Para alcançar o nível de equilíbrio dinâmico no qual se encontra o Planeta hoje, foi preciso milhões de anos para que este se configurasse e pudesse oferecer condições para o desenvolvimento da vida. Estima-se que a vida na Terra surgiu a 3,5 bilhões de anos.
Em retrospectiva, dá para descrever os eventos que marcaram a formação do Planeta e de seus habitantes, os seres vivos. Consolidação da Terra a partir de restos de estrelas há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, nesse período o planeta era extremamente quente equivalente a uma imensa bola de fogo e, claro, não abrigava forma alguma de vida. Passados milhões de anos a Terra entrou em um processo de resfriamento gradativo que originou uma fina camada de rocha em toda a superfície. Com as mudanças ocorridas na temperatura do planeta, que foi se resfriando, foi expelida do interior do Planeta uma imensa quantidade de gases e vapor de água. Esse processo fez com que os gases formassem a atmosfera e o vapor de água favoreceu o surgimento das primeiras precipitações, um longo tempo de chuva – milhões anos, na verdade - ocasionaram a formação dos oceanos primitivos.
A constituição dos oceanos foi fundamental para o surgimento da vida no Globo, pois esta, por tudo que se sabe, apareceu no meio aquático. Infere-se que surgiram primeiramente bactérias e algas monocelulares, isso há cerca de 3,5 bilhões de anos. Essas primeiras formas de vida foram precursoras que criaram condições para o surgimento de outros seres. Surgiram então, os invertebrados multicelulares dentre eles medusas, em seguida trilobites, caracóis e estrela-do-mar, além disso, desenvolveram plantas tais como as algas verdes, todos os seres vivos desse momento habitavam ambientes marinhos.
Os animais terrestres tiveram sua origem a partir do momento que algumas espécies de peixes saíram da água dando origem aos anfíbios e posteriormente aos répteis, aves e mamíferos. Há aproximadamente quatro milhões de anos surgiram os ancestrais dos seres humanos. Esse mesmo homem que hoje domina o Planeta cuidou de desenvolver as teorias que explicam a complexidade da vida inserida no ambiente que lhe é favorável. A esse ambiente que compreende desde o fundo dos oceanos até alguns quilômetros acima da superfície da Terra, ambiente que abriga a totalidade dos seres vivos, o homem denominou Biosfera.
Em 1980 ao custo de US $ 150 milhões desembolsado pelo magnata do petróleo do Texas, Edward Bass, foi iniciada a construção da Biosfera II, concebida como uma réplica hermética do ambiente da Terra (Biosfera I). São 72 milhões de pés cúbicos de ar aprisionados em uma estrutura geodésica a qual contém cinco biomas, abrangendo um “oceano” com 3,4 milhões de litros, uma floresta tropical, um deserto, áreas agrícolas e um habitat humano, isso tudo incluindo plantas, animais e variados seres que normalmente habitam esses ambientes, como as bactérias, fungos e outros microorganismos.
A idéia foi sugerida pelos primeiros designers e gestores interessados em viagens espaciais e na possibilidade de colonizar a Lua ou Marte. Ao construir a Biosfera II e isolarem pessoas no interior, esperavam entender os problemas que surgem da vida em um sistema fechado. Foi assim que em 1991, um grupo de oito pessoas, voluntárias de várias partes do Planeta, se dispuseram a viver dentro daquela “Terra” por dois anos.
As pessoas que foram selecionadas para serem biosferianos e viver dentro da Biosfera II, durante dois anos de encerramento vieram de sete países diferentes. Todos com habilidades diferentes, as quais, segundo se supunha, seriam complementares de tal forma que somadas permitiriam a sobrevivência do grupo sem recursos externos. Fora isso, vários anos de treinamento os tornaram proficientes em seus próprios campos, bem como teriam adquirido conhecimentos sobre as habilidades dos outros.
A primeira “colônia” de biosferianos (4 mulheres e 4 homens) entrou Biosfera II em 26 de setembro de 1991. Os membros da tripulação permaneceram lá dentro dois anos, apesar de vários problemas, incluindo produtividade agrícola limitada, acúmulo de dióxido de carbono e proliferação de formigas. Sua permanência encerrou-se em 26 de setembro de 1993. Depois de um período de transição de um mês, um segundo grupo de sete biosferianos (5 homens e 2 mulheres) entrou na estrutura geodésica. Infelizmente, após uma série de problemas sociais e físicos desenvolvidos, o projeto logo sofreu o desdém científico e ridicularização pública de gente sem noção antes que os experimentos fossem suspensos em 1994. Desde então, não há grupos residentes que vivam no interior da Biosfera II, e nenhum ser humano deverá habitá-la num futuro planejado.
O que se depreende desse experimento, fora os ganhos decorrentes das descobertas em virtude do confinamento de seres humanos, é que deu certo apesar das opiniões azedas de muitos cientistas e da mídia afirmarem o contrário. Deu certo, não somente porque os voluntários tenham sobrevivido durante dois anos; não somente porque hoje o projeto desativado deu lugar a um campo experimental de genética e lugar de cursos e conferências sobre novos ramos da ciência. Deu certo porque mostrou aos homens que não é só reproduzir as condições ambientais do planeta que, imediatamente, tudo passa a funcionar como a natureza o faz. Deu certo porque a ciência descobriu que apesar de todas as coisas estarem nos seus lugares, havia um fator que foi negligenciado e era basilar, compulsório mesmo, para se reproduzir as condições exatas do Planeta. Esse fator se chama TEMPO. A Terra levou bilhões de anos para atingir o equilíbrio que conhecemos, e não será em meros dois anos que vamos criar um ambiente que terá condições de suportar vida humana com o mínimo necessário para sustentar um organismo tão complexo e suas não menos complexas interações como o meio que o cerca. Talvez não sejamos o organismo mais requintado do Planeta, mas a natureza só permitiu que surgíssemos depois que a evolução tivesse atingido um nível no qual pudéssemos viver sem necessidades maiores que aquelas disponíveis no Planeta. Como exercício mental, arrisco dizer que se o experimento fosse conduzido sem tempo determinado para seu término, dentro de alguns milhares de anos talvez, aí sim teríamos uma Biosfera II perfeitamente equilibrada abrigando alguma variedade humana e de outros seres que evoluíram naquelas condições. Ilhas isoladas como Galápagos e Austrália provam que se houver tempo suficiente, espécies novas podem se desenvolver. Como sempre, o apressadinho Homo sapiens não previu essa possibilidade e tentou queimar etapas, e a caríssima e promissora experiência que se propunha a provar certas teorias acabou indo, como a proverbial vaca, para o brejo. JAIR, Floripa, 28/02/11.
4 comentários:
- O valor de uma experiência científica não está nas respostas que fornece, mas nas perguntas que suscita.
- Abraços.
Que eu saiba, o que fizeram foi misturar os ingredientes que se usa para fazer um bolo. Só que conheciam os ingredientes mas não as medidas e proporções exatas de cada um, pois o "chef" não revelou este segredo!
Parece que houve também problemas de relacionamento, outra coisa muito complicada!
De qualquer forma, eu achei interessante a tentativa!
E melhor ainda a sua análise sobre este experimento!
Abraços, Jair!
Gostei, pouca gente está ligada nessa experiência. Quando eu for para os EUA de novo vou passar pelo Colorado para ver esse projeto, sei que vale a pena.
Muito estimado Jair,
primeiro, uma vez mais obrigado por tua manifesta parceria intelectual autorizando que traga a cerca de meu 120 leitores diários, de vez em vez, teus textos que muito me agradam.
Manter já há quase cinco anos um blogue diário só é possível quando me valho de textos de outros intelectuais como tu.
O texto de hoje deve se constituir em uma preciosidade para nossos leitores.
Com gratidão
Attico Chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br
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