terça-feira, 12 de julho de 2011

O ovo da serpente




No dia-a-dia a vida na Terra pode parecer bem ordenada, estável e perene, mas, sob a perspectiva do tempo biológico é imperativo que se pense que um dia a humanidade desaparecerá. Racionais como somos é fatal que cheguemos a essa assertiva. A pergunta pertinente é: quando?
Na sua forma mais dramática, o fim da vida no Planeta poderá acontecer com um acidente cosmológico, - o esperado asteróide de meu amigo Leonel – que mergulhará toda a vida existente em condições tão adversas que se estinguirá. Contudo, se isso vier a acontecer poderemos debitar na conta de uma grande falta de sorte. Mais relevante é a pergunta: poderá a humanidade subsistir ainda por um considerável espaço de tempo sem ser destruída por seus próprios atos? A espécie a qual pertencemos, Homo sapiens tem, talvez, uns 50 mil anos – somos apenas crianças em termos de tempo biológico. É bem possível que o caminho evolutivo, que nos trouxe em tão pouco tempo para essa posição especial no reino animal, na qual nossa inventividade e inteligência nos permitem manipular o ambiente em escala sem precedentes, esteja para nos colocar num beco sem saída. Será que o passo evolucionário que conferiu a um animal tanto poder e controle sobre o seu destino e de todas as criaturas da Terra, poderá revelar-se o maior erro biológico de todos os tempos? Será possível que a criação da humanidade traga consigo as sementes da destruição final? Seremos nós o ovo da serpente?
O futuro da humanidade depende de duas coisas: de nosso relacionamento uns com os outros e de nossa interação com o meio ambiente. O estudo das origens humanas – supostamente somos o produto final oriundo de espécies humanóides distintas – poderá realçar o modo de encarar essas questões.
Em primeiro lugar, somos uma espécie, um povo. Todo indivíduo neste Planeta é um membro da espécie Homo sapiens, e as diferenças geográficas, perceptíveis na flor da pele por assim dizer, entre os seres humanos, são apenas variações biológicas do modelo básico. Já usei essa analogia, mas não custa lembrá-la: somos iguais a um terreiro de galinhas caipiras, variadas cores, tamanhos e formatos, mas, todas, galinhas. A capacidade humana para criar a cultura permite sua elaboração de modos amplamente diferentes e coloridos, sem falar que as condições geográficas determinam comportamentos e modus vivendi os mais variados. É só lembrarmos que um esquimó tem que ser radicalmente diferente de um bosquímano do Kalahari. Entretanto, as freqüentes e profundas diferenças entre as culturas não deveriam ser encaradas como divisão entre povos. Sei que é meio utópico, mas as culturas devem ser interpretadas pelo que elas realmente são: a declaração suprema e o orgulho de se pertencer a uma espécie tão criativa, a espécie humana!
É uma verdade banal dizer-se que a política é internacional, e é a política que determina a conduta das nações: “A guerra é a continuação da política por outros meios” (Clausewitz). Lembram-se? Assim, segue-se que qualquer tentativa para se alcançar uma estabilidade duradoura para a humanidade só pode ocorrer mediante uma vontade e uma determinação política globais (Puxa! Nunca pensei que chegaria a escrever isso!). Longe de mim ter a intenção de mostrar como uma política de âmbito planetal deveria ser conduzida. Pelo contrário, quero dizer que se não houver uma aceitação que somos todos “farinha do mesmo saco”, isto é, somos essencialmente iguais independente de nossas inclinações ideológicas, religião ou cor da pele, a política, por mais sofisticada que seja, não trará resultados positivos. A estultice é cristalina: como posso me entender com meus vizinhos se sou melhor que eles? Temos que entender que só a profunda inclinação humana à cooperação grupal (solidariedade) poderá vencer as barreiras da discriminação. O que temos que introjetar é que pertencemos à mesma tribo: a tribo humana. E, a partir do momento que olharmos para o lado e enxergarmos um irmão, nada justificará tentarmos destruí-lo em nome de ideologias ou preconceitos quaisquer. Entendendo que somos um só povo podemos todos perseguir um objetivo: a sobrevivência pacífica da humanidade, e, então, renascendo em nós mesmos, seremos virtualmente eternos. JAIR, Floripa, 08/07/11.

8 comentários:

R. R. Barcellos disse...

Dirão alguns que sua postagem é chuva no molhado; mas a verdade é que o substrato das culturas é um solo esturricado, no que tange à aceitação de valores alheios. Vele, sem dúvida o alerta. Abração.

Amélia Ribeiro disse...

Olá amigo Jair,

é sempre muito bom ler-te. Cada postagem tua é uma lição.
Jair, desculpa a minha ausência, mas como já disse ao nosso amigo Rodolfo Barcellos, o estudo para os exames de Direito absorve todo o meu tempo.

Um beijo e uma excelente semana.

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jair,
mais uma postagem que deveria ser direcionada àqueles que pensam, (ou deveriam pensar) as assim chamadas ‘politicas globais’.
A propósito: ¿quem pensa o Planeta?
Obrigado por mais uma aula magistral

attico chassot

J. Muraro disse...

Olhar a evolução através dessa ótica, só mesmo uma cabeça pensante como a tua. Concordo plenamente quando você diz que devemos olhar o próximo como um irmão, sei que você não é cristão, mas está na bíblia essa assertiva. Parabéns pelo excelente texto.

VOLÚZIA disse...

Não se assuste, andei pesquisando: "Muitas e muitas vezes o ovo da serpente foi utilizado como metáfora para exprimir a constatação de um mal em processo de elaboração, de incubação. Nele, no ovo da serpente, no desenvolvimento do ovo, pode-se acompanhar a lenta e inexorável evolução do monstro que irá nascer". Essa definição cabe bem direitinho no teu texto. Nós somos o ovo da serpente, se não adquirirmos consciência traremos destruição da vida do Planeta. Você elaborou bem, parabéns! VOLUZIA

Leonel disse...

Jair, você adora discorrer sobre este tema.
O fascínio deste assunto talvez resida na clara impossibilidade de se chegar a uma conclusão aplicável.
Podemos intuir teorias sobre as formas "certas" de nos conduzirmos, mas nos defrontamos sempre com a dificuldade de coloca-las em prática.
Mas, falando das hipóteses sobre a longevidade da humanidade, eu imagino que, se em 50 planetas com condições semelhantes às da Terra fossem criados experimentos genéticos semelhantes ao que nos deu origem, cada civilização criada teria uma duração bem diferente.
A nossa quase morreu bebê, quando éramos apenas uma tribo, como mostra a nossa escassa diversidade genética.
Talvez sejamos o ovo da serpente! Ao que parece, a serpente foi programada para ser dominante.
Se ela se tornar autofágica, talvez contrarie seu propósito, e neste caso, o experimento terá fracassado!
Partamos para o próximo!
Talvez o das baratas inteligentes!
Obrigado por me fazer pensar, amigo!
abraços!

Adri disse...

Bem… Opiniao pessoal…

Com certeza a civilizacao humana nao esta no ponto de extincao alguma… estamos sim ao rumo de extincao de boa parte das especies que conhecemos hoje… mas com a extincao de uma especie, surgira a oportunidade para a evolucao de varias outras… (fato)..
Concordo que a civilizacao que conhecemos hoje ainda eh bem nova em comparacao com a idade do universo… E creio que a civilizacao humana seria somente parte da evolucao das especies… sei que estamos destruindo nosso meio ambiente atual, mas os sobreviventes serao as especies mais fortes que sobrevirao e terao a oportunidades para evoluir em ambientes mais extremos… A evolucao da natureza criou um ser "racional" nao para a destruicao da mesma… mas talvez sim para comtribuir a evolucao e criar varias especies "pensantes"… que ainda nao as conhecemos… mas com o tempo…a evolucao da propria natureza as farao possiveis, a partir de nos mesmo!! No futuro talves a especie "Homo sapiens" sera extinta por seus proprios atos… mas como comentei anteriormente…

O ser humano… Somos somente parte da evolucao natural!! Temos genes de especies que SOBREVIVEM…

Fui….

Camila Paulinelli disse...

Olá,
Acho que a destruicao, extinção, evaporação, total varredura de vida no planeta se dará pelo proprio homem. Beijos da nora,