei pacas.
Abração
Fábio
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