Todos sabemos que a
evolução dos seres vivos deste Planeta se faz através de adaptações ao meio, de
forma que o mais apto tem maior possibilidade de sobrevivência e de deixar
descendentes. A lógica da evolução é muito simples. Em todos os seres vivos
existem variações, assim como cores, tamanhos, aptidões e capacidades diversas,
as quais são passadas de geração em geração. Nascem mais indivíduos do que são
capazes de viver e procriar, o que equivale dizer que se o indivíduo morre cedo
em geral não deixa descendentes. Em consequência, desenvolve-se uma batalha por
permanecer vivo e encontrar um(a) parceiro(a). Nessa luta aqueles que possuem
certas variantes (os mais aptos, no dizer de Darwin) prevalecem sobre os que
não as têm. Tais diferenças passam para seus herdeiros pela capacidade de
transmitir genes – seleção natural – significa que formas favoráveis tornam-se
mais comuns com o passar das gerações.
Ocorre que a
“disputa” pela sobrevivência opõe carnívoros e herbívoros, por excelência, de
forma que uns e outros – gazelas e leões, por exemplo – disputam uma “corrida”
evolutiva na qual vence o mais rápido, o mais ágil, o mais esperto. Também,
nessa luta, os meios de propagação das espécies estão ligados a mecanismos que
tornam isso possível. Assim, as plantas floríferas utilizam veículos que
transportam seus pólens para fertilizar “parceiros” que transmitirão seus genes
para a geração seguinte. Cada planta desenvolveu “parceria” com o vento,
insetos e outros animais para se perpetuar.
O trevo vermelho é
um caso que resulta numa boa estória. Até Darwin observou que o trevo vermelho
é polinizado tão somente pela mamangaba,
uma espécie de abelha grande, aliás, em alguns lugares chamada de abelhão. Este é único inseto que pelo
seu porte é capaz de se introduzir no âmago da flor para retirar o néctar que
lhe garante a sobrevivência e, desse modo, “sujar-se” do pólen que vai
engravidar outra planta da mesma espécie. É tão completamente biunívoca essa
relação trevo/mamangaba que um deixará de existir se o outro desaparecer,
segundo entomologistas e botânicos.
Exemplo gritante
dessa relação encontra-se na Nova Zelândia. Para lá foram transplantados trevos
vermelhos que são alimentação excelente para o gado vacum. Como essa planta não
é natural de lá, foi necessário importar os abelhões para tornar possível a
perpetuação dos trevos naquelas bandas. Não havendo predadores das mamangabas na
Nova Zelândia, os insetos se multiplicaram com facilidade de forma que os
trevos tornaram-se abundantes e viçosos com nítida vantagem para a criação de
gado. A carne de gado vacum é abundante, barata e de boa qualidade, de forma
que concorre com facilidade com a carne produzida na Europa. A Nova Zelândia agora
exporta carne para a Inglaterra, país que lhe forneceu o trevo e os abelhões.
Mas a estória é a
seguinte. Na Inglaterra, notou-se, os ninhos dos abelhões naturais dos campos
são mais abundantes nas proximidades das aldeias e pequenas cidades. E que
essas mesmas aglomerações humanas têm muitos gatos domésticos. Como o predador
natural dos abelhões é o rato, onde há gatos a população de ratos diminui e a
das mamangabas aumenta, de modo que o trevo vermelho se beneficia da
polinização que esse aumento propicia. Mais trevo disponível, gado mais gordo,
sadio e abundante. E a estória continua. O trevo abundante graças aos gatos
resulta em produção alentada de carne que é alimentação principal dos
marinheiros. Há, portanto, a inferência que gatos fizeram da Inglaterra vitoriana
a grande potência marítima que determinou o formato do mundo hoje. Em seguida,
Thomas Huxley sugere que as solteironas britânicas com sua mania de adotar
gatos, são responsáveis pelo poderio da marinha da Inglaterra.
Para fechar o
círculo, o francês Fischesser é de opinião que o poderio marítimo inglês ao
privar de maridos as mulheres, estas se voltam para criação de gatos que, em
última análise, são responsáveis por esse mesmo poderio marítimo. A sábia
natureza com um empurrãozinho do não tão sábio Homo sapiens, pratica uma circunvolução evolucionista que dá um nó
até na história moderna. JAIR, Floripa, 15/04/2013.
4 comentários:
A sua postagem é um ótimo exemplo de sistema caótico.
Muito bom!!!!
É impressionante essa interrelção da natureza. Gostei. Meu abraço.
Além disso, nossos amiguinhos Felix Felinus evitaram que os egípcios sofressem por falta de alimentos, controlando superpopulação de ratos que ameaçavam os celeiros faraônicos...
A mamangaba, conhecida aqui no Rio como mangangá, tem importante papel também na polinização do maracujá, como já constatei no meu quintal...
Abraços, Jair!
Não sabia que eu estava perdendo tantas postagens interessantes por aqui!! Não recebi mais e-mails... E hoje, fuçando nos blogs do G-mail revi o seu, que tanto me acrescenta bons conhecimentos e curiosidades!! Excelente texto e maravilhosa análise da inter-relação complexa do agroecossistema!!!
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