Monólito, do dicionário: Obra, monumento ou bloco natural formado de uma pedra só. O Pão de Açúcar no Rio de Janeiro é um exemplo típico de monólito, neste caso, um bloco único de granito. O Uluru é um monólito, tem 338 metros de altura, três quilômetros de extensão e, segundo os geólogos, mais dois mil e quinhentos metros sob a terra, o que o torna o segundo monólito do planeta em tamanho, o primeiro chama-se Monte Augustus, e também se situa na Austrália. Esse colossal monólito é constituído de arenito. Arenitos são rochas sedimentares (formadas por sedimentos que se depositam, geralmente no fundo de um lago) constituídas por areias aglutinadas por um cimento natural, que geralmente caracteriza a rocha, ou seja, trata-se de rochas feitas de areia, daí o nome. O Uluru situa-se no centro norte da Austrália e é o local mais reverenciado pelos aborígines. As cavernas ao redor de Uluru abrigam pinturas sagradas que mostram “The dreaming”, o tempo mágico do conceito aborígine da criação, quando o universo passou a existir. Para os aborígines Anangu, tribo que vive no Parque Nacional Kata Tjuta no qual está situado o monólito, Uluru é um ser vivo que abriga dezenas de seres ancestrais que ainda vivem em lugares especiais nas cavernas e reentrâncias da pedra. Suas atividades são registradas em alguns locais da rocha e muitas das histórias são sagradas e cobertas de segredos. Em 1980 o parlamento australiano “reconheceu” a posse da pedra, que os brancos chamam de Ayers Rock, e do parque aos Anangus, ainda que estes vivessem ali há milhares de anos, e estes o arrendaram ao estado Australiano por 99 anos. Os turistas que visitam o monólito normalmente têm a finalidade de escalar suas vertentes, mas os nativos não enxergam com bons olhos essa atividade, pois lhes parece uma profanação de local tão sagrado e importante para sua cultura. Os Anangu não escalam o bloco rochoso e limitam-se a solicitar aos visitantes que os respeitem, e às suas leis tradicionais. Proibir não faz parte da sua cultura, de forma que pedem, apenas. Apesar dos apelos, quase sempre há inúmeros turistas, como a carreiras de formigas, subindo e descendo o monólito, se lixando para os pedidos dos legítimos proprietários do lugar. O que torna a pedra de uma beleza rara é sua capacidade de refletir cores de acordo com a posição do sol. Sua composição arenítica contém o mineral feldspato e este lhe confere tons de magenta, laranja, vermelho, amarelo e amarronzado de acordo com a reflexão solar, é um espetáculo magnífico apreciar suas mudanças de brilhos, sombras e cores, texturas e formato aparente. Bem, esse maravilhoso monumento está solidamente fincado na paisagem do Out Back desde trezentos milhões de anos e só nos últimos quarenta anos já sofreu mais danos que todos os desgastes naturais do sol, da chuva e dos ventos infringidos durante o resto do tempo. Os visitantes costumam tirar lascas da pedra para levar como souvenir. É de se pensar se o homem, esse maldito dilapidador, não está no mundo apenas para isso: transformar o perene em transitório; estragar em dias o que a natureza levou milhões de anos para construir; destruir tudo e todos de forma a tornar o planeta inabitável em pouco tempo. Esperemos que não! Façamos votos que venha aí uma geração de pessoas conscientes da fragilidade do equilíbrio natural existente entre os seres vivos, - entre eles o homo sapiens, é claro – e o ambiente que os cerca. A harmonia do planeta está em nossas mãos, seremos os agentes de sua destruição ou de sua preservação, depende de nós. JAIR, Floripa, 01/04/09.
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Um comentário:
Caro Jair,
Vamos lá. Eu escalei o Uluru.
Isto foi há uns 15 anos.
Hoje portador de um útil distanciamento histórico poderia refletir sobre o que fiz e concluir que, realmente, foi um abuso desgastar com meus passos esta pedra adorada pelo povo aborígene. Talvez mais do que a agressão física, o que de mais errado fiz foi abusar de um templo sagrado para os aborígenes.
No entanto fazendo um análise interior ainda tenho contentamento quando lembro do fato. O explicação é: Gosto de escalar, gosto de estar em contato com montanha, mato, deserto, elementos naturais em geral. Não deixa de ser algo egoísta fazer algo para mera satisfação própria? Talvez. Mas em minha defesa tenho a dizer que como ateu, distante de qualquer religiosidade e espiritualidade convencional ou não, quando estou no topo de uma montanha ou no interior de uma floresta sinto uma tranquillidade, "uma paz de espírito", uma sincronia com o universo que não encontro em qualquer outro lugar. Ter subido o Uluru pode ter sido condenável, mas talvez, só talvez, os aborígenes me perdoassem por ali naquele momento e só naquele momento eu me colocar numa posição de adoração a algo metafísico como eles mesmos ali fazem a milhares de anos.
Augusto
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