Codornas são pássaros da espécie Coturnix da família das galinhas mesmo. Aqui no Brasil costuma-se criar as européias chamadas codornas italianas, cuja carne é deliciosa, e ovos, comidos como aperitivo, têm fama de afrodisíacos. Mas, em nossos campos, principalmente no centro sul do país, elas existem em estado selvagem, cobiçadas presas de caçadores destituídos de consciência ecológica. Pois é, minha Palmeira natal era cercada por campos gerais, grande parte em estado natural, nos quais as codornas encontravam o habitat ideal para se reproduzirem sem maiores transtornos, ou seja, viviam sem serem perturbadas por ninguém ou por criações de gados que pisassem em seus ninhos. Quer dizer, essa condição ideal, embora sendo regra naquele tempo, não livrava as pobres aves das exceções que as transformavam de pássaros livres em jantar de algum palmeirense com uma arma na mão e um cachorro perdigueiro no chão. Inclusive um tio meu que era caçador afamado até que se deu conta que as aves também tinham direito à vida e deixou a caça para sempre.
Como já tive oportunidade de dizer no texto “A Cetra”, nunca matei um pássaro, não tenho na consciência o peso de ter tirado a vida de qualquer avezinha dessas que a natureza criou para voarem e embelezarem os céus ou adornarem as árvores como se fossem frutos coloridos, pulsantes e cantadores. Contudo, o mundo que queremos, ou aquele mundo utópico onde todas as coisas estão nos seus lugares, onde as relações entre os seres que nele vivem não contemplam a extinção de uns para benefício de outros, não existe, o mundo que vivemos é cruel, foge do modelo edênico. As codornas que habitavam os campos que rodeavam Palmeira tornaram-se provas da iniquidade do Homo sapiens, o qual tantas vezes se arroga produto supremo da Entidade que o criou à sua imagem e semelhança. Pobres codornas! Milhões de anos usufruindo de um ambiente em que tudo se ajustava, onde se alimentavam de sementes, frutas e insetos, acasalavam-se e criavam seus filhotes sem alterar o sutil equilíbrio natural que mantém a cadeia alimentar funcionando como uma máquina onde cada peça se ajusta com primor ao todo, sem que haja supremacia de uma sobre outra. Milhões de anos servindo de alimento a guarás e cachorros do mato, sem que isso significasse apreciável declínio de sua população, pelo contrário, a predação mantinha o plantel saudável pela seleção dos mais aptos, estes sobreviviam e deixavam descendentes. Milhões de anos que não as prepararam para a adveniência de seres brutos, ignorantes e malignos que, sem qualquer hesitação, moveram montanhas para causar-lhes males irreversíveis, os quais resultaram na sua quase extinção.
As aves e toda a complexidade biológica do ambiente dos campos conseguiram se manter em constante interação dinâmica até a chegada do Homo, daí em diante impôs-se uma transformação assaz deletéria que, de tudo que existiu, pouca coisa restou. Primeiro foram os lobos guarás e cachorros do mato caçados impiedosamente porque “comiam galinhas” dos criadores; depois foi a caça ilegal que, aliás, num primeiro momento, constituiu-se um fator de equilíbrio, porquanto a eliminação dos predadores havia permitido o crescimento populacional descontrolado das aves; em seguida surgiram no horizonte as máquinas agrícolas que destruíam o ambiente e tornavam impossível a vida das aves em vastas áreas, ainda que restassem nichos nos quais os animais poderiam reproduzir-se com certa tranquilidade; por último, de forma devastadora, vieram os agrotóxicos que envenenavam as águas, o solo, matavam os insetos que serviam de alimento às avezinhas e impediam a formação das cascas de seus ovos. Foi o fim inglório de bichos inofensivos que só queriam viver e deixar que outros vivessem.
Agora vejamos, se a jumentice humana não fosse o que é, poderiam os agricultores da região ter mantido algumas áreas intocadas de modo que as codornas tivessem onde viver. Comedoras vorazes de insetos, elas se constituiriam no fator de controle de pragas eliminando a utilização dos tais agrotóxicos que envenenaram tudo a sua volta. Se a ganância aliada à falta de visão dos humanos não se erigisse na pior característica desse primata imbecil, hoje teríamos codornas saudáveis ajudando no controle de pragas das plantações, o uso de venenos estaria diminuído ou eliminado e até caçadores inconsolados com seu desaparecimento poderiam ter as aves excedentes como alvo de suas espingardas e uma excelente alternativa culinária. A racionalidade que pode gerar um mundo melhor de se viver, onde as espécies possam ocupar seus nichos sem expulsar as demais, parece não ser um atributo dos homens, lamentavelmente. JAIR, Floripa, 16/01/11.
Como já tive oportunidade de dizer no texto “A Cetra”, nunca matei um pássaro, não tenho na consciência o peso de ter tirado a vida de qualquer avezinha dessas que a natureza criou para voarem e embelezarem os céus ou adornarem as árvores como se fossem frutos coloridos, pulsantes e cantadores. Contudo, o mundo que queremos, ou aquele mundo utópico onde todas as coisas estão nos seus lugares, onde as relações entre os seres que nele vivem não contemplam a extinção de uns para benefício de outros, não existe, o mundo que vivemos é cruel, foge do modelo edênico. As codornas que habitavam os campos que rodeavam Palmeira tornaram-se provas da iniquidade do Homo sapiens, o qual tantas vezes se arroga produto supremo da Entidade que o criou à sua imagem e semelhança. Pobres codornas! Milhões de anos usufruindo de um ambiente em que tudo se ajustava, onde se alimentavam de sementes, frutas e insetos, acasalavam-se e criavam seus filhotes sem alterar o sutil equilíbrio natural que mantém a cadeia alimentar funcionando como uma máquina onde cada peça se ajusta com primor ao todo, sem que haja supremacia de uma sobre outra. Milhões de anos servindo de alimento a guarás e cachorros do mato, sem que isso significasse apreciável declínio de sua população, pelo contrário, a predação mantinha o plantel saudável pela seleção dos mais aptos, estes sobreviviam e deixavam descendentes. Milhões de anos que não as prepararam para a adveniência de seres brutos, ignorantes e malignos que, sem qualquer hesitação, moveram montanhas para causar-lhes males irreversíveis, os quais resultaram na sua quase extinção.
As aves e toda a complexidade biológica do ambiente dos campos conseguiram se manter em constante interação dinâmica até a chegada do Homo, daí em diante impôs-se uma transformação assaz deletéria que, de tudo que existiu, pouca coisa restou. Primeiro foram os lobos guarás e cachorros do mato caçados impiedosamente porque “comiam galinhas” dos criadores; depois foi a caça ilegal que, aliás, num primeiro momento, constituiu-se um fator de equilíbrio, porquanto a eliminação dos predadores havia permitido o crescimento populacional descontrolado das aves; em seguida surgiram no horizonte as máquinas agrícolas que destruíam o ambiente e tornavam impossível a vida das aves em vastas áreas, ainda que restassem nichos nos quais os animais poderiam reproduzir-se com certa tranquilidade; por último, de forma devastadora, vieram os agrotóxicos que envenenavam as águas, o solo, matavam os insetos que serviam de alimento às avezinhas e impediam a formação das cascas de seus ovos. Foi o fim inglório de bichos inofensivos que só queriam viver e deixar que outros vivessem.
Agora vejamos, se a jumentice humana não fosse o que é, poderiam os agricultores da região ter mantido algumas áreas intocadas de modo que as codornas tivessem onde viver. Comedoras vorazes de insetos, elas se constituiriam no fator de controle de pragas eliminando a utilização dos tais agrotóxicos que envenenaram tudo a sua volta. Se a ganância aliada à falta de visão dos humanos não se erigisse na pior característica desse primata imbecil, hoje teríamos codornas saudáveis ajudando no controle de pragas das plantações, o uso de venenos estaria diminuído ou eliminado e até caçadores inconsolados com seu desaparecimento poderiam ter as aves excedentes como alvo de suas espingardas e uma excelente alternativa culinária. A racionalidade que pode gerar um mundo melhor de se viver, onde as espécies possam ocupar seus nichos sem expulsar as demais, parece não ser um atributo dos homens, lamentavelmente. JAIR, Floripa, 16/01/11.
18 comentários:
Tudo verdade, Jair, eu também nunca matei nenhum animal silvestre, mas sempre me estarrecia a falta de consciência com que as pessoas do interior atacavam mortalmente as espécies que as cercavam.
E o objetivo era mesmo o extermínio, como no caso dos guarás, raposas, gambás e outros que ocasionalmente beliscavam as hortas e galinheiros dessas pessoas.
Mas, pelo menos no caso das codornas, elas não foram extintas, só que viraram agora animais de criação, e são criadas aos milhares, para produzirem ovos e até para abate.
Difícil mesmo é voltar a vê-las soltas no seu ambiente natural...
Boa denúncia!
Abraços!
Para a maioria das pessoas a Codorno representa apenas uma opção culinária deliciosa, ou seus ovos representam um aperitivo para se apreciar com uma gostosa loura gelada. Ninguém pensa na avezinha perseguida por caçadores e atacada pelo agrotóxicos. É lamentável que o destruidor ser humano não atente para os outros seres deste planeta que, no pior dos casos, têm tanto direito de viver quanto ele, o homem. Abraços e parabéns pelo belo texto que deve despertar a a consciência do leitor para a depredação ambiental.
Conhecemos a realidade, mas vê-la assim narrada, dói. E não há retorno.
O espaço da natureza não é respeitado. E, na maioria das vezes, essa invasão e destruição é motivada por razões escusas e obtenção de benefícios pessoais injustificáveis.
Abraços
Não sei quanto à fauna silvestre de Palmeiras, mas me parece que o abuso de agrotóxicos é o mais devastador dos golpes baixos contra a natureza. O primeiro alerta que deu frutos foi "Primavera Silenciosa", de Rachel Carson, 1962. Antes tarde do que nunca!
(mas continuamos a usar no Brasil venenos há muito banidos em vários outros países.)
Abraços.
"Quanto mais conheço o ser humano, mais me apego aos outros animais!" ...
P.S.: Codornas são legais ^^ Sempre as considerei simpáticas...
Belo texto Nobre Colega!
Abraços...
"A racionalidade que pode gerar um mundo melhor de se viver, onde as espécies possam ocupar seus nichos sem expulsar as demais, parece não ser um atributo dos homens, lamentavelmente".JAIR.
Meu AMIGO JAIR
Costumo expressar com grande indignação em algumas ocasiões, que o homem é o pior animal que existe.
O único racional?
Desminto esse princípio de balela pelas atitudes que a "jumentice humana", que o "primata imbecil" muitas vezes comete. Como escreveu em "CODORNAS"
Congratulações.
Abraços
João ALFREDO Oliveira
Meu caro Jair,
que como eu tem um galardão ‘nunca matamos um pássaro’ mesmo que sejamos da geração que o bodoque (funda ou estilingue) era adereço de qualquer guri, teu texto gera-me uma dúvida.
As codornas que locupletavam os caçadores de tua Palmeira (e de toda região sul do Brasil) não eram perdizes. Estas e aquelas são Reino: Animalia / Filo: Chordata / Classe: Aves / Ordem: Galliformes / Família: Phasianidae [Obrigado Wikipédia]. Sempre acreditei – me corriká o equívoco que condornas fosse perdizes domesticadas. Tu no teu textos, não referes, nem mos marcadores a palavra perdiz.
Obrigado se me puderes esclarecer
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
Caro Chassot,
Você tem toda razão, aí no RS vocês chamam de perdizes o que no resto do país chamamos de codornas. O que nós chamamos de perdiz você chamam de perdigão. É apenas uma questão de regionalismo. Pode chamar minhas codornas de perdizes que não tem problema. Abraços, JAIR.
Caro Costa Matos
Certa vez eu estava criticando um Vietnamita, la nos USA, pelo fatos deles comerem cachorro, quando ele me disse, Dr Oliveira, eu acho cordeirinhos lindos, e voces os comem. Aquela resposta me deu a entender, que tudo é uma questão de cultura, o que é feio para uns, pode ser lindo para outros. O fato de termos uma cultura diferente, não nos torna bons ou maus, e nos estamos no topo da cadeia alimentar, ou sera que a vaca ou a galinha do supermercado morreu feliz? Eu apesar de biologo, não ache que é mau quem caça (como eu) apenas diferente.
Abração, e apesar de as vezes não concordar com o que escreves, adoro ler os teus textos.
Fabio
Dignificante ! Onde foi parar o " bom senso" dos ditos humanos ?
Olá,
Lembrei de quando era pequena, nas idas á fazenda, de ver as codorninhas junto aos outros bichos. Também iam parar na panela da mesma forma. Dava dó, mas como fazia parte da cultura, não indagava. Beijos da nora,
Caro Sr. Fábio,
Considerar apenas como "diferente" aquele que mata por prazer (caçar), é o mesmo que aceitar os homófobos, ladrões, pedófilos, etc, como também seres diferentes.
Na minha opinião, isso é assassinato, afinal, não vejo como pode uma pessoa tirar qualquer vida por simples prazer.
Atenciosamente,
José Luís
Caro Sr. Jose Luis... ja havia escrito a resposta pertinente ao seu pouco brilhante comentario, mas depois apaguei, pois não tenho o direito de entabular discussões no belo blog do meu querido Jair.
Fabio ( iamdoc2@hotmail.com)
vei na boa troca letra ta mt ruim de le nao da pra intende coisa nenhuma
Gostaria de saber porque minhas codornas nao chocam??
Gostaria de saber porque minhas codornas nao chocam??
eu tenho muma codorna e leas são espertas
Boa noite Jair!
Teria algum e-mail que pudesse contactá-lo?
Sou aluna do curso de pós-graduação em Zootecnia da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Queria conversar sobre os direitos autorais da foto da codorna, se esta te pertencer. Gostei da foto para colocá-la como capa de um material didático do projeto de extensão que participo na universidade (sem fins lucrativos)
Se sim, me responda neste: namibialeite@hotmail.com por favor.
Desde já agradeço!
Cordialmente, Namíbia R. Leite.
Abraço!
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